Morre em São Paulo o governador Marcelo Déda, de Sergipe

Licenciado do cargo, político petista estava internado desde maio no Hospital Sírio-Libanês, vítima de câncer, doença que lutava desde 2009; corpo já chegou na tarde de hoje em Aracaju, onde está sendo velado

Com informações do portal G1 e das agências Brasil e Estado
 
Morte do governador sergipano, que também foi deputado e prefeito, foi anunciada às 4:45 da madrugada
(Foto: Agência Brasil)
 
Todo o Sergipe, o Nordeste e o Brasil amanheceram cobertos de luto. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), o advogado e governador licenciado do estado, Marcelo Déda Chagas, morreu na madrugada desta segunda-feira (2), aos 53 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de um câncer no estômago e no pâncreas. Déda estava internado no hospital desde 25 de maio, com dificuldades para se alimentar.
 
O político, monitorado pelas equipes médicas conduzidas pelos doutores Paulo Hoff, Raul Cutait e Roberto Kalil Filho, veio a óbito às 4:45, horário de Brasília. No Sírio-Libanês, ele havia sido diagnosticado com a doença em outubro de 2009, quando foi submetido a uma cirurgia para a remoção de um nódulo benigno no pâncreas. Em 2012, também no mesmo hospital, havia retomado o tratamento quimioterápico de uma neoplasia gastrointestinal, sofrendo os consequentes efeitos colaterais da medicação.
 
Pelo Twitter, familiares do chefe do Executivo comentaram, em sua conta pessoal, para anunciar a sua morte prematura. “O céu acaba de ganhar mais uma estrela, Marcelo Déda voou ‘nas asas da quimera’. Paz & Bem – família Marcelo Déda”, disse a mensagem, postada no microblog.
 
Déda cumpria o seu segundo mandato consecutivo como governador quando de sua morte. Em seu lugar, assumirá em caráter efetivo o vice Jackson Barreto (PMDB), ex-prefeito de Aracaju, com quem compôs chapa em 2010, quando o petista se reelegeu. Barreto vinha ocupando o cargo interinamente desde 27 de maio, quando o titular se afastaria por 15 dias para se dedicar à luta contra o câncer em São Paulo.
 
Saiu do interior para fazer política na capital
 
Natural do município de Simão Dias, no agreste sergipano, onde nasceu em 11 de março de 1960, transferiu-se para Aracaju aos 13 anos de idade para concluir seus estudos. Segundo o portal G1, Déda iniciou sua trajetória na militância política desde o movimento estudantil secundarista, no final da década de 1970, no Colégio Atheneu, onde cursava o ensino médio – na época o 2º grau. Também naquele período, se mobilizou na arena cultural atuando como cineasta amador, além de ajudar os estudantes a organizar cineclubes.
 
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde cursou entre 1980 e 1984, Déda conheceu, numa visita à capital, em 1981, filmada por ele próprio com uma câmera Super-8, o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, que décadas depois viria a ser presidente da República. Participou da fundação do PT em Sergipe na década de 1980, sendo um dos artífices da consolidação da legenda no menor estado brasileiro em extensão territorial.
 
Vice de Déda, peemedebista Jackson Barreto vinha ocupando interinamente a cadeira de titular
(Foto: Marina Fontenele/G1 Sergipe)
 
Das perdas aos primeiros ganhos
 
Sua estreia na esfera eleitoral aconteceu em 1982, quando concorreu a uma vaga para o Legislativo estadual, mas não obteve êxito. Dois anos mais tarde, compareceu a comícios em Sergipe dentro do movimento nacional Diretas Já, que implorava eleições diretas para presidente da República.
 
Marcelo Déda teve seu nome homologado pelos petistas para disputar as eleições municipais de Aracaju, em 1985. Segundo a Agência Brasil, a candidatura teve o objetivo de o PT se consagrar como um partido nacional. Então com 25 anos e sem recursos para a campanha, Déda produziu todos os programas eleitorais de televisão ao vivo com apenas uma bandeira do PT fixada na parede do cenário, montado no Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE-SE).
 
“A lei me facultava fazer ao vivo, então eu ia cru, pregava uma bandeira com durex e estava pronto o cenário do ‘ao vivo’. Aquilo que era uma desvantagem virou uma vantagem porque me transformei no âncora do programa eleitoral”, contou, em sua página oficial na internet.
 
Naquela oportunidade, Déda, mesmo com recursos para a confecção de 5 mil cartazes, ficou em segundo lugar – colheu nas urnas uma cifra aproximada de 19 mil votos –, atrás do peemedebista Jackson Barreto, que acabou sendo eleito prefeito da capital sergipana, com o respaldo do então governador João Alves Filho, na época filiado ao PFL (hoje DEM), atual gestor municipal.
 
