Mais barato, novo concreto é desenvolvido por pesquisadores mineiros

Material derivado de resíduos da siderurgia, que também causa menos prejuízos ao ambiente, está sendo testado no litoral do Espírito Santo para verificar resistência

Com informações da matéria produzida pela TV Gazeta, do Espírito Santo, e exibida no Jornal Hoje (Rede Globo)

Matéria atualizada em 5 de março de 2021, às 21h02


Estudiosos de universidade de Minas tiveram bastante esforço para transportar blocos rumo a praia capixaba
Ari Melo/TV Gazeta, reproduzida do Globoplay


Pesquisadores do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Minas Gerais, desenvolveram um novo tipo de concreto a partir de rejeitos da indústria siderúrgica. Mais barato e menos agressivo ao meio ambiente se comparado à versão tradicional, o material está sendo testado à beira-mar na cidade de Guarapari, no Espírito Santo, visando a comprovar sua resistência.

Antes de realizar o experimento de campo, os engenheiros mineiros se esforçaram bastante para transportar os pesados blocos de concreto rumo ao litoral do estado vizinho, com o objetivo de analisar os efeitos que os sais marinhos – principalmente o cloreto de sódio (NaCl) – desempenham nos diferentes tipos do material. Enfim, as peças permanecem imóveis, assim como os prédios na orla, expostos às ações da maresia.

É esse conhecido fenômeno natural que não apenas ocasiona a ferrugem na parte externa das construções, como também penetra no concreto, sendo capaz de corroer a ferragem embutida na estrutura. Por essa razão, um prédio situado à beira-mar utiliza até 40% a mais de concreto na sua construção, como forma de proteger os metais da corrosão.

O estudo pretende justificar que, mesmo defronte à praia, é possível erguer prédios mediante o uso de um material mais econômico, mais durável e menos prejudicial ao ambiente – já que sua matéria-prima essencial deriva da siderurgia. Trata-se da escória de aciaria, resíduo proveniente das sobras da fabricação do aço, através da qual se pode produzir a brita e a areia empregadas no concreto que os estudiosos conceberam.

“O conjunto escória e concreto produz uma matriz, um conjunto menos poroso. Então, só de ele ter menos poros, é mais difícil que esses sais nele presentes penetrem na estrutura. Se eles não penetram, a corrosão vai ser menor”, explicou a autora da pesquisa, a engenheira civil Laís Costa, em entrevista à TV Gazeta, afiliada da Rede Globo no Espírito Santo.


Concreto de escória possui coloração mais escura que versão tradicional do material
Ari Melo/TV Gazeta, reproduzida do Globoplay


Complemento da fase laboratorial

Tendo os testes já finalizados em laboratórios, o estudo – denominado Desempenho de concretos de escória de aciaria frente a ataques de cloretos – está sendo complementado em um ambiente mais agressivo, à beira-mar, com blocos de diferentes tipos de concreto. O material elaborado a partir da escória possui uma coloração mais escura que o convencional.

Na praia capixaba, os pesquisadores da Ufop posicionaram os blocos dos dois tipos lado a lado, de modo que eles comparassem ambas as versões do concreto aplicadas em cada amostra. A cada três meses, os engenheiros submetem os blocos a ultrassom e os levam para os laboratórios.

O resultado final do trabalho será divulgado daqui há três anos. Porém, a prefeitura de Guarapari já está despertando tamanho interesse no concreto de escória – material que, além de ser até 30% mais barato do que o tradicional, dispensa a retirada da areia da natureza para produzi-lo.

“A construção civil, em Guarapari, tem um potencial econômico muito grande. Essas alternativas sustentáveis, principalmente a de reintroduzir aquilo que seria descartado – esses resíduos industriais, por exemplo –, trazem uma alternativa sustentável para a nossa cidade”, comentou o secretário municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Guarapari, Breno Ramos, à TV Gazeta.

De acordo com Laís, o que está sendo aprendido na academia poderá se transformar em um retorno positivo para a sociedade. “E a gente acredita que, reaproveitando um resíduo e produzindo um material mais barato, todo mundo ganha”, finalizou a autora do estudo.

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