Nossa complexa questão climática
Hugo Gonçalves, jornalista (SRTE/BA 4507)
Salvador, 12 de janeiro de 2023
Durante séculos, as ações promovidas pela humanidade vêm ocasionando progressivamente, e a longo prazo, súbitas alterações na temperatura do nosso planeta. As mudanças climáticas, como é conhecido esse conjunto de fenômenos essencialmente antrópicos que interferem direta e indiretamente nas vidas das pessoas em âmbito global, impactam inclusive no cotidiano de nós, brasileiros. Entre as consequências trazidas pelo aquecimento global aqui no Brasil estão o aumento desenfreado nos níveis de calor, além de severas secas e inundações e eventos congêneres.
Como o clima do país em que vivemos é predominantemente tropical, nosso imenso território, considerado o quarto maior contribuinte para o aquecimento global, possui certas áreas nas quais as sistemáticas vulnerabilidades provocadas pelas alterações climáticas encontram terreno fértil. Tais vulnerabilidades decorrem de uma gama de fatores, principalmente as emissões na atmosfera de gases de efeito estufa – sobretudo o dióxido de carbono (CO2) –, oriundos da produção industrial e do acúmulo de veículos automotores nos centros urbanos, que induzem à poluição do ar que respiramos.
Ademais, a expansão da atividade agropecuária também colabora para viabilizar sérios impactos ambientais que deveriam ser equacionados, entre os quais pode-se citar o lançamento do gás metano (CH4) por um incomensurável contingente de cabeças de animais ruminantes, notadamente bovinos, confinadas em pastagens de norte a sul. Espaços nos quais se verificavam algum indício de vegetação em determinados biomas brasileiros, como a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pampa, foram obviamente transformados em pastos, com vistas à criação de gado em larga escala.
As constantes mutações no clima por força da intervenção humana, indubitavelmente, geram efeitos catastróficos irreversíveis para a perpetuidade da vida da população mundial; fenômeno semelhante vem sendo observado no Brasil. Uma evidência desse inconveniente por aqui consiste no crescimento drástico dos índices de calor na atmosfera, levando uma significativa parcela da nossa população às mortes por doenças associadas à desidratação, também ocasionadas pelo persistente agravamento das secas, em especial no sertão nordestino, onde os seus habitantes já convivem com o crônico dilema da escassez de água.
Outra consequência trazida pelas alterações climáticas são as frequentes inundações ou enchentes, causadas pelas chuvas volumosas e pela elevação dos níveis dos rios e das represas, sobretudo em áreas mais vulneráveis. Isso faz com que milhares de pessoas que moram em zonas de risco estejam sistematicamente desabrigadas. E, pior ainda, contaminadas pela ação de microrganismos e insetos provenientes da poluição urbana e aquática, a exemplo dos ratos – cuja urina é responsável pela transmissão, aos humanos, da leptospirose, um grave e antigo problema de saúde pública.
Para que diversos problemas climáticos, que recentemente vêm sendo acumulados, não continuem sendo um ciclo vicioso, faz-se necessária a colaboração mútua entre o Estado em suas múltiplas esferas, a sociedade civil representada por organizações socioambientais e a nossa população. É mediante esse pacto de vital importância que, futuramente, os agravantes produzidos pelo aquecimento global sejam equacionados. Por essa razão, o novo governo federal acertou em incluir a mitigação dos impactos das mudanças do clima como uma das metas ambiciosas da nossa pauta ambiental.
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