Faxina demorada, porém aprazível
Manhã e tarde de um extasiante sábado proficiente cujo ônus ou morosidade domiciliar perdurou por cerca de nove horas. Véspera de um dia democrático em toda a extensão territorial nacional. Não almocei de fato, mas jantei antecipadamente ou almocei extemporaneamente, ao terminar a faxina nos dois cômodos de minha casa valendo-me do gasto necessário de horas, minutos e segundos, contudo não fiquei cansado nem dolorido. Enquanto retornei com magnificência à minha tradicional e habitual limpeza doméstica, estagnada por um certo lapso temporal, não produzi nenhum efeito causador da exaustão, tendo valido a pena que essa apaixonante prática, hoje, foi frutífera, rentável e vantajosa.
Cheguei em casa numa manhã primaveril ensolarada da Boca do Rio, vindo da barbearia onde sou cliente especial há dez anos, instalada nos primeiros quarteirões do fim de linha da comunidade populosa, e minha primeira missão foi restituir as aplicações de óleo de peroba nos móveis da sala de estar, do meu quarto e de rodapés adjacentes a esse último compartimento. Após três meses de renúncia a essa operação por ser exaustiva e proporcionar esforço significativo, estendendo-se até o final vespertino ou o advento noturno, felizmente, cumpri o prometido. Conclusivamente, o dia para mim não era voltado ao ócio, e sim ao sobrecarregado prazer laborativo.
Assim como em outros sábados, ou domingos, ou feriados, ou dias úteis em que não tenho aula, meu altivo polimento doméstico semanal sempre se inicia com o formoso conjunto de quatro cadeiras primorosamente esculpidas em mogno envernizado, circundadas por uma mesa de tampo de mármore e borda confeccionada na mesma madeira. Nesse pontapé inicial, lustrar o mobiliário, utilitário ou decorativo, me faz cogitar que sinto-me exultado ou espantado ao estar em contato com a madeira e o composto à base de óleos mineral e vegetal, perfumado com uma excepcional fragrância amadeirada. Se o bom e velho óleo de peroba render qualitativa e quantitativamente em minha casa, eu o usarei com racionalidade a cada semana. Basta fluir e absorver alguns pingos em flanela ou qualquer tecido velho.
Procedimento parecendo até um círculo vicioso, porém tarefa imprescindível para ajudar a conter o estresse de minha mãe engendrado pela acumulação gradual de tarefas, a remoção de resíduos – poeira amontoada pelo vento – nos móveis, nos pisos e nos rodapés é agradável, levando em consideração meu bem-estar físico e mental. Repito igual esforço, mas sem deixar vestígios de lesões por esforço repetitivo, as tão comentadas LER, em requintadas e sóbrias peças de mobiliário distintas. Ainda na sala de estar, cujas paredes são pintadas de um eminente salmão que lembra apartamentos de luxo, o prosseguimento não parou. Lustrei a escrivaninha do computador convencional e o armário armazenador de utensílios culinários (pratos, talheres, etc.) e gêneros alimentícios.
Entrei direto ao meu quarto azul-celeste com o objetivo de eliminar toda a sujeira acumulada nos móveis, no rodapé e no chão branco com sua brancura aparente, o que permite a olho nu a visibilidade dos vestígios de impurezas. Fase mais difícil de minha faxina, pois no quarto há coisas inimagináveis, vistas na sua concretude. Sempre introduzo o engenho e a arte de poli-lo e deixá-lo com aspecto renovado pela aplicação do óleo na cama, depois no criado e no guarda-roupa. Mas hoje não segui a linearidade clássica de lustre dos móveis. Por quê? Ao invés de limpar o guarda-roupa após o criado, decidi desprezar logo toda a impureza contida superficial e estruturalmente na versátil escrivaninha montada em módulos de mogno por meu pai, providenciados a partir de remanescentes de mobiliários antigos.
Com meu corpo transpirado, híbrido do suor natural com a espessura oleosa do líquido amadeiradamente aromatizado, escorrendo pelo rosto, pelo pescoço, pelo tórax, pelas costas, pelo abdômen e pelas mãos, embebi o mesmo líquido num pano para executar a próxima etapa: o esperado guarda-roupa. Já livrei-o dos resíduos de poeira impregnados nas laterais, nas portas, nas gavetas, nos interiores e no "teto". Na porção traseira, vítima da proliferação de poeira e de insetos nocivos como baratas, já as desprezei com critério, precisão e espontaneidade perfeccionistas. O mesmo parâmetro apliquei rigorosamente na parte inferior da escrivaninha, espécie de ninho para os insetos se ela não for bem cuidada.
Reordenei todo o conteúdo disponível na cama, no criado, na escrivaninha, no guarda-roupa. Só faltava apenas dois acessórios de madeira à esquerda da escrivaninha – as prateleiras, e já as rearrumei repondo minhas coisas (exemplo: CDs, grampeador) na superior, e a impressora a jato de tinta na inferior. O trato de um adulto como eu, não subordinado a meus pais quanto ao trabalho doméstico, implica na restauração das nossas benfeitorias internas. No que tange à moral ou ética, esse costume semanal é relacionado com a deontologia, ou a teoria dos deveres, das obrigações morais. Faxinas não passam, com veracidade, de um mero ou trabalhoso exercício obrigatório na recuperação do lar, a depender das perspectivas da minha temporalidade.
