Estação descuidada

Negligência. Um vocábulo avassalador invade grande parcela das estações de transbordo baianas por causa da neutralidade na sua manutenção permanente, assim como em qualquer equipamento construído e mantido sob a supervisão, responsabilidade e tutela governamentais. Por que o povo, que depende tanto do ônibus para alcançar seu deslocamento, maltrata esses patrimônios vitais para tal fim?

A resposta é exata, óbvia, consistente, direta e simplória. Ressalto que os próprios usuários não são zelosos e cônscios na conservação e na limpeza dos terminais de transporte urbano de passageiros e de suas dependências. Eles jogam lixo ao ar livre, destroem sanitários, depredam lixeiras e fazem suas necessidades fisiológicas no chão, tudo com o único propósito de transgredir, infringir e violar a lei.

Por exemplo, durante as minhas peripécias pelo centro de Salvador, presencio vergonhosamente episódios que nos deixam apreensivos na maior estação de transbordo da cidade. Na Estação da Lapa, complexo monumental de dez plataformas - cinco térreas e cinco subterrâneas -, erigido em aço e argamassa armada, a lucidez no tamanho das negligências é observável, ecoando na totalidade de suas áreas.

Em operação desde novembro de 1982, a Estação da Lapa teve suas últimas obras de requalificação e valorização executadas em 1999, mas em caráter emergencial. Mesmo assim, seus problemas evidentes persistem, pois os usuários não sabem conservá-la para a posteridade visando obter uma melhor condição física, estrutural e patrimonial. A revitalização no terminal (reforma, reordenamento e asseios) está longe de tornar-se realidade.

O que se enxerga no celebérrimo prédio de concreto sustentado por cabos de aço são exemplos não esporádicos de vandalismo: sanitários completamente arruinados, sem portas, lavatórios e torneiras, que foram aniquilados, e sem a mínima higiene; um espontâneo, horrível e sufocante cheiro de urina em cada corredor e cada plataforma, indício do péssimo estado dos sanitários. Para piorar, mais um indício desse mau retrato, um odor de lixo fortificante e insuportável.

Múltiplos transtornos são óbvios no terminal, além da incipiência higiênica e sanitária. As escadas rolantes encontram-se quebradas, com sua movimentação paralisada, as escadas (de cimento) contêm fissuras que dificultam a mobilidade do usuário, a rede de iluminação é ineficiente e as instalações elétricas e hidráulicas são precárias. Nos corredores, vemos lâmpadas cujas luzes estão apagadas ou acesas com fraqueza.

E mais: os abrigos de ônibus pré-moldados são anacrônicos, portanto não se adaptam a uma era de inovações urbanas pós-modernas, como o arrojado mobiliário vigente em nossa cidade há dez anos, fabricado em vidro, aço inoxidável e madeira. Que anacronismo absurdo na Lapa! Gargalos cumulativos na gigante estação semeiam o vandalismo, o descuido e a negligência, absorvidos por um fator singular, a fragilidade no seu pleno funcionamento.

Demonstro minha veemente insatisfação no agravamento da falta de zelo não apenas na Lapa, porém em todas as estações de transporte coletivo de Salvador. O aperfeiçoamento de sua estrutura, de seu aparato e de seu funcionamento, precários pela força dos vândalos vindos dos subterrâneos deste mundo cão, deve ser o alicerce prioritário na perpetuação do terminal. Queremos providências imediatas na melhoria desse obscurecido pandemônio.

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