PSB baiano reitera apoio à reeleição de Dilma Rousseff
Alinhados nacionalmente com Aécio Neves no segundo turno, socialistas decidiram aderir, mesmo que de forma crítica, à candidatura da petista, que tenta renovar seu mandato presidencial, em âmbito estadual
Reunião em que o PSB-BA confirmou adesão à campanha de Dilma foi aberta pelo presidente do partido em Salvador, Waldemar Oliveira (à direita)
(Foto: Hugo Gonçalves)
Militantes e membros da Executiva Estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB) da Bahia compareceram à reunião que confirmou o posicionamento da legenda no segundo turno das eleições presidenciais. Em âmbito local, o partido, que nacionalmente declarou apoio ao candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG), optou pela adesão, embora de maneira crítica, à campanha de sua adversária Dilma Rousseff (PT), postulante à reeleição.
A cerimônia, promovida na última segunda-feira (13) na sede do PSB-BA, no Campo Grande, região central de Salvador, foi aberta pelo presidente do partido na capital baiana, Waldemar Oliveira, que na ocasião teve a honra de representar a líder estadual, senadora Lídice da Mata. Derrotada na disputa ao governo no último dia 5, ficando em terceiro lugar, com apenas 6,62% dos votos válidos, Lídice se encontrava em Brasília, onde foi eleita secretária especial da nova Comissão Executiva Nacional.
De acordo com Waldemar, os socialistas baianos não estão fazendo a escolha do melhor candidato, daí a citação de um antigo provérbio, "Dos males, o menor". "Eu acho que a opção do PSB da Bahia vai nesse sentido, 'dos males, o menor'. Então, nós estamos marchando com Dilma, apesar de todos nós termos consciência plena do que tem sido o PT nesses últimos anos no governo", explicou.
De acordo com Waldemar, os socialistas baianos não estão fazendo a escolha do melhor candidato, daí a citação de um antigo provérbio, "Dos males, o menor". "Eu acho que a opção do PSB da Bahia vai nesse sentido, 'dos males, o menor'. Então, nós estamos marchando com Dilma, apesar de todos nós termos consciência plena do que tem sido o PT nesses últimos anos no governo", explicou.
O fato de sua correligionária Marina Silva não ter ido para a próxima fase da corrida sucessória ao Palácio do Planalto foi classificado por ele como "um desastre eleitoral, mas uma grande surpresa". "Todo mundo dava como favas contadas a nossa candidata Marina ir para o segundo turno. Não só nós, militantes e eleitores do PSB, mas até mesmo os analistas e políticos, todos davam conta de que Aécio era carta fora do baralho e que a disputa no segundo turno se daria entre Dilma e Marina", disse.
O dirigente municipal do PSB lembrou que, durante a reta final do primeiro turno, enquanto a equipe de campanha da petista trabalhava para "desconstruir" a imagem da ex-ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Aécio foi se evoluindo, a princípio lentamente. Entretanto, logo depois, o tucano obteve um crescimento vertiginoso, chegando a alcançar mais de 20 pontos de diferença com relação à atual presidente da República, sua principal opositora.
Mas Aécio conseguiu avançar para o segundo turno, que acontece no próximo domingo (26), com a diferença de apenas 8 pontos. Waldemar Oliveira frisou ainda que o postulante do PSDB, hoje tecnicamente empatado com Dilma nas últimas pesquisas, teve "um crescimento significativo em vários estados", entre os quais São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, e também na região Nordeste. "O crescimento dele (de Aécio) significou aproximar e ultrapassar Marina", justificou.
Queda de Marina atingiu Lídice
No que tange ao frágil desempenho de Marina Silva, que hoje apoia o neto e herdeiro político de Tancredo Neves (1910-1985), a queda de percentual da ex-presidenciável evidentemente comprometeu o projeto eleitoral do PSB, inclusive a candidatura de Lídice. Embora terminasse o primeiro turno com 21,32% dos votos, Marina estava "disparada" na Bahia, de acordo com o presidente da legenda em Salvador.
"Nós chegamos então ao segundo turno com Dilma e com Aécio. A reunião da Executiva Nacional decidiu, por maioria, apoiar Aécio Neves", afirmou, dizendo que, contudo, houve sete votos contrários à adesão do PSB à campanha aecista, inclusive o presidente da legenda, Roberto Amaral, a própria Lídice, a deputada federal reeleita Luíza Erundina (SP) e o senador Antônio Carlos Valadares (SE).
