Em novela, Tony Ramos encarnou surdo-mudo
Ator fez história
em Sol de verão como o sensível e inteligente Abel, que
havia perdido a audição em decorrência de meningite
Com informações do Almanaque da TV Globo e do portal Memória Globo
Com informações do Almanaque da TV Globo e do portal Memória Globo
Mesmo convivendo com a surdez, Abel se valeu de todos os meios para se comunicar e aproveitou sua vida ao máximo
(Foto: Divulgação/TV Globo)
Jovem, inteligente, habilidoso, sensível e divertido.
Esses foram os atributos que delineavam perfeitamente o surdo-mudo Abel Spina, vivido
com maestria por Tony Ramos em Sol de
verão, de Manoel Carlos. Na trama, dirigida por Roberto Talma, Jorge
Fernando e Guel Arraes e transmitida pela TV Globo em seu horário nobre entre
1982 e 1983, o ator, que coleciona trabalhos heroicos em seu imenso currículo, encarnava
um personagem que, durante a infância, havia perdido a audição.
O convívio perpétuo de Abel com a surdez surgiu quando
ele tinha oito anos, em decorrência de uma meningite. Contudo, o rapaz, que
escondeu suas lástimas com uma felicidade aparente, se valeu de todos os
recursos prováveis para se comunicar e prosseguiu aproveitando ao máximo sua
vida. Seu pai, que havia sido acusado de crime de curandeirismo e se refugiou
para não ser preso, o abandonou aos 18 anos, tornando-o um indivíduo mais
recluso.
Logo Abel, obstinado, passou a se alojar num sobrado
e se arriscar como empregado na oficina do mecânico Heitor Kock, vivido pelo
saudoso Jardel Filho, amicíssimo de Maneco. O veterano ator, que interpretava
um dos protagonistas de Sol de verão,
faleceu em 19 de fevereiro de 1983, vítima de um ataque cardíaco fulminante,
enquanto a novela, ambientada na zona sul do Rio de Janeiro, ainda estava no ar.
Na oficina, ao consertar coisas, Abel pôs em evidência sua habilidade.
Também tinha fascínio pela botânica por cultivar sua
paixão por plantas. Aficionado por futebol e paqueras e apreciador de chope, o
surdo-mudo teve a identidade da sua mãe totalmente ignorada, que seria desvendada no último capítulo: era Sofia (Yara Amaral). Por ser aluno de
uma escola especializada na educação de deficientes auditivos, ele se tornou
amigo de Rachel Porto Machado, personagem de Irene Ravache, que conseguiu um
emprego de professora, ministrando aulas para uma turma de surdos.
Visitas a instituto
Para que Tony Ramos interpretasse Abel, o ator fez
laboratório com visitas frequentes ao Instituto Nacional de Educação dos Surdos,
situado no bairro das Laranjeiras, zona sul carioca. Foi naquele local onde ele,
com sua filmadora portátil, registrou algumas imagens de um casal de
deficientes auditivos que tinha um filho nascido sem problemas de audição. As
gravações lhe permitiram que ele pudesse observar os sinais, os gestos e as
expressões. Tony contou que presenciou até a vibração do piso provocada pela
música.
Além de familiarizar-se com a linguagem dos sinais, ele
aprendeu a não piscar em circunstâncias incômodas, como as marteladas e o
barulho dos motores de automóveis, situações rotineiras na oficina onde seu
personagem trabalhava. Seu enorme êxito em Sol
de verão gerou repercussão entre o público em todo o país, com predomínio
entre as crianças, que souberam imitar a linguagem dos surdos-mudos nas escolas.
O jornal O
Globo, aproveitando-se desse impacto, chegou a publicar o alfabeto manual dos
sinais, que também foi comercializado nas ruas das grandes cidades brasileiras por
vendedores ambulantes em forma de panfletos. Neles constavam desenhos das mãos
humanas reproduzindo cada letra e cada algarismo, popularizando os gestos que
Abel exercitava na ficção. Tão verossímeis quanto o enredo da novela das oito, contemplado
por romances, mistérios, reviravoltas e uma sensibilidade inigualável.
Confira, no vídeo abaixo, alguns momentos de Tony Ramos como Abel em Sol de verão. Note que as primeiras cenas são sonorizadas com uma versão instrumental da música Tempos modernos, megassucesso de Lulu Santos lançado em 1982, incluída na trilha sonora nacional da novela:
Comentários