Cresce consumo de alimentos doces na pandemia

Pesquisa conjunta da Fiocruz, UFMG e Unicamp demonstra ainda que ingestão de verduras e legumes diminuiu para 33% durante quarentena

Com informações do Jornal da Tarde, da TV Cultura, e da assessoria de imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Matéria atualizada em 6 de julho de 2020, à 0h26


63% dos adultos entre 18 e 29 anos consomem alimentos calóricos, inclusive chocolates e doces
Reprodução/YouTube/Jornalismo TV Cultura

 

Durante a pandemia, o consumo de doces, chocolates e outros alimentos calóricos aumentou entre os brasileiros, gerando sérias consequências para a saúde. É o que constatou uma pesquisa inédita da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com duas instituições públicas de ensino superior, que investiga os reflexos do isolamento social na vida da população.

Segundo o estudo, realizado em conjunto com as Universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, a ingestão de verduras e legumes em cinco dias ou mais por semana na quarentena recuou de 37% para 33%, terreno fértil para a elevação nos indicadores de consumo de produtos alimentícios com teor nutritivo baixo ou nulo.

A faixa etária que detém os piores índices são os adultos jovens, com idades entre 18 e 29 anos. Desse contingente, apenas 13% têm o hábito de incluir alimentos saudáveis em sua rotina, enquanto 63% ingerem alimentos embutidos, bem como os ricos em açúcar e gordura – chocolates, doces, hambúrgueres e congelados – em dois dias ou mais por semana.

“Nessa faixa etária, ela costuma achar por uma naturalidade, ter mais uma ansiedade, não estarem muito preocupados com a saúde. Então, essa emoção, essa ansiedade, para muitas pessoas, enxerga um desconto na comida, uma forma de prazer que compensa”, opinou a nutricionista Luanna Caramalac, de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em depoimento concedido ao Jornal da Tarde, da TV Cultura.

Já na população de baixa renda, o percentual que ingeriu frutas, legumes e verduras em cinco dias ou mais por semana durante a pandemia corresponde a 16%. No entanto, os indicadores de consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana cresceram nas seguintes categorias – 5% nos embutidos e hambúrgueres, 4% nos congelados, e 6% nos chocolates e doces.


Entre as mulheres, como Lígia, houve aumento de 7% na ingestão de produtos ricos em açúcar
Reprodução/YouTube/Jornalismo TV Cultura


Consumo aumenta 7% entre as mulheres

O estudo também verificou que, em quase mais da metade das mulheres brasileiras, houve um incremento de 7% na ingestão de chocolates e doces em dois dias ou mais por semana, com relação ao período anterior à quarentena.

É o caso da consultora de etiqueta paulista Lígia Marques, em cuja casa as guloseimas à base de açúcar estão cada vez mais presentes durante a pandemia. Até então, ela e sua família, normalmente, não vinham preparando sobremesas todos os dias.

“E agora que eu estou em casa o tempo todo, e meio sem muito o que fazer, a gente acaba vendo pela internet um monte de receitas e vizinhos que oferecem produtos que estão fazendo em casa, aí você se anima e acaba fazendo”, disse.

Coordenada pela professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta, com Célia Landmann, doutora em Saúde Pública pela Fiocruz, e Marilisa Barros, da Unicamp, a pesquisa, cujos resultados foram divulgados em 22 de maio, foi construída a partir de uma amostra com 44.062 entrevistados em todo o Brasil, no período de 24 de abril a 8 de maio.

Incertezas apontam descontrole

As sensações de incerteza provocadas em função da pandemia são um forte indício do descontrole alimentar. O açúcar, por exemplo, pode produzir um sentimento de conforto momentâneo, pelo fato de liberar a serotonina – substância conhecida como o hormônio da felicidade. Porém, seu consumo excessivo pode ser prejudicial, inclusive para pacientes com eventuais casos de Covid-19.

Uma das consequências da ingestão abusiva de alimentos calóricos, a obesidade está entre os fatores de risco para a disseminação da doença respiratória causada pelo novo coronavírus. Para que as pessoas mantenham o peso e a saúde normais, é necessário seguir sempre a boa e velha receita do equilíbrio à mesa.

“A gente precisa saber fazer as nossas exceções. Não é nunca fazer, é preferível às vezes. Comer aquilo que você goste, que te dê prazer, que você vá comer menos, que você vá saciar tanto fisiologicamente do que emocionalmente do que você comer algo que seja mais saudável, mas você vai comer o excesso ou o dobro daquilo”, afirmou Luanna.

O arquiteto de soluções Eduardo Siqueira está aproveitando a quarentena em sua casa, junto com a família, a fim de estimular a prática de bons hábitos alimentares.

“Estou colocando aqui novos alimentos, verduras, legumes, para que eles tenham a noção do que que é e comecem a ter este sabor. É difícil para uma criança, mas estamos conseguindo e bem”, declarou, em entrevista à TV Cultura.

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