Conforme foi discutido por Waldemar, a proposta inicial do PSB quanto ao segundo turno seria a neutralidade, mas esse posicionamento foi vencido de imediato em função de um acerto prévio envolvendo os diretórios de alguns estados, principalmente o Rio Grande do Sul e Pernambuco, que já tinham aderido a Aécio. "Então, era um jogo já praticamente de cartas marcadas", disse, ao enfatizar que em outros estados, como no caso da Bahia, seriam observadas as especificidades do partido.
Apoiar Aécio Neves, para os socialistas em patamar nacional, não foi uma decisão fechada. Isso possibilitou, na semana passada, que a Executiva Estadual se reunisse para deliberar pelo apoio a Dilma Rousseff. Porém, segundo Waldemar Oliveira, a decisão não foi unânime, pois houve resistência por parte de alguns expoentes do PSB-BA, como o ex-deputado estadual Capitão Tadeu e Sérgio Gaudenzi, recém-reconduzido à Executiva Nacional.
Mesmo mobilizada na campanha de Dilma, a legenda, de acordo com Waldemar, até agora não negociou nada com o governador eleito Rui Costa (PT) quanto à assunção de cargos, como secretarias. "Nós estamos indo apoiar o PT por entendermos que a candidatura de Dilma é a que menos desserve o PSB baiano. Isso não exclui conversas, mas a princípio a ideia é manter a posição de independência", reiterou.
Análise eleitoral
Waldemar ainda analisou o quadro futuro do PSB no Congresso Nacional, consumado no pleito de 5 de outubro, e no Executivo de Pernambuco, onde a eleição foi definida em primeiro turno, e de três estados e também do Distrito Federal, onde o partido segue vivo no segundo turno. No caso pernambucano, onde os socialistas vivem "uma situação especialíssima", Paulo Câmara, ex-secretário do governo Eduardo Campos, morto em 13 de agosto, foi eleito com 68,08% dos votos válidos.
Para o Senado, a maioria dos pernambucanos escolheu o também socialista Fernando Bezerra Coelho. O ex-ministro da Integração Nacional do governo Dilma venceu o adversário petista João Paulo com 64,34% dos sufrágios computados. A dupla vitória, nas palavras do presidente do PSB em Salvador, fez de Pernambuco - onde incrivelmente nenhum candidato do PT foi eleito para a Câmara dos Deputados -, o estado onde os socialistas estão mais fortalecidos no país.
Já no Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg está liderando as pesquisas de intenção de votos no segundo turno. Waldemar acredita que o líder do PSB no Senado, que terminou a apuração com 45,23% dos votos no primeiro turno, será eleito e vai realizar uma grande administração. "Para vocês terem uma ideia, o candidato do PT (o atual governador, Agnelo Queiroz, que tentou renovar seu mandato) sequer foi ao segundo turno", afirmou.
Quanto à representação no Congresso, ao passo que o PSB elegeu 34 deputados, no Senado houve um incremento de 7 cadeiras, quase o dobro em comparação com a bancada atual, constituída por 4 membros. Enquanto as regiões Sudeste e Sul são predominantemente aecistas, eleitores do Norte e do Nordeste têm predileção pela candidata petista. "Isso vai ser um grande esforço nosso de ampliar o máximo possível a eleição de Dilma aqui na Bahia", salientou Waldemar.
Segundo Tramm (à esquerda), eleitores de Dilma no estado não consideravam a candidatura de Eduardo Campos tão forte
(Foto: Hugo Gonçalves)
Campos precisava de base na Bahia
O integrante da Executiva Estadual do PSB-BA, Antônio Carlos Tramm, iniciou seu discurso com uma breve retrospectiva acerca da candidatura de Lídice para o governo do estado. Segundo Tramm, a senadora decidiu concorrer ao Palácio de Ondina para atender a um desejo de Eduardo Campos, então pré-candidato à Presidência da República, que precisava de uma forte capilaridade eleitoral na Bahia.
