Definição, atributos e metodologias de um perfil jornalístico
Hugo Gonçalves e Lorenlai Caribé
Não podemos dar início a este artigo sem explicar o conceito de jornalismo literário, gênero em que o perfil se enquadra. O jornalismo literário é a face romântica do jornalismo em geral, pois nele o jornalista pode criar seu texto de uma maneira mais profunda e detalhada. Esta característica foge do jornalismo de noticiário, aquele que é mais visto e mais superficial também, em que a objetividade é prioridade na hora da notícia. Segundo Felipe Pena (2006), o jornalismo literário tem sete características, a famosa estrela de sete pontas, na qual ele descreve os caminhos para um jornalista fazer um bom texto literário.
Não podemos dar início a este artigo sem explicar o conceito de jornalismo literário, gênero em que o perfil se enquadra. O jornalismo literário é a face romântica do jornalismo em geral, pois nele o jornalista pode criar seu texto de uma maneira mais profunda e detalhada. Esta característica foge do jornalismo de noticiário, aquele que é mais visto e mais superficial também, em que a objetividade é prioridade na hora da notícia. Segundo Felipe Pena (2006), o jornalismo literário tem sete características, a famosa estrela de sete pontas, na qual ele descreve os caminhos para um jornalista fazer um bom texto literário.
Não se trata apenas de fugir das amarras da redação ou de exercitar a veia literária em um livro-reportagem. O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os recursos do Jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira. (PENA, 2006, p. 13)
O perfil jornalístico é uma análise e uma
exposição das opiniões de um determinado entrevistado. Pode ser confundido com
uma biografia, mas existem algumas diferenças. Mesmo sendo formatos
jornalísticos visivelmente similares, ambos de caráter descritivo, perfil e
biografia não devem ser confundidos. Sergio Vilas Boas (2003) justifica essa
distinção quanto às suas dimensões textuais, salientando que o primeiro formato
focaliza exclusivamente episódios selecionados da vida de uma pessoa, ao passo
que nas biografias, em geral publicadas em livros, os autores pormenorizam a
história de uma personagem. Logo, os
perfis, de natureza autoral, são breves narrativas tanto na extensão quanto no
prazo de validade de algumas de suas informações e interpretações do repórter.
Vilas Boas (2003) mencionou dois exemplos emblemáticos de perfis publicados em revistas no exterior e no Brasil, em geral calcados no New Journalism estadunidense da década de 1960, um híbrido de jornalismo e literatura de ficção. Ao analisar o perfil de Frank Sinatra (1914-1998), assinado por Gay Talese, um dos mais representativos jornalistas dos Estados Unidos, para a revista Esquire de abril de 1966, Vilas Boas (2003) o julgou como “exemplar”. Intitulado “Frank Sinatra has a cold” (Frank Sinatra está resfriado), o texto mostra como o cantor e as pessoas que o acompanhavam interagiam entre si e com os outros, aponta os impactos e as coincidências entre as celebridades e os “mortais”, relembra e interpreta os principais momentos de sua infância em Hoboken, Nova Jersey, sua cidade natal (VILAS BOAS, 2003).
Gay Talese elaborou o perfil de Sinatra durante suas andanças em estúdios, programas televisivos, cassinos, lutas de boxe e bares. A fim de redigi-lo, Talese se valeu de ações, diálogos, descrições evocativas, elementos irônicos e humorísticos e um grau de intimidade, possível apenas através de conversas realizadas com amigos, familiares e até desafetos do cantor, além de fartas sessões de pesquisas e leituras. Atrelado à tendência do New Journalism, o perfil é, por conseguinte, típico de uma época em que recursos originários da literatura ficcional revolucionaram o jornalismo (VILAS BOAS, 2003).
