Casarão de uma musicalidade criativa

Três meses depois de inaugurado, museu Cidade da Música da Bahia, no centro antigo de Salvador, recebeu a inédita e única visita deste jornalista, que escreve esta crônica narrando suas impressões dentro do equipamento cultural

Hugo Gonçalves, jornalista (SRTE/BA 4507)

Barra do Gil (Vera Cruz), 6 de janeiro de 2023, Dia dos Santos Reis e Dia da Gratidão

Atualizada em Salvador, em 9 de janeiro de 2023, Dia do Astronauta, às 23h28


Detalhe da fachada do museu Cidade da Música da Bahia, instalado no elegante Casarão dos Azulejos Azuis (Praça Visconde de Cayru, Comércio)
Divulgação


Um imponente edifício revestido de azulejaria portuguesa que à primeira vista nos impressiona, joia arquitetônica do século XIX acoplada à zona portuária – e antigo cérebro financeiro – da urbe de São Salvador, deposita uma incrível genialidade artística oportunizada por uma gente alegre, dinâmica e hospitaleira. É exatamente nessa construção outrora em ruínas, que passou por profundas obras de restauração, onde abriga desde setembro de 2021 o museu Cidade da Música da Bahia.

Ao adentrar o equipamento cultural pela primeira vez (mediante agendamento prévio, é lógico), três meses após a sua inauguração, me senti atraído por um completíssimo acervo dedicado às nossas manifestações sonoras, tônica do espaço. Distribuído em quatro andares, o majestoso Casarão dos Azulejos Azuis, nessa perspectiva, respira e transpira uma atmosfera musical que identifica a alma da nossa metrópole, entusiasmando visitantes de todas as regiões brasileiras e mundiais.

Logo no pavimento térreo, há uma lojinha na qual se comercializa uma profusão de suvenires – peças de vestuário, acessórios, instrumentos musicais, entre outros itens – cuja estética se baseia na mais robusta e autêntica essência cultural baiana, enaltecendo o potencial criativo da nossa terra. Já à esquerda, a biblioteca, considerada o “coração” do museu, disponibiliza um acervo consistente e atualizado, com publicações que versam sobre a diversidade musical do Brasil e, prioritariamente, daqui da Bahia, aliado a uma coleção discográfica e audiovisual que contribui para perpetuar as memórias da nossa música.

Como a Cidade da Música da Bahia – justa e merecida alusão ao título que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) concedeu, em 2015, a Salvador, no âmbito das Cidades Criativas – foi concebida como um museu interativo em praticamente todos os andares que a compõe, os visitantes têm a oportunidade de explorar seus espaços temáticos, com o objetivo de imergir digitalmente pelo abundante e heterogêneo panorama da musicalidade baiana.

Minha imersão nesse universo, de fato, teve início no primeiro pavimento do casarão, adentrando rapidamente as experimentações sonoras que identificam cada um dos principais bairros soteropolitanos. Avançando mais alguns degraus, no ambiente batizado História da Música, o público interessado pode obter acesso às nove estações interativas ali instaladas, que ajudam a narrar as trajetórias dos mais relevantes artistas, gêneros e tendências constituintes do nosso vibrante caldeirão sonoro, com toda a riqueza de detalhes possível.

Além disso, ainda no segundo andar, o que chamei a minha atenção foi uma saleta cujo conteúdo já se prenuncia explicitamente por seu nome, A Magia da Orquestra. Quando a visitei, fiquei realmente encantado com a graciosa sonoridade emanada dos experientes músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), que executaram, através de um vídeo pré-gravado, um tema magnífico que fez produzir em mim uma sensação pacífica e tranquilizadora.

As demais linguagens artísticas, no interior do equipamento cultural, promovem total sinergia com a música. Tais quais as produções literárias presentes na biblioteca – já mencionada anteriormente –, os trabalhos visuais que formosamente adornam o segundo pavimento, sim, também merecem um excelente destaque. As extraordinárias obras de Genaro de Carvalho (1926-1971), ali instaladas em réplicas ampliadas, nos fazem ressignificar, para as atuais gerações, a mística criativa do mestre da tapeçaria, um dos proeminentes gênios das artes plásticas que a Bahia já teve.

Visitando o terceiro andar, me deparei com um espaço interativo-educativo onde qualquer pessoa pode exercitar seus dons musicais se divertindo, tendo à sua disposição salas exclusivas para karaokê e instrumentos de percussão, além de estúdios de gravação e um ambiente dedicado à prática do rap, estilo impulsionador da cultura suburbana.

Minha primeira – e até agora – única ida à Cidade da Música da Bahia, absolutamente, foi inesquecível. Conforme pondera o antropólogo e compositor Antônio Risério, cocurador e um dos idealizadores do museu, “a cidade conhece sua música, a música nos faz conhecer a cidade e sua gente”. Já que a recíproca é verdadeira, o povo soteropolitano precisa conhecer a fundo toda a sua musicalidade congregada nas dependências do elegante Casarão dos Azulejos Azuis, famoso por já ter dado guarida a um hotel e também a um repertório de estabelecimentos comerciais que fizeram história na capital de um estado artisticamente plural.


Galeria: Principais espaços do museu Cidade da Música da Bahia

Confira as fotografias a seguir, capturadas por este jornalista durante a sua primeira visita ao equipamento cultural, em 4 de dezembro de 2021, Dia de Santa Bárbara – ou, no sincretismo afro-brasileiro, Iansã.

1. Entrada e Biblioteca






2. A Cidade de Salvador e Sua Música



3. História da Música







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