Doloroso tráfego
Me acostumar com os assíduos congestionamentos turbulentos em grandes avenidas implica na expansão de sintomas na minha cabeça, sem comprometer minha lucidez compreensiva, sapiencial, cognitiva, emotiva e afetiva. Percebo que, ao testemunhar os empecilhos fugazes na locomoção dos meios de transporte, estou evidentemente com cefaleia ou dor de cabeça, sequer acompanhada de transtorno mental.
Esse doloroso temor neurológico me deixou delicadamente exausto, numa temporalidade subsequente a uma ocupação automobilística monstruosa no sentido Aeroporto de uma das avenidas mais movimentadas da minha urbe natal: a Avenida Governador Luiz Viana Filho. Ou, entre nós, a Paralela, atualmente interferida pela megaespeculação imobiliária. Na pista, além de quilômetros inteligíveis de pavimentação asfáltica, só carros, carros e carros.
Não há nada de apoteótico, de esplêndido, na Avenida Paralela, onde um expansivo aglomerado motorizado se consolidou no assoalho negro betuminoso, conhecido pela nomenclatura asfalto. O que vi hoje, no retorno ao meu benigno lar, foi aquela branda enxaqueca, essa inesperada celeuma, tendo o final de uma manhã acentuadamente quente e ensolarada como plano de fundo para uma deprimente rotina evidenciada 24 horas, 1.440 minutos e 86.400 segundos diários.
Incômodo para motoristas e passageiros, porém habitual, o congestionamento é partícipe de um ciclo urbano em idêntica progressão ininterrupta. Variadas e usuais são as suspeitas que o provocam: devido às interdições de uma pista, tornando-a provisoriamente intrafegável, em razão de um infortúnio, como qualquer acidente, ou de qualquer acontecimento insólito ou imprevisível. Congestionamento, vulgo engarrafamento, é uma senil e inesgotável excrescência.
Valendo-me da minha nutrida e inocente sabedoria, estou cônscio da factível coabitação dissonante e desconcertante que perpassa as cidades. Esse desconcerto, horrível e atormentador protagonista, presume e gera mesmo inabilidade sem precedentes em meio a uma constância na frota veicular soteropolitana. São, dia após dia, complicações semelhantes no trajeto de volta para minha casa, mas a ida para outros lugares continua aprazível, com evidências aparentes de comodidade.
Transtornos de uma ordem volumosa em uma metrópole como Salvador, equiparados a cefaleias humanas, nunca são solucionados e equacionados simplesmente. São sinônimos – e indícios – de turbulência casual disseminada por dores de cabeça para quem está transitando pelas ruas, avenidas, vias expressas, vias arteriais, estradas vicinais, rodovias e prováveis vias por onde a morosidade ou nulidade da concentração de movimento é perspicazmente veloz, voraz e veraz.
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