Os perfis mais marcantes no Brasil foram publicados na extinta revista mensal Realidade, da Editora Abril, que circulou entre 1966 e 1976. Neles, os repórteres foram incentivados a conduzir diálogos interativos com o propósito de humanizá-los ao máximo. Nessa perspectiva, eles puderam articular informações inerentes ao entrevistado, como o seu cotidiano, seus projetos e suas obras, e argumentos opinativos deste sobre temas ligados a vários âmbitos da contemporaneidade. Entre os perfis publicados em Realidade, Vilas Boas (2003) menciona uma reportagem da edição de novembro de 1968, explorando a vida íntima do cantor e compositor Roberto Carlos. Bem diferente dos perfis jornalísticos feitos no passado, que valorizavam os aspectos humanistas, os textos caracterizados como perfis na atual imprensa brasileira quase ignoram esse paradigma, vigente há mais de quarenta anos (VILAS BOAS, 2003).
Há controvérsias, por parte de alguns autores, com relação a uma exata e definida classificação dos perfis jornalísticos. Para Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), existem três tipos desse gênero textual: o perfil clássico propriamente dito, que visa enfocar o protagonista de uma história; o miniperfil, que consiste num breve enfoque sobre personagens secundárias; e o multiperfil, quando autores diversos escrevem textos referentes a um só objeto da narração. A redação do multiperfil geralmente ocorre por ocasião da morte do perfilado.
Entretanto, Amanda Silva e Wellington Pereira (2010) discordam da classificação proposta por Sodré e Ferrari:
Vilas Boas (2003) mencionou dois exemplos emblemáticos de perfis publicados em revistas no exterior e no Brasil, em geral calcados no New Journalism estadunidense da década de 1960, um híbrido de jornalismo e literatura de ficção. Ao analisar o perfil de Frank Sinatra (1914-1998), assinado por Gay Talese, um dos mais representativos jornalistas dos Estados Unidos, para a revista Esquire de abril de 1966, Vilas Boas (2003) o julgou como “exemplar”. Intitulado “Frank Sinatra has a cold” (Frank Sinatra está resfriado), o texto mostra como o cantor e as pessoas que o acompanhavam interagiam entre si e com os outros, aponta os impactos e as coincidências entre as celebridades e os “mortais”, relembra e interpreta os principais momentos de sua infância em Hoboken, Nova Jersey, sua cidade natal (VILAS BOAS, 2003).
Gay Talese elaborou o perfil de Sinatra durante suas andanças em estúdios, programas televisivos, cassinos, lutas de boxe e bares. A fim de redigi-lo, Talese se valeu de ações, diálogos, descrições evocativas, elementos irônicos e humorísticos e um grau de intimidade, possível apenas através de conversas realizadas com amigos, familiares e até desafetos do cantor, além de fartas sessões de pesquisas e leituras. Atrelado à tendência do New Journalism, o perfil é, por conseguinte, típico de uma época em que recursos originários da literatura ficcional revolucionaram o jornalismo (VILAS BOAS, 2003).
Os perfis mais marcantes no Brasil foram publicados na extinta revista mensal Realidade, da Editora Abril, que circulou entre 1966 e 1976. Neles, os repórteres foram incentivados a conduzir diálogos interativos com o propósito de humanizá-los ao máximo. Nessa perspectiva, eles puderam articular informações inerentes ao entrevistado, como o seu cotidiano, seus projetos e suas obras, e argumentos opinativos deste sobre temas ligados a vários âmbitos da contemporaneidade. Entre os perfis publicados em Realidade, Vilas Boas (2003) menciona uma reportagem da edição de novembro de 1968, explorando a vida íntima do cantor e compositor Roberto Carlos. Bem diferente dos perfis jornalísticos feitos no passado, que valorizavam os aspectos humanistas, os textos caracterizados como perfis na atual imprensa brasileira quase ignoram esse paradigma, vigente há mais de quarenta anos (VILAS BOAS, 2003).
Há controvérsias, por parte de alguns autores, com relação a uma exata e definida classificação dos perfis jornalísticos. Para Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), existem três tipos desse gênero textual: o perfil clássico propriamente dito, que visa enfocar o protagonista de uma história; o miniperfil, que consiste num breve enfoque sobre personagens secundárias; e o multiperfil, quando autores diversos escrevem textos referentes a um só objeto da narração. A redação do multiperfil geralmente ocorre por ocasião da morte do perfilado.
