Pelo segundo ano seguido, homenagem a Tiradentes não teve público

Ato simbólico realizado na histórica cidade de Ouro Preto, em memória ao mártir da Inconfidência Mineira, foi reduzido por causa da pandemia

Hugo Gonçalves

Salvador, 21 de abril de 2021, Dia da Inconfidência ou de Tiradentes

Com informações do portal Estado de Minas

Matéria atualizada às 23h13

 

Trajeto foi feito sobre um tapete de serragem, até o Monumento a Tiradentes
Ane Souza/Prefeitura de Ouro Preto

 

Sem a presença de autoridades e do público, pelo segundo ano consecutivo a cerimônia simbólica do Dia de Tiradentes, em Ouro Preto, região central de Minas Gerais, teve que ser reduzida devido à pandemia de Covid-19. O ato realizado nesta quarta-feira (21) homenageou a Inconfidência Mineira, movimento emancipatório reprimido pela Coroa portuguesa, que completou 233 anos.

Assim como ocorre anualmente, nesta data – instituída como feriado nacional pela Lei nº 4.897/1965, em memória ao mártir da conspiração, o alferes Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), mais conhecido pelo apelido que ele adotou ao exercer o seu ofício de dentista – a capital do estado foi transferida para a histórica cidade colonial, que já havia assumido tal posto.

Conforme noticiou o portal do jornal Estado de Minas, um Dragão da Inconfidência – usando máscara e seguindo as normas e protocolos de distanciamento social para evitar a propagação do novo coronavírus –, conduziu uma coroa de flores em direção ao imponente Monumento a Tiradentes, situado no centro da praça de mesmo nome.

O trajeto, ainda segundo o portal, foi feito sobre um tapete de serragem, que se estendeu do Museu da Inconfidência até o referido monumento. “Um corneteiro da Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros executou o toque de silêncio e, depois, a Pira da Liberdade foi acesa na praça”, prosseguiu a matéria.

Escrito por Cecília Meireles (1901-1964) e publicado em seu livro Romanceiro da Inconfidência (1953), o poema “Romance XXXV ou do suspiroso Alferes” (confira a íntegra ao final desta notícia) foi lido durante a cerimônia, como forma de rememorar a luta dos inconfidentes pela libertação da então capitania de Minas Gerais do domínio de Portugal.

Como no ano passado, com o objetivo de prevenir a Covid-19, também não ocorreu a solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência. A condecoração – que é a mais alta comenda do governo mineiro – foi criada em 1952 pelo então governador Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), para homenagear personalidades e instituições relevantes que contribuem para o estado.


Detalhe do quadro Tiradentes esquartejado, pintado em 1893 por Pedro Américo (1843-1905) em óleo sobre tela
Reprodução/Wikipedia


Romance XXXV ou do suspiroso Alferes

Cecília Meireles (Rio de Janeiro, 1901 – idem, 1964)

Poema publicado originalmente no Romanceiro da Inconfidência (1953)


Terra de tantas lagoas!

Terra de tantas colinas!

No fundo das águas podres,

o turvo reino das febres...

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


Nos palácios, vãos fidalgos.

Santos vãos, pelas esquinas.

Pelas portas e janelas,

as bocas murmuradoras...

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


Rios inchados de chuva

serra fusca de neblinas...

Quem tivera uma canoa,

quem correra, quem remara...

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


(Que vens tu fazer, Alferes,

com tuas loucas doutrinas?

Todos querem liberdade,

mas quem por ela trabalha?)

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


(O humano resgate custa

pesadas carnificinas!

Quem morre, para dar vida?

Quem quer arriscar seu sangue?)

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


Minas das altas montanhas,

das infinitas campinas...

Quem galopara essas léguas!

Quem batera àquelas portas!

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


Mas os traidores labutam

nas funestas oficinas:

vão e vêm as sentinelas,

passam cartas de denúncia...

“Ah! se eu me apanhasse em Minas...”


(E tudo é tão diferente

do que em saudade imaginas!

Onde estão os teus amigos?

Quem te ampara? Quem te salva,

mesmo em Minas? mesmo em Minas?)

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