Na Bahia, retorno das aulas presenciais ainda divide opiniões

Retomada das atividades letivas no formato tradicional está entre os desafios gerados pela pandemia, inclusive no estado, o que preocupa estudantes, pais, professores e especialistas

Com informações do boletim Alba Informa (TV Alba) e das assessorias de comunicação da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab)

Matéria atualizada em 24 de fevereiro de 2021, às 21h28


Desenvolvimento físico e intelectual dos alunos tem sido prejudicado pelos impactos do coronavírus
Arquivo, reproduzida de YouTube/TV Alba


Há quase um ano, a pandemia de Covid-19 trouxe enormes desafios para a população em âmbito global. Um deles se refere à busca por um consenso que envolve o retorno das aulas presenciais, o que continua dividindo as opiniões de estudantes, pais de alunos, professores, especialistas e autoridades. Aqui na Bahia, onde a doença vem aumentando dia após dia, não é diferente.

Visando a encontrar uma saída para o impasse no estado, deputados, representantes do poder público e da sociedade civil começaram a debater, em audiência pública virtual promovida semana passada na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), acerca da retomada das atividades letivas nas escolas das redes pública e particular.

Em meio a essas intensas discussões, tanto pais de alunos quanto estudantes justificam que o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes tem sido prejudicado pelos impactos ocasionados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) – agente transmissor da Covid –, nas dimensões física e intelectual.

“Essa situação está sendo muito danosa para as crianças em geral. Está trazendo muitos prejuízos tanto de saúde mental, como depressão e uso abusivo de tecnologias, como também de saúde física das crianças. Algumas estão com sobrepeso, estão mais sedentárias”, explicou uma mãe de aluno, Renata Veras, à equipe de reportagem da TV Alba (canal 10.2 HD), emissora do Legislativo baiano.

Porém, o maior obstáculo ao retorno das aulas presenciais na Bahia, suspensas desde março do ano passado, continua sendo o crescimento exponencial dos índices associados à Covid-19, levando à saturação nos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) exclusivas para o tratamento da doença. Por essa razão, dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) indicam que o presente momento se trata da fase pandêmica mais crítica por aqui.

Na última sexta-feira (19), a Sesab registrou o maior número de pacientes nas UTIs Covid desde o início da pandemia, acumulando 886 internados em estado grave. Devido ao aumento nos índices, o governo prorrogou até este domingo (28) o Decreto 19.586/2020, que determina, entre outras providências, a suspensão das aulas nas redes pública e particular.

Aulas híbridas como solução

A presidente da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviço Público da Alba, deputada Fabíola Mansur (PSB), defende como solução a implementação das aulas no formato híbrido, nas quais será possível ao estudante alternar períodos presenciais e virtuais.

“Nós temos que, juntos, numa agenda colaborativa e ouvindo os diversos segmentos, determinar como a gente pode discutir e debater a reabertura faseada das escolas, inicialmente com o acesso remoto, que alguns municípios já assim fizeram. Posteriormente, no sistema híbrido, parte presencial e parte remoto, com apoio pedagógico”, frisou a parlamentar, que articulou a audiência.

Professor há vinte anos, Daniel Venâncio ministra aulas para crianças e jovens em escolas pública e particular de Salvador. O docente aponta para certos problemas na adesão às aulas online por estudantes da rede pública, embora perceba que as escolas privadas proporcionam um acompanhamento pedagógico mais efetivo.

“Muitos (alunos) alegando que não tinham internet boa, outros dizendo que não tinham condição porque não tinham computador em casa, e que muitas vezes o computador e o celular que tinham disponível teriam que servir para todos os irmãos. E, na escola particular, alguma coisa completamente diferente. Os alunos aderiram logo ao sistema e se adaptaram de forma muito rápida; a gente conseguiu cumprir todo o programa do ano letivo sem nenhuma interrupção”, disse.

Com relação à metodologia, Daniel acredita que as aulas na modalidade a distância podem ser um complemento, apesar de não substituírem integralmente o formato tradicional. Mesmo tendo reconhecimento das dificuldades no ambiente virtual, o professor declarou que ainda se sente inseguro para o retorno do ciclo presencial.

“É um contrassenso falar em volta, num momento em que a gente está tendo um crescimento, com uma nova cepa (nova variante do coronavírus) aí. Eu, como professor de Biologia, me preocupo bastante com isso. As pessoas não estão levando em consideração que a escola não é feita somente pelos alunos. É feita também por funcionários e professores, e muitos desses estão em grupos de risco”, advertiu.

O mesmo ponto de vista também é compartilhado pela estudante Viviane Louise Silva Santana. “Mesmo tendo certeza dessa doença, prefiro continuar online”, disse a jovem.

Segundo o levantamento divulgado pelo Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed), apenas quatro estados estão retornando gradualmente às aulas presenciais. Já os demais se divergem entre a permanência no modelo online e a opção pelo formato híbrido. Entretanto, somente a Bahia e o Mato Grosso do Sul ainda não definiram os seus respectivos calendários letivos.


Em seu portal, Secretaria da Educação disponibiliza roteiros de estudo por área de conhecimento
Reprodução


Estratégias para repor tempo perdido

Com o intuito de mitigar os prejuízos acadêmicos durante a pandemia, o governo baiano utiliza como estratégia a exibição de aulas em emissoras públicas de televisão, além de disponibilizar roteiros de estudo e atividades por área do conhecimento no portal da Secretaria da Educação (SEC). Embora ainda não haja uma data prevista, a pasta já elaborou um protocolo para a retomada das atividades presenciais para este ano.

O secretário da Educação, Jerônimo Rodrigues, propõe a realização de um “grande mutirão” nos municípios onde apresentam dificuldades de aprendizagem não apenas na rede estadual, como também nos estabelecimentos particulares. De acordo com ele, as escolas precisam ter as condições mínimas para o retorno das aulas, aliadas ao planejamento.

“Nós, da rede estadual, temos que ter esse afinamento com a rede municipal, por exemplo, com a questão do transporte escolar; isso é fundamental para a gente. É fundamental que possamos ter um planejamento para dentro de cada rede, mas de certa forma também para o planejamento da rede estadual”, esclareceu, em entrevista concedida à TV Alba.

Ainda de acordo com Jerônimo, as escolas que não concluíram o conteúdo programático de 2020 terão que se adaptar ao programa de 2021, viabilizando desse modo a junção das duas séries escolares em um currículo contínuo.

“Quem não cumprir ou quem cumprir um percentual, vai ter que adequar. Estou falando de 1.600 horas nos dois anos. No caso do estado, nós realizamos 100 horas; então nós devemos 1.500 horas. Então, cada município tem que fazer essa conta, para a gente garantir esse pagamento da carga horária”, disse.

O estudante do ensino médio Joel Miranda afirma que todos os cidadãos, assim como ele, dependem da escolaridade a fim de delinear os seus futuros profissionais.

“Eu, com a escolaridade parada, não consigo completá-la, não consigo fazer um concurso público, não consigo fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), não consigo ter um bom emprego. E, hoje em dia, tudo depende da escolaridade. Se a pessoa já para o colégio, já atrasa a escolaridade da pessoa. Então, o mínimo que se pode fazer é repor o ano passado neste ano”, comentou Joel.

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