Espaços públicos se tornaram refúgios na pandemia
Vários moradores fizeram de praças e parques extensões das suas casas, revela estudo inédito da UFRJ
Com informações da
matéria exibida no Jornal da Cultura, da TV Cultura
Matéria atualizada às 15h16
Em função da pandemia de Covid-19, grande parte dos moradores das cidades passou a valorizar o entorno dos seus domicílios. Antes geralmente vistos como exceções, praças e parques públicos agora se transformaram em refúgios, conforme revelou um estudo inédito elaborado por pesquisadores do Laboratório de Arquitetura, Subjetividade e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um desses espaços onde vêm ocorrendo significativas concentrações de pessoas durante a quarentena é a Praça Horácio Sabino, em Pinheiros, zona oeste da maior metrópole brasileira. Com a sua requalificação em 2017, por iniciativa da Associação Praça Horácio Sabino (Prhosa), o local se tornou melhor e mais atraente para seus habitantes e frequentadores, como a jornalista Regina Galvão.
“São Paulo é uma cidade tão cheia de concreto, tão difícil. Então aqui você consegue ter essa mobilidade, ter esse respiro, ver o pôr do sol, se reunir com os amigos. Tudo isso faz com que a gente tenha uma sensação melhor nesse momento de pandemia, de isolamento social”, argumentou Regina à equipe de reportagem da TV Cultura.
O levantamento da UFRJ, que entrevistou habitantes dos estados do Rio, de São Paulo e do Espírito Santo, demonstrou que as áreas arborizadas em zonas urbanas passaram a ser consideradas extensões das suas casas. Logo, praças e parques foram associados a sensações agradáveis – prazer, sossego, tranquilidade, alegria e segurança –, para quem tem a sorte de usufruir desses lugares.
“A experiência do
isolamento social trouxe uma nova percepção da cidade e uma ressignificação do
espaço público. A ideia da cidade, agora, como espaço de pertencimento –
praças, parques, jardins, praias –, como refúgio, como sinônimo de qualidade de
vida, (com) menos automóveis, mais luz e mais água”, ponderou a arquiteta
Heloísa Dallari, especialista em Arquitetura Sensorial e professora da Fundação
Armando Álvares Penteado (Faap), na capital paulista.
Segurança e bem-estar
Tanto frequentadores quanto urbanistas são unânimes em observar que sensações de segurança, conforto e bem-estar vêm crescendo exponencialmente quando há maior presença de indivíduos nos ambientes públicos, aliada aos cuidados essenciais na sua manutenção e conservação.
“(A praça) Tem que ter iluminação boa, ela tem que ser visível de vários ângulos, é importante que as pessoas se vejam. E quanto mais gente, melhor nesse sentido, porque quanto mais pessoas circulando, mais você tem a sensação de que você não vai ser pego de surpresa em alguma coisa”, ponderou o doutor em Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), Mauro Calliari, à TV Cultura.
Na avaliação do especialista, as prefeituras precisam dar mais prioridade aos espaços públicos, uma vez que gestores municipais ainda não trataram da importância dessas áreas não apenas na pandemia, como também no período que a antecedeu, para a constituição da identidade da paisagem das cidades.
“Eu acho que as praças
são pequenos respiros que a gente pode se dar e pequenas chances de encontrar
com um pouco de natureza, de ver um pouco de outras pessoas, mesmo que de
longe, e de ver céu, ver árvore, encontrar grama. Essas coisas que parecem não
ser importantes são fundamentais para o nosso equilíbrio psicológico, para a
gente tratar completo durante um período tão difícil como este”, opinou.
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