"Antes de iniciar a campanha propriamente dita, tivemos aquele acidente de Eduardo. Aquilo gerou uma desestabilização total no quadro e também no partido. Marina (Silva), que era uma possível candidata a vice, simplesmente, passou a ser a cabeça de chapa, o que trouxe algumas complicações. No caso específico nosso daqui da Bahia, a Lídice tinha uma série de votos casados: Lídice e Dilma. Por quê? Porque os eleitores de Dilma aqui não consideravam a candidatura de Eduardo tão forte", argumentou.
Para o membro do PSB-BA, que teve a incumbência de coordenar a candidatura de Lídice, esse fenômeno negativo a atingiu violentamente, uma vez que Marina não lhe agregou nenhum voto e depois foi diminuindo nas pesquisas. A campanha da ex-governadorável foi encerrada com dívidas e outros problemas, entre eles o político, que é o mais sério, "porque o Eduardo conduziu a campanha dele muito mais sempre à direita".
Secretário da Pessoa com Deficiência do PSB-BA, o professor Milton Bezerra Filho traçou um panorama da vida política de Eduardo Campos, que foi apontado como um dos melhores governadores brasileiros. O militante surdo, detentor de incipientes 2.732 votos para deputado federal, o equivalente a 0,05%, recordou que, quando o ex-gestor pernambucano concorreu à Presidência, o PSB aderiu à sua candidatura.
"Lula, inclusive nas articulações políticas, pensava que seria melhor que ele (Campos) fosse candidato na próxima eleição (em 2016), (mas) não nesta. Mas como ele tem um sangue político e era um sangue político muito quente (era neto do também ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, 1916-2005), ele decidiu romper e fazer essa luta, e fez essa aliança com Marina Silva", sinalizou.
O incidente que culminou no falecimento do ex-gestor de Pernambuco, de acordo com Milton, foi uma perda "muito triste". Sucessora de Campos na chapa socialista, Marina, por ser evangélica e ter suas bases no preconceito, não apoia as causas dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros, agrupados no movimento conhecido por LGBT. Foi em função disso, principalmente, que ela perdeu no primeiro turno.
"Um apoio crítico"
A adesão do PSB à renovação para mais quatro anos de mandato de Dilma Rousseff é considerada por Antônio Carlos Tramm "um apoio crítico", decisão tomada pelo partido na Bahia. "Vamos apoiar criticamente os passos do governo, mas não podemos esquecer dos ganhos da inclusão social que foram conseguidos no governo de Lula. E nós trabalhamos nisso. Nós participamos disso. Então, não podemos abrir mão desses ganhos sociais", elucidou.
Conforme o membro da Executiva Estadual socialista, "ninguém é obrigado a apoiar ou fazer campanha para o PT". Em seu discurso, ele ressaltou que o PSB não deliberou nenhum suporte ao PT, mas entre Aécio Neves e Dilma, a agremiação decidiu caminhar com a petista alegando que seu programa de governo é melhor que o do rival tucano.
A pretexto da atual conjuntura econômica brasileira, o país não pode frear o aumento do salário mínimo, um dos responsáveis pelo incremento do mercado consumidor. Na avaliação de Tramm, apesar de o Brasil estar hoje com baixo investimento e um crescimento tímido do Produto Interno Bruto (PIB), "a nossa taxa de desemprego é uma das menores do mundo, porque os nossos salários continuam em níveis elevados."
Para o Professor Milton, os eleitores já definiram previamente dois projetos ideológicos antagônicos: a direita, encarnada por Aécio, e o chamado projeto social, personificado na figura de Dilma. "O Aécio é (pertence a) um grupo que promove a burguesia, e Dilma, os movimentos sociais. Agora, nós temos duas opções. Eu não me sinto bem apoiando Aécio Neves, porque inclusive o Estatuto do PSB reza questões que não são de acordo com o projeto de Aécio Neves", esclareceu.
O educador se demonstra satisfeito com a decisão da Executiva Estadual do PSB da Bahia de aderir ao projeto social preconizado por Dilma. Na opinião dele, a legenda necessita valorizar sua ética. "Meu pai era socialista, e eu tenho certeza de que, se meu pai fosse vivo hoje, ele também estaria respeitando o Estatuto (do Partido) Socialista Brasileiro. E que nós temos, aqui, que discutir essas questões do projeto político do PSB", sugeriu.
Estatuto do PSB possui questões incompatíveis com programa de governo de Aécio, afirma Professor Milton
(Foto: Hugo Gonçalves)
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