Desigualdades entre brancos e negros persistem na educação e no mercado de trabalho

Segundo especialista, desvantagens da população preta ou parda no Brasil se aprofundam à medida que escolaridade avança

Com informações da Agência IBGE de Notícias
Matéria atualizada às 15h57

Ter superior completo é requisito que favorece inserção do negro no mercado de trabalho, afirma pesquisadora do IBGE
Lúcia Correia Lima/Arquivo Rede Brasil Atual (RBA)

Nesta sexta-feira (20), foi celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, data escolhida para reverenciar a memória de Zumbi dos Palmares, martirizado em 1695. A efeméride sinaliza à população brasileira que, apesar de abolida a escravidão há 132 anos, as desigualdades entre as pessoas brancas e as pretas ou pardas ainda se perpetuam nas estruturas do País, sobretudo no acesso à educação ou ao concorrido mercado de trabalho.

Para a analista da Gerência de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Luanda Botelho, as desvantagens da população negra no âmbito educacional se manifestam desde o ensino fundamental. Porém, elas seguem aprofundadas durante o ensino médio, culminando no superior, “o que é uma questão importante para ser destacada”.

“Ter o ensino superior completo é uma característica que favorece a inserção e a qualidade da inserção no mercado de trabalho”, explica Luanda, em depoimento ao podcast semanal Minuto IBGE, uma coprodução com a Rede Nacional de Rádio.

Os resultados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) – divulgados recentemente pela instituição – demonstram que, em 2019, 90,4% das crianças brancas entre 11 e 14 anos de idade no Brasil frequentavam os últimos anos do ensino fundamental, contra 85,8% das pretas e pardas.

Já cerca de 80% dos brasileiros de cor ou raça branca de 15 a 17 anos cursavam o ensino médio, em comparação com os pretos e pardos da mesma faixa etária (66,7%). Ao avançar para o nível superior, as disparidades raciais se acentuam: a proporção de jovens brancos entre 18 e 24 anos (35,7%) era quase duas vezes maior do que a registrada nos pretos ou pardos com igual idade, cujo índice equivale a 18,9%.

Em 2019, quase metade das pessoas pretas ou pardas exercia atividades informais
Divulgação

Informalidade e desocupação

No que concerne ao mercado de trabalho, o levantamento do IBGE – elaborado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2019 – constatou que os indivíduos de cor ou raça preta ou parda têm maiores taxas de desocupação e informalidade do que os brancos.

O percentual de desocupação no País no ano passado foi de 9,3% para brancos, enquanto pretos e pardos detinham 13,6%. Considerando o universo da população ocupada, o contingente de pretos ou pardos trabalhando na informalidade corresponde a 47,4%, ao passo que os brancos eram 34,5% nessa situação.

Logo, esses índices refletem a maior presença dos negros em conjunto nas ocupações classificadas como informais – como atividades agropecuárias, com 62,7% da mão de obra, construção (65,2%), e serviços domésticos, que têm participação de 66,6%.

O coordenador da SIS, João Hallak Neto, frisa que o exercício da informalidade por pretos ou pardos é uma característica histórica, verificada em todos os anos da série da Pnad Contínua, entre 2012 e 2019. “É um grupo que requer atenção, é um grupo mais vulnerável, que não vai poder ter aposentadoria por tempo de serviço, que não tem direito a licenças remuneradas por afastamento por motivo de saúde ou licença gestante, então são mais vulneráveis em termos de pessoal ocupado”, observa.

A crescente inserção de pessoas pretas ou pardas nas atividades informais, a exemplo dos serviços domésticos sem carteira assinada – cujo salário médio mensal era de apenas R$ 755 em 2019 –, é um fator que contribui para a diminuição da renda média desse contingente. Já a população ocupada de cor ou raça branca, no ano passado, recebia em média 73,4% mais do que a preta ou parda, o que corresponde a um rendimento no valor de R$ 2.884 por mês, frente a R$ 1.663.

Da população brasileira que não estudava nem trabalhava, 17% era branca e 25,3%, preta ou parda
Jéssica Cândido/Agência IBGE de Notícias

Renda dos negros é menor que a dos brancos

Além disso, os trabalhadores brancos recebiam rendimento-hora superior aos pretos ou pardos, independentemente de nível de instrução. No entanto, a maior diferença salarial foi verificada nas pessoas com superior completo, sendo que os brancos ganhavam R$ 33,90 contra R$ 23,50 dos negros, resultando em uma remuneração média de 44,3% para o primeiro grupo.

Também pelo recorte por cor ou raça, o IBGE traçou ainda um diagnóstico do grupo populacional conhecido popularmente por “nem-nem” – formado por indivíduos de 15 a 29 anos que não estão estudando nem estão ocupados. Em 2019, 25,3% dos jovens pretos ou pardos estavam sob essas condições, frente a 17% dos brancos – diferença 1% maior do que a registrada no ano anterior, quando 25,8% dos pretos ou pardos e 18,5% dos brancos não estavam estudando nem trabalhando.

Se levar em conta a população feminina preta ou parda, o percentual indica um quadro cada vez pior: 32% das mulheres enquadradas nessa classificação de cor ou raça não estavam estudando tampouco estavam ocupadas.

Ou seja, uma jovem preta ou parda possui 2,4 vezes mais chances de estar nessa situação do que um jovem branco, cujo índice é 13,2%. As mulheres pretas ou pardas também estavam em desvantagem se forem comparadas aos homens da mesma cor ou raça (18,9%) e às mulheres brancas (20,8%). Para reverter descompassos estruturais como esses, é necessário avançar em políticas inclusivas sólidas para a população negra brasileira, proporcionando-lhe horizontes de esperança.

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