Curso virtual de Libras é aberto para profissionais de saúde da Bahia
Ministrada desde 2018, iniciativa pedagógica oferecida pelo governo do estado passa, em função da pandemia, a se adequar à modalidade EAD, chegando à sua quinta turma para o aprendizado básico da língua de sinais
Texto:
Hugo Gonçalves – Jornalista (SRTE/BA 4507)
Salvador,
18 de setembro de 2020
Matéria atualizada em 20 de setembro de 2020, às 16h37
A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), através da Escola de Saúde Pública da Bahia Professor Jorge Novis (Espba), está promovendo o Curso de Libras para Trabalhadores da Saúde em Tempos de Pandemia, cuja abertura virtual ocorreu na tarde desta quarta-feira (16), em transmissão pelo canal da instituição no YouTube. Implantado há dois anos sob regime presencial, o processo formativo de noções básicas de língua brasileira de sinais (Libras), que agora migra para a modalidade de educação a distância (EAD), chega à sua quinta turma.
Segundo a psicóloga bilíngue e professora de Libras, Dra. Márcia Araújo, a ação tem como objetivo oportunizar aos alunos o acolhimento no atendimento da comunidade surda na rede pública de saúde, e de um total de 100 inscritos, apenas 50 integram inicialmente a turma recém-constituída. Esse recorte contempla 47 mulheres e 3 homens, pertencentes a diferentes categorias profissionais – enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, técnicos em saúde bucal e agentes comunitários de saúde.
“A carência e a falta de acessibilidade da pessoa surda no Sistema Único de Saúde (SUS) não têm sido integrais, porque nós precisamos de várias categorias, aprendendo a se relacionar, a conhecer e a se comunicar, para que a barreira comunicacional seja quebrada”, explicou Márcia, responsável pela ministração do curso virtual, acrescentando que a abrangência maior das disciplinas foi um fator de suma importância que favoreceu sua capilarização para todo o estado.
“Você vê que nós temos alunos em (Santa Cruz) Cabrália, Paramirim, Jequié, Miguel Calmon, Lauro de Freitas, Feira de Santana e Salvador. Observo que a maior parte é em Salvador. E isso é muito importante para a comunidade surda, porque você vai dar a acessibilidade e quebrar a barreira comunicacional, respeitando a Lei Brasileira de Inclusão (da Pessoa com Deficiência, a Lei nº 13.146/2015, mais conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência)”, justificou.
Após desejar boas-vindas aos participantes, Márcia teve a honra de convidar a diretora da Espba, Dra. Marília Fontoura, para dar continuidade à abertura das atividades do curso. “É importante não só para os sete municípios que estão envolvidos neste curso, mas para vocês pessoalmente, porque é uma competência que vai agregar ao currículo de vocês. Mas, principalmente, vocês vão poder colaborar para a gente ter uma atitude mais inclusiva nos serviços de saúde nos espaços onde vocês trabalham”, declarou Marília.
Ela prosseguiu sua fala ressaltando que “trabalhar com Libras é uma competência que agrega valor às pessoas e qualifica os serviços de saúde, além de promover a inclusão. Ao mesmo tempo que a gente parabeniza, a gente agradece a cada um de vocês por ter se inscrito nesse curso”.
As atividades educacionais já estão sendo oferecidas desde 2018, quando três turmas presenciais foram abertas. No ano passado, ainda presencialmente, uma turma se formou e agora, neste ano, mais uma já está sendo realizada. “A gente só tem a agradecer e esperar que vocês possam, inclusive, essas 100 pessoas, além de favorecer um atendimento mais humanizado e a inclusão dessas pessoas com deficiência auditiva, e que também vocês possam incentivar os outros a fazerem esse curso”, completou a diretora da Espba.
Titular da Superintendência de Recursos Humanos da Saúde (Superh) da Sesab, à qual a Espba está subordinada na condição de diretoria, a Dra. Janaína Peralta saudou a todos os inscritos e participantes do curso virtual de Libras. “(Quanto) à capilaridade, muitos inscritos e todo o interior da Bahia – fico feliz que vocês estejam conosco neste curso –, já tivemos alguns agora na época de pandemia, cada vez mais a Escola se preparando e se readaptando a esse novo normal”, discursou, otimista.
Na observação
de Janaína, a modalidade EAD se trata de “um caminho sem volta”, pelo fato de ela
ser capaz de alcançar vários municípios baianos – que às vezes são distantes –,
e agora está conseguindo participar de eventos e cursos na Espba. Ela encerrou
sua fala desejando um bom curso para os participantes, com a expectativa de que
eles consigam levar para as suas respectivas áreas de trabalho todos os
conteúdos a serem aprendidos na iniciativa.
Modalidade desafiadora
Uma das referências em educação a distância na Escola de Saúde Pública, a docente, enfermeira, mestre e especialista na área, Dra. Miralva Ferraz, disse que, embora os profissionais de saúde exerçam múltiplas atribuições durante a pandemia do novo coronavírus, o fato de eles estarem inscritos na EAD é um fator primordial para que o curso realmente aconteça de forma efetiva. “Que vocês aprendam realmente e que vocês atinjam o propósito que o curso pretende alcançar. É que vocês acolham a esses usuários surdos nas instituições”, esperou.