Um banho refrescante, à base de água fria jorrando no chuveiro, sabonete floral e xampu contra a caspa e a sebosidade capilares, foi o bastante para amenizar as transpirações e os calores inventados pela limpeza geral onerosa, porém não exaustiva. Como não tivesse almoçado em razão de horas consumidas pela sua restituição, eu jantei reforçadamente, com quantidades generosas de feijão, macarrão – guardado e conservado desde ontem na geladeira –, bife de alcatra bovina e salada de pepino com tomate, compensando os horários vespertinos em que habitualmente almoço. Não foi almoço formal, nem jantar formal. Era só uma refeição extemporânea repositora que trouxe de volta minha potencialidade nutritiva pós-limpeza.
Cheguei em casa numa manhã primaveril ensolarada da Boca do Rio, vindo da barbearia onde sou cliente especial há dez anos, instalada nos primeiros quarteirões do fim de linha da comunidade populosa, e minha primeira missão foi restituir as aplicações de óleo de peroba nos móveis da sala de estar, do meu quarto e de rodapés adjacentes a esse último compartimento. Após três meses de renúncia a essa operação por ser exaustiva e proporcionar esforço significativo, estendendo-se até o final vespertino ou o advento noturno, felizmente, cumpri o prometido. Conclusivamente, o dia para mim não era voltado ao ócio, e sim ao sobrecarregado prazer laborativo.
Assim como em outros sábados, ou domingos, ou feriados, ou dias úteis em que não tenho aula, meu altivo polimento doméstico semanal sempre se inicia com o formoso conjunto de quatro cadeiras primorosamente esculpidas em mogno envernizado, circundadas por uma mesa de tampo de mármore e borda confeccionada na mesma madeira. Nesse pontapé inicial, lustrar o mobiliário, utilitário ou decorativo, me faz cogitar que sinto-me exultado ou espantado ao estar em contato com a madeira e o composto à base de óleos mineral e vegetal, perfumado com uma excepcional fragrância amadeirada. Se o bom e velho óleo de peroba render qualitativa e quantitativamente em minha casa, eu o usarei com racionalidade a cada semana. Basta fluir e absorver alguns pingos em flanela ou qualquer tecido velho.
Procedimento parecendo até um círculo vicioso, porém tarefa imprescindível para ajudar a conter o estresse de minha mãe engendrado pela acumulação gradual de tarefas, a remoção de resíduos – poeira amontoada pelo vento – nos móveis, nos pisos e nos rodapés é agradável, levando em consideração meu bem-estar físico e mental. Repito igual esforço, mas sem deixar vestígios de lesões por esforço repetitivo, as tão comentadas LER, em requintadas e sóbrias peças de mobiliário distintas. Ainda na sala de estar, cujas paredes são pintadas de um eminente salmão que lembra apartamentos de luxo, o prosseguimento não parou. Lustrei a escrivaninha do computador convencional e o armário armazenador de utensílios culinários (pratos, talheres, etc.) e gêneros alimentícios.
Entrei direto ao meu quarto azul-celeste com o objetivo de eliminar toda a sujeira acumulada nos móveis, no rodapé e no chão branco com sua brancura aparente, o que permite a olho nu a visibilidade dos vestígios de impurezas. Fase mais difícil de minha faxina, pois no quarto há coisas inimagináveis, vistas na sua concretude. Sempre introduzo o engenho e a arte de poli-lo e deixá-lo com aspecto renovado pela aplicação do óleo na cama, depois no criado e no guarda-roupa. Mas hoje não segui a linearidade clássica de lustre dos móveis. Por quê? Ao invés de limpar o guarda-roupa após o criado, decidi desprezar logo toda a impureza contida superficial e estruturalmente na versátil escrivaninha montada em módulos de mogno por meu pai, providenciados a partir de remanescentes de mobiliários antigos.
Com meu corpo transpirado, híbrido do suor natural com a espessura oleosa do líquido amadeiradamente aromatizado, escorrendo pelo rosto, pelo pescoço, pelo tórax, pelas costas, pelo abdômen e pelas mãos, embebi o mesmo líquido num pano para executar a próxima etapa: o esperado guarda-roupa. Já livrei-o dos resíduos de poeira impregnados nas laterais, nas portas, nas gavetas, nos interiores e no "teto". Na porção traseira, vítima da proliferação de poeira e de insetos nocivos como baratas, já as desprezei com critério, precisão e espontaneidade perfeccionistas. O mesmo parâmetro apliquei rigorosamente na parte inferior da escrivaninha, espécie de ninho para os insetos se ela não for bem cuidada.
Reordenei todo o conteúdo disponível na cama, no criado, na escrivaninha, no guarda-roupa. Só faltava apenas dois acessórios de madeira à esquerda da escrivaninha – as prateleiras, e já as rearrumei repondo minhas coisas (exemplo: CDs, grampeador) na superior, e a impressora a jato de tinta na inferior. O trato de um adulto como eu, não subordinado a meus pais quanto ao trabalho doméstico, implica na restauração das nossas benfeitorias internas. No que tange à moral ou ética, esse costume semanal é relacionado com a deontologia, ou a teoria dos deveres, das obrigações morais. Faxinas não passam, com veracidade, de um mero ou trabalhoso exercício obrigatório na recuperação do lar, a depender das perspectivas da minha temporalidade.
Um banho refrescante, à base de água fria jorrando no chuveiro, sabonete floral e xampu contra a caspa e a sebosidade capilares, foi o bastante para amenizar as transpirações e os calores inventados pela limpeza geral onerosa, porém não exaustiva. Como não tivesse almoçado em razão de horas consumidas pela sua restituição, eu jantei reforçadamente, com quantidades generosas de feijão, macarrão – guardado e conservado desde ontem na geladeira –, bife de alcatra bovina e salada de pepino com tomate, compensando os horários vespertinos em que habitualmente almoço. Não foi almoço formal, nem jantar formal. Era só uma refeição extemporânea repositora que trouxe de volta minha potencialidade nutritiva pós-limpeza.
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