Entenda melhor o HTLV, primeiro retrovírus humano isolado

Pertencente à mesma família do HIV, vírus ainda pouco conhecido pela comunidade médica e classificado em dois grupos infecta os linfócitos T humanos

Relações sexuais inadequadas e transfusão de sangue contaminado estão entre as formas de contágio pelo retrovírus

(Ilustração: Divulgação)



Há uma confusão frequente entre as duas espécies de retrovírus: o HTLV e o mais comum entre eles, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), destruidor das células incumbidas da defesa do nosso organismo. Entretanto, embora seja detectado há mais de três décadas, o vírus pertencente à mesma família do agente transmissor da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) continua sendo difundido de maneira tímida, sobretudo por profissionais da área de saúde.


Sigla do seu nome completo em inglês, Human T Lymphotropic Virus, traduzido como Vírus Linfotrópico de Células T Humanas, o HTLV, classificado em dois grupos – o HTLV-1 e o HTLV-2 –, faz com que os linfócitos T humanos – um tipo de leucócitos, que são glóbulos brancos, produzidos pela medula óssea vermelha – sejam infectados.


O primeiro retrovírus associado a uma malignidade foi isolado em 1980 nos Estados Unidos em um paciente com um linfoma de célula T, o cutâneo, qualificado como o mais raro. Inicialmente, porém, um indivíduo já havia sido diagnosticado com o HTLV no Japão, em 1977.

Estudos indicam que, no mundo, cerca de 10 a 20 milhões de pessoas estejam infectados pelo vírus. Dessa cifra aproximada, apenas 2% a 3% desses pacientes têm capacidade de desenvolver leucemia/linfoma de células T do adulto (ATL), e 1% a 2% estão suscetíveis ao desenvolvimento da mielopatia/paraparesia espástica tropical (PET/MAH), uma doença neurológica degenerativa crônica. Além disso, o HTLV é vinculado a patologias inflamatórias, como a imunossupressão.

Entre as principais formas de contágio pelo HTLV, devido ao fato de ele provocar doenças sexualmente transmissíveis (DST) que lhe são associadas, estão a transmissão da mãe infectada pelo recém-nascido na gravidez, em trabalho de parto e no aleitamento, as relações sexuais sem o uso de preservativos, a transfusão de sangue contaminado e o compartilhamento de seringas e agulhas durante o uso de drogas. Já o aperto de mão, o compartilhamento de talheres e copos e o sexo correto mediante utilização de preservativos são hipóteses em que não há incidência de contaminação.

Serviço de Imunologia do Hospital das Clínicas é um dos centros para tratamento gratuito de doenças causadas pelo HTLV em Salvador
(Foto: Divulgação/Ufba)

Quais são os sintomas?

Grande parcela dos portadores do HTLV-1 não desenvolve problemas de saúde inerentes à infecção pelo retrovírus. No entanto, eles estão propensos ao surgimento da leucemia/ATL, cujo tratamento exige acompanhamento por médicos hematologistas. Os pacientes podem também apresentar sintomas que alteram progressivamente o sistema nervoso, que geralmente têm como consequências as dores nos membros inferiores e na região lombar, além de dificuldades para caminhar e fazer suas necessidades fisiológicas.

Enquanto isso, um grupo minoritário dos infectados pode apresentar alguns tipos de câncer, problemas musculares (polimiosite), articulares (artropatias), pulmonares (pneumonite linfocítica), na pele (dermatites diversas) e na região ocular (uveíte), além de manifestar a síndrome de Sjögren, doença autoimune responsável pela destruição das glândulas lacrimais e salivares.

Como prevenir as doenças e tratá-las

A prevenção das doenças causadas pelo HTLV-1 e pelo HTLV-2, de acordo com o portal sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), Aids e hepatites virais do Ministério da Saúde, se dá através do uso de preservativos em todas as relações sexuais e o não compartilhamento de seringas, agulhas e outros objetos cortantes com outras pessoas. O preservativo pode ser solicitado na própria rede pública de saúde.

Ainda segundo informações da pasta, não há nenhum tratamento específico para doenças associadas ao HTLV, uma vez que elas possuem um risco mínimo para se desenvolverem. Para efetuar o diagnóstico e o tratamento precoces dessas patologias, o paciente precisa ser atendido em serviços de saúde especializados.

Em Salvador, cidade onde se registra o maior número de infectados por HTLV-1 no Brasil, existem dois locais para que o portador possa tratá-las gratuitamente. O Centro Integrativo e Multidisciplinar de Atendimento ao Portador de HTLV e Hepatites Virais, do Ambulatório Docente-Assistencial da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Adab), em Brotas, e o Serviço de Imunologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) – mais conhecido como Hospital das Clínicas –, no Canela, oferecem ao público tratamento no combate ao retrovírus.


Comentários