De todas as artes e manhas
Após três meses sem ser organizada, a Feira de Artes do Imbuí retornou, em sua 12ª edição, com alguns expositores inéditos
Feira contribui para a revelação de novos artistas e artesãos
(Foto: Hugo Gonçalves)
Produtos confeccionados caprichosamente por artistas e artesãos voltaram a ser expostos na 12ª edição da Feira de Artes do Imbuí, nos dias 6, 7 e 8 de abril, na praça principal do bairro, situado entre a Boca do Rio e a Paralela. O evento, de periodicidade mensal, sendo realizado três dias por mês, foi paralisado entre janeiro e março em razão de períodos festivos, como o Carnaval.
Tendo sua estreia em dezembro de 2009, a feira, cujas primeiras edições foram organizadas em dias próximos às datas comemorativas, como o Natal, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Dia dos Namorados e o Dia das Crianças, serve de subsídio para a divulgação dos trabalhos idealizados pelos expositores.
A artesã Nelvani Rodrigues, secretária administrativa e coordenadora de feiras da Associação dos Artesãos da Bahia (Adaba), explica que os expositores, para serem selecionados, devem ser somente artesãos, dispensando o comércio de industrializados. Outro critério seletivo é a solicitação, pelos próprios artesãos, da locação do espaço.
Vendendo aromas
Sabonetes artesanais, aromatizadores, sais de banho, escalda-pés e pulverizadores foram expostos por Rosana Manta. Professora da rede particular de ensino em Itapuã, onde mora, ela se enveredou no artesanato durante sua juventude, quando tinha cerca de 20 anos de idade, vendendo pequenas peças de crochê.
No portifólio artesanal de Rosana, há sabonetes em formato de jujubas, bombons, quindins, pudins, tortas e frutas, que ela mesma elabora, porém não são comestíveis. “Eu fui num restaurante e ganhei um pudim numa fôrma. Aí, eu tive a ideia de fazer o pudim em sabonete, e aí foi, surgindo outras ideias, como a do docinho que está na moda, o cupcake, que eu reproduzi em sabonete”, conta a artesã e professora, hoje com 50 anos.
Sabonetes em formato de comestíveis (acima, à direita) são elaborados e vendidos por Rosana Manta (acima, à esquerda)
(Fotos: Hugo Gonçalves)
O cupcake, de acordo com ela, é uma espécie de torta, coberta com glacê e caldas, e finalizada com frutas. Para produzir as mercadorias expostas em seu estande, Rosana utiliza matérias-primas, como base glicerinada – no caso dos sabonetes –, essências, óleos essenciais, álcool de cereais, fixadores para perfume e corantes alimentícios, que são atóxicos e, portanto, inofensivos à saúde. Todos os produtos que Rosana comercializa levam a etiqueta Mimos da Rô.
Rosana Manta elucida que o mercado direcionado à arte de confeccionar produtos aromatizados é incipiente em Salvador. “Na nossa cidade, os materiais para esse tipo de artesanato são limitados, e o pouco que encontramos é caro. Eu procuro sempre baratear o produto para o cliente”, reivindica Rosana.
Segundo a artesã, as principais lojas do ramo são a Maíz Essências, no Centro e na Pituba, a Palácio das Artes & Essências, no Centro e nos shoppings Iguatemi e Salvador Norte, e a Tok Essências, vizinha à Feira de Itapuã.
Na base da criatividade
Artefatos ornamentais e utilitários à base de papel são feitos pelo autônomo José Dantas, 53 anos. Ele apelou para sua criatividade ao bolar porta-retratos, caixas, mealheiros e vasos. “Várias pessoas dão jornal. O resto a gente adquire. Nós temos também assinaturas”, diz José.
O procedimento para a feitura dos artigos, para ele, é fácil. Basta recortar os papéis, enrolá-los, colá-los, envernizá-los e impermeabilizá-los. Sua esposa, Maria da Paixão, a Nalva, confecciona colares, brincos, pulseiras, chaveiros, passadeiras para cabelos, bolsas e outros utensílios. Os produtos que José e Nalva fazem, cujos preços oscilam entre R$ 1 e R$ 40, são comercializados pelo autônomo.
A estilista, artesã e DJ paulistana Lúcia Boness, 51 anos, radicada em Salvador há mais de 30, vende vestuários e acessórios à base de couro, que, segundo ela, é um material sofisticado. Lúcia divulga seu trabalho para outros estados e países. Sua empresa, a Luciart Arte em Couro, não tem loja fixa, pois participa de eventos anuais, como a Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos, interior de São Paulo, a Festa Internacional da Agropecuária (Fenagro) e a Exporural, estas últimas no Parque de Exposições.
Acessórios em couro, como bolsas sofisticadas, levam a assinatura de Lúcia Boness
(Foto: Divulgação)
Lúcia explica porque, ao elaborar seus produtos, a exemplo de pulseiras, bolsas e cintos, ela escolheu o famoso desenho animado Os Flintstones como influência. “Porque eu achei legal, despojado, fashion, aproveitando as partes bem lascadas do couro e dando um efeito rústico”, conta ela.
O público-alvo das tendências que a artesã e estilista desenvolve são os consumidores dos Estados Unidos e da Europa. Para Lúcia Boness, eles a escolheram pelo primoroso trabalho que ela concebe, pelo fato de ser “não convencional, único e exclusivo”. Além de executar peças em couro, Lúcia, atualmente, pretende desenvolver uma loja virtual.