Um ano depois, elegeu-se deputado estadual com 33 mil votos. Depois de perder a reeleição para uma das cadeiras da Assembleia Legislativa de Sergipe em 1990, o petista foi eleito deputado federal em 1994 e, quatro anos mais tarde, Déda conquistou um segundo mandato na Câmara.
 
Em 2006, Déda (à direita, ao lado de Dilma, no hospital) venceu as eleições para o governo de Sergipe com 52% dos votos válidos
(Foto: Divulgação/ASN – Outubro de 2013)
 
Prefeito, reeleito; governador, idem
 
Déda obteve um triunfo espetacular ao ser eleito prefeito de Aracaju no primeiro turno do pleito municipal de 2000, no qual detinha a predileção de 52,8% do eleitorado. Na prefeitura, ele construiu dois hospitais, planejou a construção do novo viaduto do Distrito Industrial de Aracaju (Dia) e fez do Forró Caju um dos mais relevantes eventos juninos do país, entre outras iniciativas.
 
Com a renovação do mandato sacramentada em 2004, também no primeiro turno, renunciou à prefeitura para concorrer ao Palácio dos Despachos, sede do governo de Sergipe, em 2006. Foi eleito no primeiro turno com 52% dos votos válidos – seu principal adversário era o então chefe do Executivo estadual, João Alves Filho (PFL), que postulava a reeleição – tendo como plataforma o desenvolvimento no interior do estado, fundamentado em obras de infraestrutura.
 
Reelegeu-se em 2010 pela coligação Para Sergipe Continuar Seguindo em Frente, formada por dez legendas, entre elas PT, PMDB, PDT, PC do B, PSB, PSC, PRB e PR. Em entrevista à Agência Brasil, Marcelo Déda prometeu à época que o foco de sua gestão durante o segundo quadriênio (2011 a 2014) seria o combate à violência, o aprofundamento e a expansão das políticas sociais e a continuidade das ações em infraestrutura iniciadas no seu primeiro ano de governo.
 
Casado por duas vezes, o político, eloquente e exímio orador, deixou cinco filhos: Marcela, Yasmim e Luísa, geradas durante seu primeiro casamento com Márcia; e João Marcelo e Mateus, frutos do enlace matrimonial com a jornalista Eliane Aquino, primeira-dama de Sergipe.

Velório no Palácio Museu Olímpio Campos foi introduzido por missa
(Foto: Marina Fontenele/G1 Sergipe)
 
Velório acontece em museu de Aracaju
 
O corpo de Déda, que chegou a Aracaju na tarde desta segunda-feira em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), disponibilizado a pedido da presidente Dilma Rousseff (PT), está sendo velado no Palácio Museu Olímpio Campos, no centro da cidade, fechado somente para familiares e autoridades. A cerimônia começou às 19 h de hoje, com uma missa celebrada pelo arcebispo Dom Palmeira Lessa.
 
Antes de transladar para Aracaju, os restos mortais, que saíram do Hospital Sírio-Libanês, onde faleceu, seguiram ao Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo em um carro fúnebre no final da manhã. Na capital sergipana, onde a aeronave decolou no Aeroporto Santa Maria por volta das 15 h, de acordo com a assessoria do governo estadual, o corpo foi transportado em cortejo pelo Corpo de Bombeiros.
 
Corpo foi transportado para Aracaju em um avião da FAB cedido pela Presidência da República
(Foto: Divulgação/ASN)
 
Compareceram ao cortejo fúnebre com a passagem do carro do Corpo de Bombeiros o governador em exercício de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), a primeira-dama Eliane Aquino, os filhos de Marcelo Déda, os governadores Jaques Wagner (PT), da Bahia, amigo do falecido, e Cid Gomes (Pros), do Ceará, além de secretários de Estado, prefeitos, deputados, ministros, diversas autoridades e centenas de sergipanos. Eles já estão acompanhando o velório.
 
Por onde passava, do aeroporto até o Palácio Museu Olímpio Campos, o corpo do governador foi ovacionado pela multidão, com a bandeira sergipana, camisas, bandeiras e bonés do PT. Barreto disse que esteve com Déda pela última vez há quinze dias. “Ele me perguntou se eu estava inaugurando as obras e pediu para eu continuar me comprometendo em realizar nossos projetos. A morte dele é difícil até para nós, cristãos, que acreditamos nos ensinamentos de Cristo”, afirmou, consternado.
 
A assessoria do Executivo sergipano notificou que o velório vai prosseguir até a manhã desta terça-feira (3). De lá, confirme familiares do governador licenciado, seu corpo fará translado para o Cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas, em Salvador – já que em Sergipe não há crematório –, onde será carbonizado no final da tarde de amanhã.

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