Será que vai haver conciliação?

Hugo Gonçalves – Jornalista (SRTE/BA 4507)

Salvador, 18 de junho de 2020


Fábio Faria já empossado no ressuscitado Ministério das Comunicações, nesta quarta-feira (17): bom trânsito no Congresso
Sérgio Lima/Poder360


Deputado federal em quarto mandato, Fábio Faria, até então um desconhecido em nível nacional, tomou posse, ontem, como titular do novo Ministério das Comunicações, que havia sido extinto há pouco mais de quatro anos. Caberá ao jovem empresário potiguar, notabilizado pela sua conduta conciliatória, a complexa tarefa de gerir e fiscalizar as atividades vinculadas aos serviços comunicacionais no Brasil.

Faria, cuja nomeação recebeu elogios amistosos do seu colega e presidente da Câmara, o democrata Rodrigo Maia – um dos chefes de poder que prestigiaram a solenidade de posse –, como sabemos, possui razoável trânsito no Parlamento, dimensão com a qual mantém diálogo, do qual se licenciou para assumir o agora refundado Ministério.

Embora a legenda à qual ele pertence (o PSD) integre o Centrão, famoso por suas articulações fisiológicas no Congresso e em todos os governos pós-redemocratização – o velho “toma lá, dá cá” –, Faria teve sua escolha corroborada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, cuja face da sua gestão, por tão impopular que seja, vem sendo estigmatizada por hostilidades contra as demais esferas de poder, bem como a disseminação das fake news, vindas de boa parte de seus entusiastas.

Aliado a isso, é lógico, persistem as constantes ofensivas aos irrevogáveis princípios da liberdade de imprensa e de expressão, consagrados e sistematizados na nossa atual Carta Magna, através da qual o Estado Democrático de Direito exerce supremo domínio.

Por que renegar esses fatores precípuos na construção de uma sociedade solidamente democrática, o que nos faz vislumbrar uma página obscura de nossa História, que por vezes é mal contada? Não faz sentido hoje em dia esse simulacro de ditadura, em que o império libertário prossegue triunfando em plenitude sobre a tenebrosa aura do autoritarismo.

O organograma da pasta recém-ressuscitada, oriunda do desmembramento de um Ministério de múltiplas atribuições – o da Ciência, Tecnologia e Inovações, capitaneado pelo ex-astronauta e militar da reserva Marcos Pontes –, além de trazer de volta a Anatel, os Correios, a Embratel e a Telebrás, veio a incorporar ainda a estrutura da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência, que era comandada por outro Fábio, o Wajngarten. Esse, por sinal, converteu-se em número 2 do xará.

Ao aglutinar as atribuições herdadas de Wajngarten, inclusive a estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Faria também estará incumbido de zelar por todo o aparato midiático governamental. Uma máquina de recursos alimentadores do panorama da mídia brasileira, de preferência veículos e conglomerados explicitamente apoiados pelo Planalto.

Em seu discurso de posse, o titular da nova pasta das Comunicações prometeu, entre outras ações futuras, expandir a transmissão do sinal da internet por banda larga pelo País, que, apesar de sua tímida velocidade ser alvo de reclamações sistemáticas pela maioria dos consumidores (como vem acontecendo com outros serviços aqui prestados), vem se popularizando entre os estratos inferiores da nossa sociedade.

Como o fato de ser genro de um dos influentes magnatas do ramo midiático brasileiro – que também é amigo e simpatizante bolsonarista – pesou na decisão pessoal do presidente, a presença de Fábio Faria no Congresso, e agora na Esplanada, é uma das evidências históricas de que comunicação e política sempre estão lado a lado em nossa Pátria, como se fossem “irmãs siamesas”. Aliás, ele figura no quadro societário de uma rádio que opera no interior de seu estado, o Rio Grande do Norte.

Uma vez que os três poderes regentes da Nação, constitucionalmente independentes e harmônicos entre si, vêm enfrentando ataques recíprocos por parte deles, esperamos que Faria, na qualidade de ministro, seja capaz de apagar o incêndio que vem interferindo nas mais altas decisões deles emanadas. E que esses atritos e tensões, que estamos acostumados a testemunhar em nosso turbulento noticiário político, sejam aliviados, nos bastidores do Planalto, por alguém de espírito pacificador.

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