Miralva salientou ainda que o curso de Libras se tornou um desafio, porque nestes tempos a Espba teve que se reinventar. “Agora a gente tem mais um desafio, que a gente teve o zelo, o cuidado, de realmente pensar nessa modalidade, mas dentro do contexto da educação a distância. O que a gente percebe é que, apesar de a educação a distância ser antiga, ela não teve na verdade o devido cuidado, e aí não aconteceu o preparo das instituições e dos professores ao longo do tempo. O que a gente viu foi realmente determinar os ajustes em todos os níveis educacionais”, comentou.
Ainda de acordo com a especialista em EAD, quando o curso online foi planejado, a Escola se preocupou em manter a qualidade pedagógica oferecida pela instituição, privilegiando o cuidado em construí-lo e implementá-lo. Portanto, a equipe de EAD concebeu o curso, inserindo todo seu desenho metodológico no âmbito da modalidade, com foco na interação e na mediação pedagógica, e preparando o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) na plataforma Moodle.
Conforme Miralva Ferraz, a educação a distância consiste em uma modalidade desafiadora porque, além de não ser fácil, tem como característica precípua a flexibilidade, na qual o (a) aluno (a) poderá estudar no dia e no horário que forem mais convenientes. “Vocês vão precisar interagir, porque a gente sabe que a interação é primordial para que a gente aprenda. Nós somos sujeitos eminentemente sociais, e é dentro dessa troca, desse contexto sociocultural, que as aprendizagens são potencializadas”, sinalizou.
A fim de propiciar a interação com os alunos, a especialista elucidou a necessidade de o (a) professor (a) desempenhar o papel de mediador (a). Nessa perspectiva, ele (a) cria “pistas” e estabelece situações para que os discentes descubram no material que a professora Márcia preparou criteriosamente para as aulas, no conteúdo que servirá de subsídio teórico, nas leituras e nos debates através do fórum.
“A gente percebe que tem toda uma base e fundamento que são próprios da educação a distância – interação e mediação –, dentro de atividades que foram estruturadas especificamente para que vocês possam trabalhar dentro do ambiente virtual”, ponderou Miralva.
O que
se espera de um (a) discente da EAD, segundo ela, é que tenha autonomia no
sentido de se responsabilizar pela construção de suas aprendizagens. “No
lugar de discente, vocês precisam definir o dia e o horário que vocês acham que
sejam mais adequados para que possam fazer as leituras, participar dos
fóruns e interagir. Isso, gente, é uma palavrinha mágica que a gente precisa
estabelecer dentro desse nosso compromisso: disciplina. EAD é igual a
disciplina”, reforçou, vislumbrando mais um detalhe essencial do curso, o
cumprimento obrigatório da carga horária mínima.
Inclusão em mais um processo
Antes de inaugurar de fato as atividades do curso virtual de Libras, Márcia Araújo afirmou que realizar a adequação, durante o período de emergência em saúde pública ocasionada pela Covid-19, da ação pedagógica com vocação para os (as) profissionais da saúde pública foi um desafio. Em seguida, a psicóloga e docente fez alguns agradecimentos rápidos, “porque, sem o apoio da Escola e da professora Miralva, esse curso não teria sido possível”.
Para Márcia, o curso com noções básicas de língua de sinais representa a inclusão em mais um processo formativo da Espba, buscando atender e cumprir o mais importante princípio do SUS, que é a equidade. “Nós estamos, como profissionais de saúde, tanto eu quanto meus alunos, neste momento cumprindo uma de nossas funções, como funcionários públicos e profissionais de saúde”, comprometeu-se.
Ela também acrescentou que as diretrizes político-pedagógicas da iniciativa a consideram como um princípio educativo, com ênfase para a articulação da teoria com a prática e a educação permanente como estratégia que permite integrar a formação e a qualificação para o trabalho. Desse modo, o curso trata-se de uma ação formativa direcionada ao aprimoramento do atendimento nas unidades de saúde do estado da Bahia.
“Esperamos realmente que as reflexões suscitadas pela leitura e participação no AVA possibilitem que os alunos, os nossos discentes, consigam relacionar os conteúdos em discussão às práticas de trabalho, e que com esse processo formativo vocês podem fazer mudanças no olhar acerca da surdez, e das diferenças culturais e linguísticas”, prognosticou Márcia.
Quanto às aulas, que acumulam 40 horas, haverá dois encontros por semana – às segundas e quartas-feiras, quando a psicóloga bilíngue e docente estará no ambiente virtual para interagir com os alunos. “Juntos e juntas vamos construir coletivamente nossos saberes e nossos sabores. Nos encontramos no AVA, e vocês já vão receber os alunos, através da (equipe de) TI (Tecnologia da Informação), o link para acessar o ambiente virtual. Abraços sinalizados!”, finalizou.
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