É fogo compressor sobre nosso verde

Hugo Gonçalves – Jornalista (SRTE/BA 4507)

Salvador, 16 de agosto de 2020

Atualizado em 17 de agosto de 2020, às 12h43


Focos de incêndio são frequentes na Amazônia e no Pantanal, nos meses mais secos
Reprodução/IBGE


Os incêndios vêm corroendo infinitos hectares de alguns biomas brasileiros, como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, responsáveis por abrigar a nossa incrível e abundante biodiversidade, a maior do planeta. Além de exterminar partes apreciáveis da vegetação original, o fogo produzido sobre ela faz com que animais e humanos sintam dificuldade em respirar o mais puro oxigênio proveniente da atmosfera.

Graças à ação antrópica (intervenção do homem), novos focos de incêndio se multiplicam, especialmente nos meses em que os índices pluviométricos são irrisórios ou nulos. Portanto, a falta de chuvas – comum entre julho e agosto nas regiões Norte e Centro-Oeste – abre terreno para a formação de queimadas, viabilizando a exploração econômica com ênfase para a atividade agropecuária, recorrente nas áreas devastadas.

Especuladores se utilizam desses espaços vazios para implantar incontáveis propriedades agrícolas e abrir pastagens, o que para eles é visto como um negócio rentável. Quanto à divina, preciosa e genuína dádiva que conhecemos por natureza, porém, ela realmente só tem a perder. Há, então, um nítido descompasso entre as esferas econômica e ambiental, que em combinação com o social se constituem o tripé da sustentabilidade.

Não apenas espécies da fauna e flora nativas desaparecem subitamente com a escalada em progressão geométrica das queimadas, como observamos há décadas na Amazônia – maior floresta tropical do mundo – e na planície do Pantanal, por exemplo. As pessoas que habitam e convivem harmoniosamente nesses biomas, incluindo os povos indígenas, também estão na mira das atrocidades.

Além de sentirem na pele os impactos da pandemia, os índios são vulneráveis à tamanha voracidade do fogo por viverem confinados não apenas nas florestas em que são considerados os legítimos guardiões, como também em outros biomas, agravando suas já frágeis condições biológicas e sanitárias e levando-os a óbito.

Como estamos testemunhando um cenário tão crítico, no qual a maior tragédia de saúde pública está hostilizando nossa bendita humanidade – com milhares de vidas liquidadas pela Covid-19 –, os incêndios florestais contribuem para acentuar progressiva e agressivamente a crise pandêmica, que exerce ingerência em todos os demais segmentos da sociedade planetária.

Que novos focos de queimadas, um antigo problema ambiental, não surjam sobre o verde que cobre o nosso incomensurável território continental. Pois é, encaramos uma missão quase impossível de proteger, desde agora, nossos biomas para a posteridade. Só assim temos, com absoluto amor à Mãe Natureza, que inibir a destruição de exemplares zoológicos e botânicos elencados em cada santuário ecológico.


P. S.: Este artigo é a postagem de número 1.000 deste blog, que a partir desta data tem o seu lema alterado para: Desde 2009 disseminando informação e opinião a serviço do cidadão com conteúdo autoral.

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