Falta de acesso à internet no Brasil aumenta na pandemia

Pesquisa revela que pouco mais da metade dos filhos de pais sem escolaridade não tem como obter conexão com a rede para estudar

Com informações da matéria exibida no Jornal da Tarde (TV Cultura)

Matéria atualizada em 6 de fevereiro de 2021, às 12h34


Predominante em famílias com menos tempo de estudo, exclusão digital reduz chances de mobilidade social
Jorge William/Agência O Globo


A pandemia do novo coronavírus aprofundou a desigualdade econômica no Brasil e, em consequência, a falta de conexão com a internet na maioria de suas casas. Segundo um levantamento divulgado recentemente, pouco mais da metade dos filhos de pais sem instrução não tem condições de obter acesso à rede mundial de computadores, exatamente em um período em que a educação – e também o trabalho – ocorrem de maneira remota.

Durante a maior crise sanitária que vem acometendo a humanidade em escala global, a jovem Sara de Oliveira, que estuda em uma escola pública no interior do Pará, não conseguiu acompanhar as aulas transmitidas remotamente como ela desejaria.

“Estou sendo bastante prejudicada com o ensino remoto, principalmente porque meu pai nem sempre tem condições de colocar crédito (no celular para acessar a internet). E eu tenho certeza que não somente eu, como outros alunos, também foram prejudicados pela pandemia, com este ensino remoto”, declarou.

O fenômeno da exclusão digital se manifesta predominantemente nas famílias menos escolarizadas, o que fez aumentar as desigualdades econômicas e sociais no País e consequentemente diminuir as chances de mobilidade social. É o que constatou uma pesquisa nacional realizada pelo recém-fundado Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).

Sem instrução, sem conexão

Conforme o presente estudo, 55% dos filhos de pais sem instrução no Brasil não possuem acesso à internet, percentual que recua para 4,9% quando os pais têm curso superior. Levando-se em conta a qualidade da conexão com a rede, o levantamento concluiu que apenas 29,6% dos filhos de pais que não tiveram qualquer nível de escolaridade têm acesso à banda larga. Já nos lares onde os pais cursaram o ensino superior, esse contingente salta com altíssima velocidade, alcançando 89,4%.

“A distância, que já era grande, aumentou de forma definitiva. E, portanto, o futuro desses jovens, de certa forma, vai ser marcado por esse evento. Aquela dinâmica da sociedade, de subir e descer – as pessoas de baixo subirem e as de cima, algumas delas, descerem –, reduz a possibilidade de mobilidade. Portanto, isso pereniza as desigualdades do País”, observou o economista, fundador e diretor-presidente do IMDS, Paulo Tafner, em entrevista à TV Cultura.

Além disso, a exclusão digital acentuada pela pandemia também contribui para aumentar as discrepâncias no acesso à educação e prejudica o futuro dos jovens, reduzindo as oportunidades de trabalho e renda, bem como as perspectivas de uma vida decente.

“Nas escolas como as que a gente tem, aluno pobre dificilmente terá uma qualidade de vida melhor do que a do seu pai, a não ser pelo desenvolvimento econômico natural. A educação brasileira é de péssima qualidade. Então, se a educação brasileira presencial é de péssima qualidade, (o ensino) a distância também será, porque não vai brotar qualidade na transição da educação presencial para a educação a distância”, analisou a consultora em educação Ilona Becskeházy à TV Cultura.

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