Povos massacrados pelo contágio
Hugo Gonçalves – Jornalista (SRTE/BA 4507)
Salvador, 10 de julho de 2020
Atualizado em 11 de julho de 2020, às 17h10
É óbvio que o já parco contingente dos primeiros habitantes da terra brasilis sente nas suas peles rubras os acentuados impactos da atual pandemia – de fato, somos o segundo país do mundo nesse quesito alarmante –, inexoravelmente trazidos por sujeitos alheios ao seu habitat natural. Logo, a expansão voraz da Covid-19 para as tribos indígenas ameaça a sua harmoniosa convivência com o meio ambiente, do qual são consideradas guardiãs, sobretudo das florestas.
A dizimação dos índios por um incalculável número de doenças “importadas”, em geral pelo dominador branco, faz parte da própria história das Américas, principalmente na constituição de sua sociedade. Os colonizadores europeus, servindo em nome da suposta “civilização” para explorar as terras recém-descobertas no Novo Mundo, injetaram nas aldeias nativas diversas enfermidades desconhecidas, resultando no genocídio em massa de milhares de autóctones que ali viviam.
Como os indígenas praticamente se encontram isolados nas matas, sendo circundados por uma profusão de espécies botânicas e animais, o difícil acesso a serviços sanitários de qualidade – hospitais, postos de saúde, médicos, entre outros –, para eles, continua sendo um complexo obstáculo a ser enfrentado. Essa é uma das evidências que expõem os nativos em situação de vulnerabilidade à contaminação pela Covid e por outras patologias que, às vezes, não têm chance de cura.
Temos convicção de que o avanço do novo coronavírus nas aldeias, em sua maioria localizadas na Amazônia, vem fragilizando os hábitos de vida dos peles-vermelhas, transparecidos, em essência, pela originalidade, coletividade, fraternidade entre si e harmonia perpétua com a flora e fauna. Como consequência desse lamentável fenômeno, testemunhamos a extinção de multiplicidades de povos, línguas, costumes e rituais primitivos e demais elementos que lhes são peculiares.
Em conjunção com o contágio que vem sendo irradiado sem nenhum controle em suas terras, o modesto quantitativo de índios no Brasil também sofre com o progresso acelerado dos garimpos e da extração vegetal (com ênfase para a madeireira), atividades geralmente ilícitas nas quais a fiscalização do poder público, com frequência, não se faz presente.
Além disso, devastar hectares de mata nativa para o cultivo de commodities agrícolas – ou visando à abertura de pastagens de gado –, agrava ainda mais o já problemático e hostil quadro ambiental na maior floresta tropical do planeta, com péssimos reflexos para os seus eternos defensores.
Nossa preocupação no que tange aos indígenas brasileiros é com a preservação da sua vida, para impedir que uma provável nova onda de Covid os deixe massacrar. Assim, remanescentes de tupis, guaranis, xavantes, tapuias, pataxós, yanomamis e de outras populações autóctones espalhadas por este imenso País – que eles, outrora, chamavam Pindorama –, poderão, em um futuro embora incerto, contemplar dias melhores, conciliando boa saúde e desenvolvimento sustentável.
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