Brasil, 523 anos de uma luta árdua por seus povos originários

Hugo Gonçalves, jornalista (SRTE/BA 4507)

Foto: EBC/TV Brasil

Salvador, 22 de abril de 2023, Dia Mundial do Planeta Terra e Descobrimento do Brasil

 

Ainda que escassos, nossos povos indígenas vêm resistindo à sua exploração hostil e enfrentando crises humanitárias sem precedentes

 

Habitantes originários de um imenso território nos trópicos que viria a se denominar Brasil, os povos indígenas que se encontram espalhados por aqui, ainda que escassos, vêm resistindo à sua exploração hostil, e recentemente vêm enfrentando crises humanitárias que adquiriram dimensões sem precedentes. Diversas etnias remanescentes, até hoje, convivem isoladas nas suas aldeias, ou mesmo dispersas, visando a conquistar a sua sobrevivência e a preservação da sua identidade milenar.

Quando os colonizadores portugueses cruzaram o Oceano Atlântico para ocupar as nossas terras com propósitos meramente exploratórios e mercantis, a partir de 1500, os indígenas se converteram em alvos certeiros desse virtual projeto “civilizador”. Logo, os lusitanos, valendo-se de um aparato tecnológico jamais visto até então, passaram a dizimar milhares de nativos – e, em consequência, suas tradições, seus saberes, seus costumes e seu modo de viver. Além disso, houve a escravização de expressivos contingentes indígenas, submetendo-os a trabalhos forçados e jornadas exaustivas.

Testemunhamos, nos últimos meses, crescentes tragédias humanitárias em terras originárias País afora, comprometendo brutalmente a qualidade de vida e a saúde dos autóctones, assim como o meio ambiente que os circunda. Um exemplo relevante da falta de assistência a uma população vulnerável como a indígena, resultante da inoperância do Estado brasileiro promovida pelo fracassado governo anterior, é a crise que teve como cenário a Terra Yanomami, na divisa entre Roraima, Amazonas e Venezuela.

No maior território indígena do planeta, demarcado em 1992, centenas de nativos – a maioria crianças – foram internadas em condições sanitárias gravíssimas ou vieram a óbito, em virtude de inúmeras enfermidades provocadas sobretudo devido à contaminação dos rios e do solo pelo mercúrio utilizado no garimpo ilegal, prática recorrente na região. Em resposta a essa desoladora conjuntura, a atual gestão federal, sensibilizada com o amparo aos guardiões da floresta, decidiu decretar estado de calamidade pública.

Sabemos, sem dúvida, que a luta dos nossos povos originários para manterem intactos sua memória, suas tradições e seu habitat provém de um árduo percurso de mais de cinco séculos face à sua subserviência por aqueles que demonstram suposta “superioridade” em dominá-los e explorá-los. Consiste, enfim, em uma profusão de incessantes batalhas para que os indígenas brasileiros assegurem a sua sobrevivência, associada à plena garantia de direitos e obrigações substanciais que os tornem legítimos cidadãos.

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