Entretanto, Amanda Silva e Wellington Pereira (2010) discordam da classificação proposta por Sodré e Ferrari:
Primeiro porque, caso assim fosse, o chamado miniperfil estaria mais próximo ao trecho de uma reportagem ou a abertura de uma entrevista, e segundo, o chamado multiperfil, mais voltado à opinião de vários indivíduos sobre a mesma pessoa, como no caso do enfoque dado à opinião dos especialistas ao longo de uma reportagem. (SILVA; PEREIRA, 2010, p. 3)
Do ponto de vista da metodologia, os pesquisadores
classificam o perfil jornalístico conforme três atributos principais: pauta
caprichada, entrevista e amparo do perfil no indivíduo que se transformará na
personagem. A primeira característica, que consiste numa pauta bem acabada,
resulta de uma longa pesquisa efetuada antes, durante e depois, a fim de tornar
a conversa inicial um diálogo envolvente. Para os autores, a entrevista, seja
presencial ou não, deve ser aberta, com a consolidação de um esquema baseado no
processo autor-perfilado-autor-perfil-leitor. Nesse ponto, há a possibilidade
de o entrevistador explorar os momentos de uma vertente jornalística que prima
pela vida e por quem efetivamente participa dela (SILVA; PEREIRA, 2010).
A terceira e última característica do perfil, de acordo com critérios metodológicos, trata-se da necessidade de ampará-lo no indivíduo, para ser transformado, no texto, em personagem. Silva e Pereira (2010) ponderam que, nesse ponto, a atuação da personagem ao longo do encontro estimula o autor do perfil a observá-la de um determinado modo, que mais tarde permanecerá, dizendo respeito exclusivamente àquele momento. Logo, a construção da persona no perfil poderá variar conforme o limiar de quem ela é, de quem gostaria de ser e do que a sociedade aprova ou não dela.
Referências
PENA, Felipe. Jornalismo literário. São Paulo: Contexto, 2006.
SILVA, Amanda Tenório Pontes da; PEREIRA, Wellington José de Oliveira. A possível relação entre o perfil jornalístico e o perfil nas mídias digitais. In: Revista Eletrônica Temática, João Pessoa, ano VI, n. 11, nov. 2010. Disponível em: http://www.insite.pro.br/2010/Novembro/perfil_jornalistico_pereira.pdf. Acesso em: 8 set. 2012.
SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. 5. ed. São Paulo: Summus, 1986.
VILAS BOAS, Sergio. Perfis e como escrevê-los. São Paulo: Summus, 2003.
A terceira e última característica do perfil, de acordo com critérios metodológicos, trata-se da necessidade de ampará-lo no indivíduo, para ser transformado, no texto, em personagem. Silva e Pereira (2010) ponderam que, nesse ponto, a atuação da personagem ao longo do encontro estimula o autor do perfil a observá-la de um determinado modo, que mais tarde permanecerá, dizendo respeito exclusivamente àquele momento. Logo, a construção da persona no perfil poderá variar conforme o limiar de quem ela é, de quem gostaria de ser e do que a sociedade aprova ou não dela.
Referências
PENA, Felipe. Jornalismo literário. São Paulo: Contexto, 2006.
SILVA, Amanda Tenório Pontes da; PEREIRA, Wellington José de Oliveira. A possível relação entre o perfil jornalístico e o perfil nas mídias digitais. In: Revista Eletrônica Temática, João Pessoa, ano VI, n. 11, nov. 2010. Disponível em: http://www.insite.pro.br/2010/Novembro/perfil_jornalistico_pereira.pdf. Acesso em: 8 set. 2012.
SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. 5. ed. São Paulo: Summus, 1986.
VILAS BOAS, Sergio. Perfis e como escrevê-los. São Paulo: Summus, 2003.
Comentários