Uma breve definição das redes sociais como públicos em rede


Tradução e adaptação: Hugo Gonçalves, a partir de fragmentos selecionados do artigo acadêmico Social network sites as networked publics: affordances, dynamics, and implications, de autoria da pesquisadora estadunidense Danah Boyd e publicado originalmente em 2010.

As redes sociais vêm obtendo um crescimento espetacular como espaços populares de interação online para jovens e adultos. Ao acessá-las, várias pessoas se reúnem para socializarem com seus amigos e conhecidos, compartilharem informações com outras pessoas interessadas e para verem e serem vistas.

Embora o uso das redes sociais para fins pessoais ou profissionais não seja predominante entre os indivíduos, existem aqueles que as acessam para se relacionar com amigos secundários, fazer conhecidos nas empresas e mesmo para se reunir ocasionalmente visando a uma causa política. Ao levar em conta as práticas que se desdobram nesses espaços, Danah Boyd (2010) vem a entender as redes sociais como gênero de “públicos em rede”.

Públicos em rede são públicos reestruturados por tecnologias em rede. Como tal, são, simultaneamente, o espaço construído através de tecnologias em rede e o coletivo imaginado que surge como resultado da interseção das pessoas, da tecnologia e da prática.

Além disso, os públicos em rede atendem a muitas das mesmas funções como outros tipos de públicos – permitem que as pessoas se reúnam para fins sociais, culturais e cívicos e ajudam as pessoas a se conectarem com um mundo que vai muito além dos seus amigos mais próximos e familiares.

Embora os públicos em rede compartilhem muito em comum com outros tipos de públicos, as formas nas quais a tecnologia os estrutura introduzem recursos distintos que moldam o modo de as pessoas se envolverem nesses ambientes. As propriedades dos bits – que são diferentes de átomos – introduzem novas possibilidades de interação. Como resultado, novas dinâmicas surgem a partir das reformatações na participação.

Analiticamente, o valor de se construir as redes sociais como públicos em rede consiste em observar as práticas que se desdobram ali como sendo informadas pelas características dos públicos em rede e pelas dinâmicas comuns que se resultam delas. As características dos públicos em rede não ditam o comportamento dos participantes, mas fazem configurar o ambiente em uma maneira que altera o envolvimento dos participantes.

Basicamente, a arquitetura de um ambiente particular é importante e a arquitetura dos públicos em rede é moldada por seus atributos. As dinâmicas comuns provêm desses recursos e mostram questões importantes com as quais os participantes devem lidar regularmente ao estarem envolvidos nesses ambientes. Compreender as práticas, características e dinâmicas comuns aos públicos em rede propicia uma estrutura valiosa para o estudo da lógica das práticas sociais.

As redes sociais são similares a vários outros gêneros de mídias sociais e comunidades online que auxiliam a comunicação mediada por computadores, mas o que define essa categoria peculiar é a combinação de atributos que permitem os indivíduos a construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema limitado, articular uma lista de outros usuários com os quais compartilham uma conexão, e visualizar e examinar sua lista de contatos e aquelas feitas por outros dentro do sistema.

Os atributos e as funcionalidades variam entre diferentes redes sociais, proporcionando uma variedade de diferentes canais de comunicação públicos e privados, porém Danah Boyd (2010), em seu artigo, mencionou quatro tipos de características que desempenham um importante papel na construção das redes sociais como públicos em rede – perfis, listas de amigos, ferramentas públicas de comentários e atualizações baseadas em fluxos. Esses diferentes atributos mostram como os bits estão integrados à arquitetura dos públicos em rede.

Juntos, perfis, listas de amigos e vários outros canais de comunicação pública estabelecem o cenário através das formas que as redes sociais podem ser compreendidas como públicos. Em suma, redes sociais são consideradas públicos devido às formas nas quais elas conectam pessoas em massa e ao espaço proporcionado para interações e informações. São, enfim, públicos em rede, em razão das formas que as tecnologias em rede as moldam e as configuram.

Referência

BOYD, Danah. Social network sites as networked publics: affordances, dynamics, and implications. In: Networked self: identity, community, and culture on social network sites (org. de Zizi Papacharissi). 2010, p. 39-58 (fragmentos selecionados).

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