Baleias são cruciais para manter equilíbrio do planeta

Mamíferos marinhos contribuem para regular o clima na Terra; além disso, seus corpos atuam como enormes reservas de carbono

Com informações da matéria exibida no programa Repórter Eco (TV Cultura)

Matéria atualizada às 22h36


Na observação de cientistas, baleias transportam nutrientes sob duas formas, horizontal e vertical
Projeto Baleia Jubarte

 

Maiores mamíferos do mundo, as baleias desempenham fundamental importância para o equilíbrio não apenas da vida marinha, mas também do planeta como um todo. Prova disso é que, nas profundezas oceânicas, esses incríveis cetáceos auxiliam na regulação da temperatura da Terra diminuindo os efeitos do aquecimento global, além de pesquisas terem demonstrado que seus corpos funcionam como gigantescas reservas de carbono.

Cientistas como o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Marcos César de Oliveira Santos, alegam que as baleias executam o transporte dos nutrientes sob duas formas, horizontal e vertical. Na avaliação dele, o primeiro se manifesta das regiões polares – onde os mamíferos se alimentam de três a quatro meses – até as zonas tropical e subtropical, onde eles passam mais três a quatro meses gerando seus filhotes e criando-os.

Já o transporte vertical de nutrientes, ainda segundo o pesquisador, “está relacionado à área de alimentação das baleias, geralmente nas camadas com menor penetração de luz a partir dos 100 metros de profundidade, onde se concentra a maior parte das suas presas. Elas as capturam ali em mergulhos nos que a fisiologia do mergulho é adaptada para isso, e voltam à superfície para respirar nesse transporte vertical”.

Conforme um levantamento divulgado no ano passado, as grandes baleias que trafegam na costa brasileira contribuem, ao longo de seus ciclos vitais, na prestação de serviços ecossistêmicos avaliados em torno de US$ 82,5 bilhões – o que equivale a cerca de R$ 410 bilhões.

O valor foi estimado por economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, com base nos dados fornecidos pelo Projeto Baleia Jubarte em parceria com a organização não-governamental (ONG) estadunidense Great Whale Conservancy (GWC).

Em âmbito global, os mesmos pesquisadores do FMI e de Duke já haviam constatado que os serviços ecológicos exercidos pelos cetáceos apenas enquanto vivos – turismo de observação, captura ou sequestro de carbono e fertilização dos mares –, alcançam uma cifra aproximada de US$ 1 trilhão, correspondente a mais de R$ 5 trilhões.

“Na superfície, elas acabam voltando a desempenhar as atividades fisiológicas naturais no processo de digestão, que culmina em defecar os produtos da sua alimentação. E as fezes de baleias servem para fertilizar o fitoplâncton. Por isso, nós, cientistas, dizemos que elas prestam um serviço ecossistêmico muito importante para a humanidade, ao realizar os transportes horizontal e vertical de nutrientes, que fertilizam o fitoplâncton e são responsáveis por metade do oxigênio consumido pela humanidade”, analisou Marcos César, em entrevista ao programa Repórter Eco, da TV Cultura.


Caça às baleias produziu, só no século XX, o equivalente à poluição gerada por 15 milhões de veículos
Masashi Kato/Reuters – 01/07/2019

 

Gigantes à beira da extinção

Pesquisadores estimam que até 90% das populações de baleias tenham sido dizimadas em todas as regiões do planeta. Para se ter uma ideia, somente no século XX, a caça aos mamíferos marinhos agregou à atmosfera mais de 70 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente à poluição causada por 15 milhões de veículos automotores.

“As populações diminuíram bastante. Então, o que vimos é que, com a proibição da caça, algumas espécies voltaram. Mas, sem dúvida, a caça fez com que nós removêssemos grande porção desses organismos aí, e eles chegaram à beira da extinção”, explicou o pesquisador-associado do Instituto Oceanográfico da USP, Paulo Yukio Sumida, ao Repórter Eco.

Ainda de acordo com ele, a redução das populações baleeiras acaba produzindo um desequilíbrio no ecossistema. “Imagina na região antártica, por exemplo, onde nós temos vários pesquisadores estudando atualmente. Você vai gerar ali um problema nas populações – talvez explosões de populações menores –, porque elas servem como um controlador ali também”, observou.

Entretanto, apenas catorze espécies desses gigantes que habitam os oceanos continuam sobrevivendo nas águas salgadas do mundo. Logo, protegê-los significa proteger a Terra no seu conjunto.

“A humanidade depende das baleias como coparceiras para a regulação do clima no nosso planeta. Manter as populações de baleias nas bacias oceânicas é uma atribuição importantíssima para a humanidade – que, ao longo de uma parte da sua história, chegou a caçar baleias em grande abundância, reduzindo assim os serviços ecossistêmicos prestados gratuitamente por elas para a humanidade”, justificou o professor Marcos César.

O pesquisador Paulo Sumida, da USP, defende que a verdadeira “ferramenta” para inibir que as espécies remanescentes de baleias sejam dizimadas do ecossistema é evitar a extinção da espécie humana. “Portanto, cabe a nós, humanos, mantermos essas populações de baleias para que elas continuem servindo à humanidade em seus serviços ecossistêmicos gratuitos”, finalizou Marcos, também da universidade paulista.

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