Os artefatos produzidos por Lúcia não são necessariamente country. “O couro é igual a rock’n’roll, pois nunca morre. Pode ser usado em quaisquer situações e ambientes. Toda mulher que se preze pode usar uma peça de couro no seu guarda-roupa.” Por serem manufaturados em um material não efêmero e valioso, os produtos são vendidos em uma faixa de valores compreendida entre R$ 8 e R$ 600.
Os artefatos produzidos por Lúcia não são necessariamente country. “O couro é igual a rock’n’roll, pois nunca morre. Pode ser usado em quaisquer situações e ambientes. Toda mulher que se preze pode usar uma peça de couro no seu guarda-roupa.” Por serem manufaturados em um material não efêmero e valioso, os produtos são vendidos em uma faixa de valores compreendida entre R$ 8 e R$ 600.
Marilena Autran (no alto) recicla plásticos, alumínio e toalhas para executar suas peças (acima)
(Fotos: Hugo Gonçalves)
Debutantes no evento
Mineira de Itabira, a artesã Marilena Autran, 64 anos, também se fixou na Bahia há cerca de 30 anos. Pela primeira vez na Feira de Artes do Imbuí, a conterrânea do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e sobrinha de segundo grau do ator Paulo Autran (1922-2007) trabalha com artes há seis anos.
Ela produz e comercializa peças à base de materiais recicláveis, como corpos e tampinhas de garrafas Pet, latinhas de alumínio e CDs. Dentre os produtos estão bonequinhos, palhacinhos, porta-alfinetes, embalagens presenteáveis, carrinhos, vaivens, chocalhos, maracas e dançarinos do ventre.
Marilena destaca a importância da reutilização de plásticos e metais para a humanidade: “Não deixar que os materiais sejam biodegradáveis.” A partir deles, ela faz também tique-taques (presilhas), brincos de viés, pulseiras de correntes com crochê, chaveiros e anjinhos de pontas metalizadas, e personaliza, com motivos decorativos, toalhinhas de mão.
Duas profissionais da área de saúde, também debutantes na Feira de Artes do Imbuí, aglutinaram-se em torno de uma só paixão: o artesanato. Foi aí que a técnica em enfermagem Sebastiana Oliveira Santana, a Sesé, 40 anos, e sua filha, a técnica em radiologia Danae Oliveira, 25, fundaram a Koarte’s Artesanato. A microempresa, com quase um ano de existência, é especializada em customização de materiais em placa de fibra de madeira de média densidade (MDF).
Danae considera que a prática do artesanato une o útil ao agradável. “É uma segunda opção de ganhos, fora que é uma satisfação fazê-lo, e é prazeroso”, declara ela. Por quê Koarte’s? Segundo Danae, o nome da empresa, da qual ela é sócia, resulta da junção da onomatopeia do sapo – coaxar – com a palavra arte.
Raízes baianas
Focando no movimento afro-brasileiro, a artista plástica e professora Bárbara Maria Villas Boas, conhecida intimamente como Vidaarth, pinta quadros das mais variadas dimensões. A maioria das obras espelha a ancestralidade da Bahia, através da precisão artística e da riqueza de detalhes dos elementos típicos, tais como orixás e negros, além de abstratos clássicos.
Com 45 anos de “pincel na mão”, Vidaarth, proprietária do ateliê homônimo em Itapuã, onde ela reside há 11 anos, emprega técnicas de óleo sobre tela, caricaturas com cabaças e encáustica. Esta última, de acordo com a artista, refere-se à textura que eternizava as tumbas do Egito, trazendo-a para as telas a fim de adquirir-lhes durabilidade.
Obras de Vidaarth (acima, sendo expostas em 2009, no saguão da Assembleia Legislativa) retratam com precisão a ancestralidade baiana
(Foto: Divulgação)
Por conta própria
Nelvani Rodrigues, da Adaba, afirma que a divulgação da Feira de Artes do Imbuí, embora apresente metodologias diferentes, é bancada por ela própria. “Eu mesma faz distribuição de panfletos, panfletagem, o carro de som vem aqui para divulgar a feira. Sou polivalente”, entusiasma-se Nelvani, uma das organizadoras do núcleo do Imbuí da associação.
Nelvani Rodrigues explica que associação contesta critério do Mauá
(Foto: Hugo Gonçalves)
A entidade, ressalta a dirigente, contesta o critério adotado pelo Instituto Mauá, autarquia do governo estadual, para classificar os artesãos, que é o fato de eles confeccionarem seus artefatos a partir de matérias-primas extraídas da natureza. O Mauá, de forma simultânea, adota e contradiz os critérios de filiação dos profissionais.
Realizada pela Adaba em parceria com a Associação dos Moradores do Parque Residencial Guilherme Marback e a Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão de Salvador (Setad), a Feira de Artes do Imbuí será deslocada para o Canal do Imbuí no período de 5 a 7 de maio, em decorrência da ampliação da demanda de expositores. “Nós vamos dar um passo à frente, transferindo o espaço para o Canal do Imbuí devido ao aumento do número de artesãos”, anuncia Nelvani.
Comentários
AGUARDO A SUA CORREÇÃO
NELVANI
AGUARDO A SUA CORREÇÃO
NELVANI
9 de junho de 2011 23:56
Nesta reportagem, escrevi que, na Feira de Artes do Imbuí, você banca apenas a divulgação.
Obrigado, Hugo Gonçalves.