Entrada no mercado de trabalho ainda é desafio para mulheres negras latinas
Data
celebrada em 25 de julho visa ao fortalecimento das lutas da população feminina afrodescendente na América Latina e no Caribe, entre elas a busca por atividades formais
Com
informações do perfil da
Assibge-Sindicato Nacional no Instagram (@assibgesn), da cartilha Fim da desigualdade salarial entre homens e
mulheres: trabalho igual, salário igual (2019), do mandato da deputada federal Fernanda Melchionna (Psol-RS) e da
Agência
IBGE de Notícias
Matéria atualizada em 3 de agosto de 2020, às 22h34
Comemorado anualmente em 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha tem como objetivos primordiais fortalecer a representatividade da população feminina afrodescendente na região e potencializar seus vínculos, adquirindo maior visibilidade às suas lutas e pressionando a esfera pública ao tentarem conquistar um lugar pelos seus direitos. Entre eles está o longo desafio de ingressarem no mercado de trabalho formal.
A efeméride, que neste ano foi celebrada neste sábado, teve sua gênese em julho de 1992, por ocasião do Primeiro Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, promovido em Santo Domingo, capital da República Dominicana. No Brasil, onde a data também homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, foi oficialmente instituída pela Lei nº 12.987, de 2014.
Embora os negros – contingente resultante da soma das populações preta e parda – representem mais da metade do total dos habitantes do País, 39,8% das mulheres enquadradas nessa classificação de cor ou raça estão submetidas ao trabalho precário, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, elas exercem predominância nas atividades domésticas; porém, em boa parte dos serviços considerados essenciais, ainda pertencem a um modesto quantitativo.
Com o avanço da pandemia de Covid-19, o impacto se tornou cada vez mais acentuado entre as afrodescendentes da América Latina e do Caribe, incluindo as brasileiras, tornando-as vulneráveis à transmissão da doença pelo novo coronavírus, principalmente em áreas periféricas urbanas. Diante desse contexto, a informalidade aumentou, colocando milhares de mulheres – em sua maioria negras – em situação de falta de renda, além de não garantirem o acesso à previdência.
Duplamente discriminadas
As mulheres, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2019, são as que menos participam do mercado de trabalho no Brasil, apesar de constituírem mais da metade da população em idade de trabalhar (52,4%). Em comparação com os homens, que ganham R$ 2.308 – valor acima da média nacional –, elas recebem rendimentos equivalentes a R$ 1.895, ainda segundo o levantamento anual do IBGE.
Levando-se em consideração o conjunto da população negra feminina, sua dupla discriminação estrutural – por sexo e cor da pele – é um fenômeno que torna mais evidente o cenário de desigualdade socioeconômica no País. Esse dramático obstáculo, herdado da escravidão e do patriarcado aqui persistentes durante séculos, se explica, entre outros fatores, pela renda mensal – as mulheres brancas recebem salários 70,5% maiores do que as pretas, e 67,3% a mais do que as pardas.
Uma mulher negra com nível superior completo ganha 43% do salário de um homem branco, conforme apontou o estudo O desafio da inclusão, elaborado pelo Instituto Locomotiva com base em dados da Pnad Contínua. Para ilustrar esse abismo desigual, a pesquisa revelou que o rendimento médio de um homem branco que já concluiu o ensino superior equivale a R$ 6.702, ao passo que uma mulher negra com o mesmo nível de instrução recebe salário médio de R$ 2.918.
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