De volta, em breve, ao urbano presencial

Hugo Gonçalves – Jornalista (SRTE/BA 4507)

Salvador, 8 de outubro de 2020

Crônica atualizada às 21h00


De passagem pelo Centro Histórico, este jornalista adentrou o arco do Largo Quincas Berro d’Água, no Pelourinho, em uma época pré-pandemia

Cátia Cilene dos Santos – 22/01/2018


Assim como a consciente e lúcida maioria dos cidadãos deste mundo que vem sendo contaminado pela Covid, passo quase todos os dias da minha rotina enclausurado aqui em casa como precaução para conter a disseminação em escala planetária do inimigo letal. Durante meu convívio com o isolamento, no entanto, uma miríade de lembranças faz reluzir meu armazém orgânico que é o cérebro, me proporcionando alegres memórias do real contato com a cidade.

Quão deslumbrantes, maravilhosas, admiráveis e radiantes são as paisagens urbanas por onde percorri, e quão formidáveis as vistas que contemplei e as brisas com as quais me deliciei e que um dia terei a possibilidade de regressar a contemplar, independentemente de o céu estiver claro ou escuro.

Não somente da Salvador onde eu nasci, me criei, cresci e manifesto meu orgulho e minha felicidade em viver, mas também das outras cidades nas quais fui um mero turista ou passageiro. E, no caso da pacata localidade inserida na maior ilha da Baía de Todos-os-Santos – onde não desembarco há nove meses para viajar, descansar e me desconectar dos compromissos – continuo sendo veranista.

Tão logo a pandemia se instaurou, também não venho circulando pelas movimentadas vias de ônibus e de metrô – que inequivocamente consistem nos modais de transporte coletivo utilizados com frequência pelos soteropolitanos – para fugir um pouco da nossa rotina doméstica, tida por alguns como monótona. Essa restrição na mobilidade, mesmo que efêmera, se traduz em uma providência preventiva, a fim de evitar aglomerações.

O pré-pandemia foi um estágio no qual tive autonomia e liberdade de sair da minha residência para (re) encontrar amigos, familiares e conhecidos pessoalmente, comparecer às aulas e palestras presenciais para nutrir meu apetite pelo saber, trabalhar presencialmente, apreciar eventos culturais, etc. Porém, todas essas atividades – outrora concretas – se reduziram ao virtual, às telas, sendo transmitidas ou apresentadas a distância, que nos faz reaproximar neste novo normal.

Usufruir-me da quarentena me proporciona uma atmosfera singular de tranquilidade, aconchego, relaxamento, criatividade, produtividade, entusiasmo, cultivo pleno do bem-estar e da renovação física, mental e espiritual. Ferramenta que, no meu humilde ponto de vista, me serve de trégua (ou contraponto) para as sistemáticas idas e vindas no interior do ambiente urbano, que por vezes nos estressam e nos tornam ansiosos, aglomerando nossos neurônios de preocupações futuras.

Como eu e demais indivíduos estamos habituados a conviver com o novo normal, a tendência é aproveitá-lo ao máximo, até que seja descoberta uma vacina para que o maldito corona seja sacrificado, embora não haja uma data definida. E que, sob essa conjuntura, eu retorne a desfrutar integralmente do ao mesmo tempo jovial, histórico, moderno e acolhedor mosaico da minha Soterópolis de forma presencial.

Comentários