Pouco mais de 20% dos jovens abandonaram escola no Brasil, revela IBGE

Necessidade de trabalhar, falta de interesse e gravidez foram principais fatores que levaram 10,1 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos a não completarem seus estudos

Com informações da Agência IBGE de Notícias

Matéria atualizada em 17 de julho de 2020, às 19h46


Índice de evasão escolar entre jovens no País é de 58,3% para homens e 41,7% para mulheres
Marcelo Camargo/Agência Brasil


De um universo de quase 50 milhões de jovens entre 14 e 29 anos no Brasil, cerca de 20,2% não completaram alguma das etapas do ensino básico, tendo como principais motivos a necessidade de trabalhar, a falta de interesse em estudar e a gravidez. Isso equivale a 10,1 milhões, dos quais 58,3% são homens e 41,7%, mulheres. Pelo recorte por cor ou raça, 71,7% dos jovens que desistiram de estudar eram pretos ou pardos, e 27,3%, brancos.

Esses e outros dados inéditos, relacionados ao abandono escolar, integram o módulo Educação, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que objetiva analisar o panorama do setor educacional no País. Seus resultados, referentes ao ano de 2019, foram divulgados nesta quarta-feira (15), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Do total examinado no levantamento, 39,1% dos jovens precisavam trabalhar e 29,2% estavam desinteressados em estudar. Já 9,9% – índice exclusivamente feminino – resolveram sair da escola por causa da gravidez e 9,6% dos entrevistados, por outros motivos. Por fim, 5,2% tinham que se dedicar aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas, 3,7% apresentaram problemas de saúde permanente e 3,2% não possuíam escola na localidade, vaga ou turno desejado.

Metade (50,0%) dos jovens do sexo masculino apontaram a necessidade de trabalhar como fator determinante para terem abandonado a escola ou nunca a terem frequentado. A falta de interesse corresponde a 33,0% dos homens; a inexistência de escola, vaga ou turno desejado na localidade, a 2,7%; e apenas 0,7% deles alegaram afazeres domésticos para evasão escolar.

No entanto, entre as mulheres com 14 a 29 anos, o desinteresse nos estudos foi a principal razão para que elas deixassem de estudar, justificada por 24,1%, estando bem próxima da necessidade de trabalhar e da gravidez, ambas com 23,8%. Em seguida vêm os afazeres domésticos, taxa estimada em 11,5%.

 

Maiores razões alegadas em todas as regiões do Brasil foram necessidade de trabalho e desinteresse
Brisa Gil/Agência IBGE de Notícias


Maioria precisou trabalhar

A necessidade de trabalhar, a priori, foi a principal razão informada por jovens de todas as cinco grandes regiões brasileiras – o Sul (48,3%) e o Centro-Oeste (43,1%) registraram as maiores taxas, ao passo que o menor percentual foi verificado no Nordeste (34,1%). Já o desinteresse em estudar foi o segundo motivo preponderante para o abandono, sempre atingindo cifras superiores a 25%, sendo que o Nordeste lidera esse quesito, com 31,5%.

“Esses dois principais motivos somados alcançam cerca de 70% desses jovens, independentemente da região, e sugerem a necessidade de medidas que incentivem a permanência dos jovens na escola. A taxa de analfabetismo no País (6,6%) está em queda constante, atingindo quase à universalização do ensino. Mas elevar o nível de escolarização até a conclusão do ensino médio ainda parece ser um desafio”, argumentou a analista da Pnad Contínua, Adriana Beringuy.

No caso das mulheres, Adriana avalia que a gravidez, na condição de indicador de evasão escolar, é também um ponto crucial a ser observado nas políticas públicas. “Com relação a essa temática temos o Sul com um índice bem menor (6,4%), sendo quase a metade da região com o maior índice, que é o Norte (12,7%)”, afirmou.

Passagem para nível médio acentua evasão

A pesquisa evidenciou ainda que a transição do ensino fundamental para o médio acentua progressivamente os índices de abandono escolar, chegando à conclusão que o percentual de jovens que desistiram de dar continuidade aos estudos a partir dos 15 anos é quase o dobro do registrado nas idades anteriores.

Até os 13 anos, cerca de 8,5% abandonaram os estudos, e aos 14, observou-se uma retração sutil na taxa, estimada em 8,1%. Porém, aos 15 anos, o percentual aumentou drasticamente para 14,1%; aos 16, obteve um leve incremento, oscilando para 17,7%; e alcançou, aos 19 anos ou mais de idade, o patamar de 18,0%.

“É fundamental que se encontre formas de tornar a educação mais atrativa e formas de se possibilitar que o jovem concilie os estudos com o trabalho nas idades mais elevadas, que as políticas públicas compreendam o que se passa com o jovem nessa faixa etária entre 15 e 19 anos para que ele seja compelido a abandonar a escola”, frisou Adriana Beringuy, do IBGE.



Ao se aplicarem a sexo e cor, faixas etárias se mantêm as mesmas entre homens, mulheres, brancos e negros
Infográficos: Brisa Gil/Agência IBGE de Notícias

 

Abandono por idade varia regionalmente

Aplicando-se o padrão etário dos jovens ao sexo e à cor ou raça, o cenário se mantém similar entre os homens e as mulheres, bem como as pessoas brancas e pretas ou pardas. No entanto, a taxa de evasão escolar é variável em termos regionais. O abandono precoce, manifestado até os 13 anos, se concentra no Norte, com 9,7%, no Nordeste (9,0%) e no Sudeste (8,7%).

Já aos 14 anos, a região mais populosa do País manteve um percentual idêntico ao da faixa de idade mais nova, enquanto no Sul se constatou o mais alto índice de saída da escola, equivalente a 9,9%.

O aumento da taxa de abandono entre os indivíduos de 15 anos, entretanto, ocorreu em todas as grandes regiões, merecendo destaques expressivos para o Sul (16,3%), o Sudeste (14,9%) e o Nordeste (13,9%). Na faixa subsequente, entre os 16 e 18 anos, o Norte e o Nordeste obtiveram, respectivamente, percentuais estimados em 14,0% e 16,4%, passando, aos 19 anos ou mais, a ter aumentos vertiginosos, com 26,6% e 22,2%.

“Essa maior saída tardia da escola deve, provavelmente, estar associada a um esforço desses jovens para recuperar o atraso educacional”, comentou a analista do IBGE, Marina Fortes Águas.

Ao levar em conta os dados referentes a 2019, o atraso ou abandono escolar atinge 12,5% das crianças e adolescentes entre 11 e 14 anos e 28,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade. Porém, entre os jovens de 18 a 24 anos, o índice subiu para aproximadamente 75%, dos quais 11,0% estavam atrasados nos estudos e 63,5% não frequentavam a escola nem tinham concluído o ensino básico.

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