Desmatamento da Mata Atlântica sobe em dez dos 17 estados por ela cobertos

Segundo relatório, mais de 13 mil hectares de floresta nativa foram destruídos em toda extensão atual do bioma, entre 2019 e 2020

Hugo Gonçalves

Salvador, 27 de maio de 2021, Dia Nacional da Mata Atlântica

Com informações do portal da Fundação SOS Mata Atlântica e da matéria exibida no Jornal da Tarde (TV Cultura)

Matéria atualizada em 1º de junho de 2021, às 15h44

 

Atualmente, Mata Atlântica está reduzida a apenas 12,4% da sua cobertura original
Reprodução/YouTube/Jornalismo TV Cultura

 

Na última quinta-feira (27), foi celebrado o Dia da Mata Atlântica, criado em 1999 com o objetivo de conscientizar a população brasileira sobre a necessidade urgente de recuperação do bioma. Entre os 17 estados que o compreendem, 10 registraram um aumento acelerado no desmatamento no biênio 2019-2020, segundo aponta o relatório do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.

De acordo com o estudo – elaborado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica em convênio com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) –, cuja recente edição foi divulgada um dia antes, 13.053 hectares (ha) de floresta tropical nativa foram desmatados no período analisado, o equivalente a um campo e meio de futebol por hora o ano inteiro.

Essa quantidade, a título de comparação com biênios anteriores, é 9% menor do que a estimada entre os anos de 2018 e 2019 – quando se verificou a destruição de 14.375 ha –, mas 14% maior do que o total de mata devastado entre 2017 e 2018, calculado em 11.399 ha.

Hoje restam somente 12,4% da formação vegetal original. Embora seja um dos biomas mais abundantes em biodiversidade do planeta, o que sobrou do verde que abrangia o território do Brasil em quase toda a sua extensão, há 521 anos, continua sistematicamente ameaçado.

“Um ecossistema que tem 12% – ou pouco mais – de cobertura florestal não é viável a longo prazo em termos ecológicos, em termos de sua resiliência e de sua capacidade de continuar fornecendo os serviços ambientais para a população, onde estão concentrados (quase) 80% de todos os brasileiros”, observou o diretor de Programas do Fundo Global para o Meio Ambiente (EGF, na sigla em inglês), Gustavo Fonseca, em entrevista à TV Cultura.

Minas e Bahia no topo

Conforme o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, os estados de Minas Gerais (4.701 ha), Bahia (3.230 ha), Paraná (2.151 ha), Santa Catarina (887 ha) e Mato Grosso do Sul (851 ha) vêm liderando o ranking do desmatamento da Mata Atlântica entre 2019 e 2020. Logo, essas cinco unidades da Federação, em conjunto, detêm 91% do desflorestamento.

Seis dos oito estados que se aproximavam do desmatamento zero – ou seja, menor que 100 hectares – passaram a intensificar a degradação da mata entre 2019 e 2020: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. A eles se juntaram o Mato Grosso do Sul, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, pois também tiveram uma acelerada devastação de seus remanescentes vegetais.

O relatório também diagnostica que, no Espírito Santo e em São Paulo, o crescimento do total devastado foi estimado em mais de 400%, enquanto no estado do Rio o índice alcançou cifras superiores a 100%. Grande parcela da área desmatada do bioma no período investigado teve como mira a produção agrícola e, no caso das regiões metropolitanas e litorâneas, a expansão da atividade imobiliária e do turismo.

“Se a gente tem toda a ciência e tecnologia para produzir alimentos para todos os brasileiros, para exportar sem precisar desmatar nenhuma árvore no Brasil, isso já é um consenso”, argumentou o diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto, à TV Cultura.

No bioma vivem atualmente quase 80% dos brasileiros, além de concentrar 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. A organização não-governamental (ONG) informa que esses indicadores contribuem para a geração de serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo.

Segundo Guedes Pinto, sempre os mais desfavorecidos e os marginalizados são os mais impactados pelo desmatamento da floresta, porém a escassez de água atinge toda a população do País. “A responsabilidade é de todos, mas não podemos deixar de tirá-la do Estado, dos governos, de proteger a nossa Mata Atlântica, de fiscalizá-la e de, agora, promover a sua restauração”, concluiu o ambientalista.

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