Novo clipe de Juliana Ribeiro exalta a libertação feminina pela arte
Premissa do vídeo da canção autoral Ella é de que muitas mulheres precisam ser transformadoras, sem abrir mão de sua autonomia e sua livre expressão artística
Hugo Gonçalves, jornalista (SRTE/BA 4507)
Fotos: Reprodução/YouTube/Juliana
Ribeiro
Salvador, 16 de abril de 2023
Com informações da assessoria de comunicação e das redes sociais da
cantora
Atualizada às 22h12
Inspirada na ancestralidade feminina e na força das mulheres insubmissas que fazem da arte sua ferramenta de libertação, a canção Ella, composta e interpretada por Juliana Ribeiro, ganhou um belo videoclipe, gravado no Forte de Santo Antônio Além do Carmo. A premissa do trabalho recém-lançado, do ponto de vista estético, é de que muitas mulheres precisam subverter a ordem e transformar seus espaços, sem abrir mão da sua autonomia e da sua livre expressão artística.
Foi a partir dessa ideia emancipadora que o clipe (assista abaixo) – dirigido pela cineasta baiana Lindiwe Aguiar e concebido em parceria com sua produtora audiovisual Ogunjá Produções em Vídeo – traz uma referência ao arquétipo de Oyá e da ventania de Iansã, revelando a missão de cada uma na condição de protagonistas das suas vidas e dos seus corpos, além de tudo que as rodeia.
“Lembrei de várias mulheres que são referências para mim, que nasceram com o destino traçado para serem submissas, e que foram tomadas por esse vento de Oyá e subverteram este lugar através da dança. Foi aí que a poesia começou a se concretizar. Eu fiquei imaginando, por exemplo, a vida de Dona Dalva, que nasceu para ser dona de casa em Cachoeira e, de repente, começou a puxar o samba, trazer os colegas da fábrica e o Suerdieck (fábrica de charutos) passou a agregar uma comunidade inteira”, explicou Juliana.
O clipe de Ella, além de mencionar Dona Dalva de Cachoeira, homenageia ainda outras sambadeiras e entidades religiosas afro-brasileiras. A lista é extensa: Dona Nicinha de Santo Amaro (1949-2022); Dona Cadu de São Félix, de 103 anos; Rita da Barquinha de Bom Jesus dos Pobres; Mãe Marlene de Nanã; Ebomi Nice, dirigente da Irmandade da Boa Morte; e o grupo As Ganhadeiras de Itapuã. “A ideia sempre foi homenageá-las em vida. Infelizmente, entre idealizar e gravar, Dona Nicinha nos deixou”, lamentou.
Poesia transmitida pela dança
Representando a continuidade dessas mestras da cultura popular, dez dançarinas contemporâneas traduzem no vídeo a mensagem poética de afirmação, por meio do lugar de fala e da diversidade dos seus corpos. Cabe a Negra Jhô, Ginga Aidil, Lindete Souza, Vânia Oliveira – que, por sinal, é coreógrafa de Juliana –, Nildinha Fonseca, Sueli Conceição, Ninfa Cunha, Vika Mennezes, Verônica Mucuna e Dandara Akotirene assumir essa missão. De quebra, o trabalho audiovisual traz a participação especial de Sonora Ribeiro Batista, filha de Juliana, de apenas dois anos.
Na avaliação da artista, “a dimensão poética da dança no clipe tem a intenção de tirar esta arte do lugar secundário de entretenimento, entendendo as dançarinas como protagonistas de suas próprias histórias e capazes de transformar tantas outras”. A memória afetiva da cantora também não deve ser deixada de fora do vídeo multiartístico. Por esse motivo especial, ela fez questão de prestar um tributo a suas avós, dona Lourdes Ribeiro (paterna) e dona Nair de Almeida (materna).
Em vídeo postado nas redes sociais, a diretora Lindiwe Aguiar – a quem Juliana expressou gratidão por tamanha sensibilidade e profissionalismo ao produzir o clipe – observou que a música Ella enaltece as mulheres fortes e guerreiras, travando e vencendo batalhas todos os dias. “E é um grande desafio para a gente. Foi como transportar, através de nossas lentes, a grandeza dessas mulheres. A letra (confira no final desta matéria) é riquíssima, e quando a gente procura interpretá-la, a gente vê que tem muita coisa a passar através das imagens. Eu espero que eu tenha conseguido”, salientou.
Ella é a faixa de abertura de Preta brasileira: estúdio vivo (2021), segundo álbum da cantora. O clipe da música teve seu lançamento no dia 30 de março, durante um evento na Sala de Arte Cinema do Museu, incrementado por uma roda dançada de conversa e um pocket show. A ação teve sua data escolhida naquele mês objetivando homenagear as mulheres, bem como a sua força e o seu caminhar no mundo, que acaba se tornando coletivo, no qual o florescer de uma produz frutos para todas. “Minha expectativa é que o clipe toque as pessoas pelo coração”, incentivou Juliana.
Assista, a seguir, ao clipe de Ella, e acompanhe a sua letra:
Ella
(Juliana Ribeiro)
Traz a Noite estampada na pele
Os seus cachos espumas do Mar
Descobriu
Que a sua beleza
Vem da natureza
De se empoderar
Rumpi tocou, sua alma já responde (bis)
Ella, Rainha da Roda
Ginga, faz a Gira girar
Ilá, seu corpo responde
Ella, Oxum com Oyá
Feita, que o Sagrado protege
Ifá, sambadeira de lá
Ilá, sua alma estremece
Ella, Oxum Apará
Ah! Decidiu florir
E se permitir, dança pra se libertar
Ah! Deusa insubmissa
Gosta de “dar pinta”, sua fala é seu lugar
Ah! Decidiu florir
E se permitir, dança pra se libertar
Ah, descobriu sua nobreza
Ella é bela e tem certeza,
Corpo livre, camará!
Rumpi tocou...
Olha Ella
Lá vem Ella (Ginga)
É Rainha, é Rainha
Primavera de Ilá
Ouça, bela
Preta, Ella (Ifá)
Brasileira, brasileira
Sambadeira de Ifá
Salve, Dona Nicinha de Santo Amaro,
Dona Dalva de Cachoeira, Dona Cadu!
Salve, Rita da Barquinha!
Saravá, Mãe Marlene de Nanã!
Salve, Ebomi Nice, As Ganhadeiras de Itapuã,
e as avós, Lourdes e Nair de Almeida!
Saravá!
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