Livro reúne legado de Walter da Silveira através de artigos sobre cinema
Cinquenta anos após morte do crítico cinematográfico, que também era historiador e professor, sua contribuição para a sétima arte na Bahia e no Brasil permanece inegável
Com informações da matéria exibida no programa Soterópolis, da TVE Bahia, do portal Correio*
e da assessoria de comunicação da Edufba
Matéria atualizada em 21 de dezembro de 2020, às 16h28
Transcorrido meio século do seu falecimento, o baiano Walter da Silveira (1915-1970) ainda exerce uma importância inequívoca para a produção cinematográfica não apenas em seu estado natal, como também no Brasil. Ensaísta, advogado, historiador, professor, cineclubista e militante político, Walter edificou um legado decisivo para a formação de pioneiras gerações de críticos, além de ser um dos articuladores do desenvolvimento da sétima arte em âmbito nacional.
Publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba), o livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil (554 páginas, R$ 70) elenca críticas, ensaios, conferências, cartas e artigos redigidos pelo intelectual entre 1943 e 1970, organizados pela pesquisadora Cyntia Nogueira e incrementados por mais seis artigos inéditos acerca do crítico. Entre os autores desses escritos está a própria organizadora.
“Era um desejo antigo dele, inclusive, de publicar seus artigos sobre o cinema brasileiro em um livro. Isso está acontecendo cinquenta anos após a sua morte”, explicou Cyntia, que também é docente do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em entrevista ao programa Soterópolis, da TV Educativa (TVE), emissora pública estadual.
Ainda de acordo com ela, a antologia – lançada em novembro último em uma live promovida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), em seu canal no YouTube – se originou de dois anos de uma pesquisa bastante extensa, obtida a partir da seleção dos textos teóricos publicados originalmente em diversos jornais e periódicos especializados, cujo resultado final gerou dois capítulos diferentes.
O primeiro capítulo da obra reúne uma sequência de artigos nos quais Walter abordou o panorama cinematográfico em nível de Brasil. Já o outro congrega suas teses acerca da linguagem artística audiovisual produzida no território baiano.
Também foram incluídas na coletânea as correspondências que ele trocou com outros dois relevantes críticos e historiadores do cinema nacional – o carioca Alex Viany (1918-1992) e o paulista Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), fundador da Cinemateca Brasileira –, além do cineasta Glauber Rocha (1939-1981), cuja formação como crítico recebeu total influência do lendário Clube de Cinema da Bahia, fundado por Walter em 1950.
Um legado de valor
Cyntia destacou que a contribuição do crítico obteve enorme valia para o surgimento da produção cinematográfica na Bahia. “Ele, na verdade, antecipa essa cena, porque ele começa a escrever de forma consistente sobre o cinema e, particularmente, sobre o cinema brasileiro, ainda em 1943, durante a (Segunda) Guerra (Mundial). Era um momento em que a elite intelectual ainda não olhava para o cinema brasileiro, vendo-o com um certo desdém”, analisou.
Ainda segundo a pesquisadora e professora da UFRB, Walter da Silveira pode ser considerado pioneiro nos debates que conduziram à consolidação de um campo cinematográfico no País. Logo, ele participou ativamente de movimentos de modernização urbana, artística e cultural manifestados no pós-guerra, que incidiram na criação, há setenta anos, do Clube de Cinema da Bahia.
O Clube, enfim, se tornou uma espécie de grande polo de emergência, desenvolvimento e irradiação de uma cena artística no estado, tida ainda como “muito incipiente”.
“A partir do momento que ele cria o Clube de Cinema da Bahia, esse espaço se transforma não só num espaço de formação, que vai dar origem a uma geração de críticos e também de realizadores, além de ter um papel importante na formação de um pioneiro, como Alexandre Robatto (1908-1981)”, examinou Cyntia Nogueira.
Mestre de gerações brilhantes
Atuando nas múltiplas veredas do conhecimento, Walter contribuiu para formar as primeiras gerações de jovens discípulos no cinema. Foi mestre da pioneira safra de críticos e realizadores – como Robatto, Guido Araújo (1933-2017), idealizador da Jornada de Cinema da Bahia, e Luiz Paulino dos Santos (1932-2017), sócio do crítico no Clube de Cinema –, passando pela de Orlando Senna e Glauber Rocha, até ingressar na geração de José Umberto Dias, André Luiz Oliveira e André Setaro (1950-2014).
Um ano antes de falecer, em 1969, o intelectual – cujo nome também batiza uma sala pública de projeção no subsolo do prédio da Biblioteca Central, no bairro dos Barris, em Salvador – chegou a colaborar na fundação do jornal Tribuna da Bahia, ao montar a equipe de críticos na editoria de Cinema.
Na avaliação de Cyntia, o livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil visa justamente a tornar mais acessíveis as ideias do homenageado, bem como seus artigos combativos em torno da sétima arte no País.
“Então, eu acho que é sempre muito importante a gente conhecer a nossa história e a nossa memória, o que nos dá chão e base para compreender os desafios do presente, reinventá-lo e vislumbrar projetos de futuro também. E eu acho que o pensamento e a atuação de Walter da Silveira, bem como a crença que ele tinha no cinema, ainda são muito inspiradores”, finalizou a pesquisadora.
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