Galeria 5 do Museu da Misericórdia: Farmácia e réplica da Roda dos Expostos
Fotos: Hugo Gonçalves, captadas em 20 de maio de 2017, durante a Semana dos Museus
Matéria atualizada em 19 de julho de 2020, às 18h27
Introdução
Dando continuidade à nossa série sobre o Museu da Misericórdia, este jornalista vem a publicar, exatamente nesta segunda-feira (29), esta quinta – e antepenúltima – galeria. Nela estão disponibilizados os registros fotográficos de uma das maiores dependências do espaço cultural, localizado na Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador: o salão da Farmácia, que inclui ainda uma réplica da Roda dos Expostos.
Como nas publicações anteriores da série semanal, as subdivisões desta presente galeria são introduzidas por textos sucintos, elucidando os atributos de cada dependência investigada.
Neste período de quarentena, este jornalista e responsável pelas imagens abaixo aproveita a oportunidade para que todos os leitores deste blog apreciem em casa mais esta galeria virtual, bem como as últimas, a serem publicadas aqui nas próximas segundas-feiras, 6 e 13 de julho.
1. Farmácia
Instalado no segundo pavimento do palacete que sedia o Museu, o salão da Farmácia expõe antigos recipientes de medicamentos e substâncias medicinais – em sua maioria armazenados em um magnífico armário talhado em madeira nobre, datado de 1867 –, equipamentos de laboratório, a exemplo do microscópio, da balança de precisão e dos tubos de ensaio, e artefatos congêneres.
Além disso, o salão inclui uma réplica da Roda dos Expostos (leia mais no final desta galeria), empregada durante séculos pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia com o objetivo de prover amparo aos órfãos. Pinturas e fotos antigas, como a que documenta a primeira transfusão de sangue praticada no estado, em 1915, complementam as instalações do ambiente.
1.1. Aspectos do armário da Farmácia
Vista frontal do armário, com a pintura da Rainha Leonor de Portugal (idealizadora das Santas Casas) à direita
Vista lateral do armário
1.2. Ânforas
Segundo explicação da placa informativa, as antigas ânforas, de origem grega, eram utilizadas nas farmácias da época para armazenar substâncias medicinais. De formato ovoide, as ânforas eram confeccionadas em terracota, até o século XIX.
Essas preciosas peças, que se encontram em exposição no salão da Farmácia do Museu da Misericórdia, foram fabricadas pela empresa francesa Sèvres, fundada em 1738.
1.3. Equipamentos de laboratório
Tubos de ensaio e fios de sutura (fabricados em São Paulo, em 1953, à esquerda) e caixa de seringa (presenteada pelo enfermeiro Hermógenes de Moraes ao Dr. Silva Ferreira, em 1911, à direita)
Tubos e misturadores para manipulação
1.4. Obras de arte
Pintura da Rainha Leonor
Em formato de losango, o quadro apresenta uma ilustração colorida da Rainha Leonor de Portugal, tendo à sua direita a fachada do Hospital Santa Izabel, unidade médica da Santa Casa da Bahia, inaugurada em 1893, após longos anos de construção. A pintura foi executada pelo artista plástico baiano Chico Mazzoni, em 1999.
Foi a Rainha Leonor – viúva do Rei D. João II – que, através de sua generosidade e missão assistencial, estabeleceu, em 1498, a pioneira das Santas Casas, em Lisboa, difundindo a ideia de que a misericórdia deve assistir aos enfermos a qualquer tempo.
Por iniciativa dos conquistadores lusitanos, a ação visionária da monarca, imbuída de caridade e benevolência, foi replicada para suas então colônias, inclusive o Brasil. Assim, a Santa Casa de Misericórdia chegou a Salvador, juntamente com a fundação da cidade, em 1549.
Pintura de Antônio de Lacerda
Além de ser notabilizado pela idealização do Elevador Hidráulico da Conceição – hoje batizado com seu sobrenome –, entre outras contribuições significativas no sistema de transporte urbano de Salvador na segunda metade do século XIX, o engenheiro Antônio Francisco de Lacerda (1834-1885) atuou, entre 1871 e 1881, como mordomo do Asilo de Nossa Senhora da Misericórdia, atual Pupileira, em Nazaré.
1.5. Fotografias em preto e branco, ampliadas
Primeira transfusão de sangue realizada na Bahia, em 2 de outubro de 1915, no Hospital Santa Izabel
Pacientes internados no atual salão da Farmácia
2. Roda dos Expostos
Com o intuito de minimizar o sofrimento das crianças desamparadas nas ruas e vielas da cidade de Salvador em função de uma epidemia de peste, que acometeu a então capital do Brasil em 1734, a Santa Casa da Bahia trouxe um mecanismo assistencial que já vinha sido largamente utilizado em Portugal.
Denominado Roda – aqui conhecida como Roda dos Expostos –, consistiu em um dispositivo giratório confeccionado em madeira, colocado na parede externa do palacete da Misericórdia, que assegurou o sigilo das pessoas que, por razões diversas, tinham que abandonar a criança.
“Através dos registros diários, feitos pelas irmãs de caridade da Santa Casa, sabemos que eram deixadas em média 600 a 700 crianças por ano na Roda”, afirma a placa informativa situada à direita da réplica em exposição do dispositivo, cuja utilização perdurou até 1935.
Essas centenas de órfãos da Roda dos Expostos foram criadas e educadas pela instituição, a princípio em sua antiga sede, onde atualmente abriga o Museu. A partir de 1833, mudaram-se para o Recolhimento do Santo Nome de Jesus, instalado em prédio vizinho, posteriormente demolido.
Finalmente, em 1862, as crianças foram relocadas para o Asilo de Nossa Senhora da Misericórdia, em Nazaré, hoje conhecido como Pupileira, onde ainda funciona um dos sete Centros de Educação Infantil (CEIs) mantidos pela Santa Casa. As outras seis unidades, que oferecem serviços de educação e assistência social em tempo integral, estão situadas em diversos pontos do Bairro da Paz.
Continua na próxima galeria, disponível em 6 de julho.
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