Pesquisadores apresentam pterossauro descoberto no Ceará
Denominada Maaradactylus kellneri, espécie inédita de réptil voador contemporâneo dos dinossauros, que viveu há 111 milhões de anos no sertão cearense, teve seu fóssil exposto por uma equipe de cientistas em Pernambuco depois de quatro anos de trabalho
Com informações do portal G1 Pernambuco
Com informações do portal G1 Pernambuco
Presença de uma crista grande e de dentes finos em frente ao crânio estão entre os atributos peculiares da espécie
(Foto: Anna Tiago/G1 Pernambuco)
Cientistas de três universidades nordestinas descobriram no município de Santana do Cariri, no sertão do Ceará, distante 500 quilômetros de Fortaleza, uma espécie inédita de pterossauro, réptil voador que viveu no mesmo período que os dinossauros. Apesar de encontrado em 2010, o fóssil do animal, batizado de Maaradactylus kellneri, foi apresentado nesta quinta-feira (2), no auditório da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife.
Esse foi o único fóssil trabalhado por uma equipe de pesquisadores exclusiva do Nordeste. Durante quatro anos, biólogos e paleontólogos da própria UFPE, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Universidade Regional do Cariri (Urca) trabalharam conjuntamente no estudo, realizado no Centro Acadêmico de Vitória (CAV), unidade da UFPE situada na cidade de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana.
O crânio do M. kellneri foi encontrado quase completo por agricultores que faziam o roçado na plantação de milho no Sítio São Gonçalo, em Santana do Cariri. Conforme os pesquisadores, a espécie devoradora de peixes viveu há 111 milhões de anos no período Cretáceo da Era Mesozoica, na região da Bacia Sedimentar do Araripe, no sul cearense, onde já haviam sido descobertas, desde a década de 1970, outras 23 espécies de pterossauros.
Posteriormente aos trabalhos de remoção da rocha que envolvia o fóssil para expor todas as estruturas anatômicas, realizou-se uma comparação com outras espécies já conhecidas no mundo. "Foram 46 espécies comparadas e, no final, ele (o novo pterossauro) não tinha característica de nenhuma (espécie) e tinha característica que nenhuma outra tinha", avaliou a professora de Paleontologia do CAV, Juliana Sayão, ao portal G1 Pernambuco.
De acordo com Juliana, uma das características peculiares do animal alado recém-apresentado é a presença de uma crista gigante e de dentes finos na porção frontal do crânio, o que lhe possibilitava romper a superfície da água para devorar peixes. "Essa crista grande ocupa 40% do crânio, a maior entre todos os pterossauros. A quantidade de dentes também é diferente: nesse, há 50 pares, enquanto, normalmente, nas outras espécies, há entre 12 e 22 pares", analisou.
Fóssil irá retornar definitivamente ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, onde o animal havia sido encontrado
(Foto: Anna Tiago/G1 Pernambuco)
Tema de doutorado
A pesquisa envolvendo o fóssil, publicada na edição deste mês da revista científica neozelandesa Zootaxa, foi usada pelo biólogo Renan Bantim, então estudante do curso de graduação de Biologia da Urca, para ser o tema de sua dissertação de mestrado na universidade. Para Renan, o estudo, que continua como objeto de sua tese de doutorado na UFPE, é importante, pois irá analisar a idade do animal.
"(O M. kellneri) É mais uma nova espécie na região do Araripe. São, no total, 24 espécies. Isso é importante na biodiversidade do passado. Como temos muitas aves hoje, provavelmente os pterossauros eram representantes das aves naquela época", argumentou o universitário, em depoimento ao G1 Pernambuco.
O professor de Paleontologia da Urca, Álamo Saraiva, explicou que descobertas de novas espécies, como o M. kellneri, podem ajudar a compreender a dinâmica de uma época tão remota. "A partir do conhecimento que a gente vai tendo, podemos entender algumas coisas que estão acontecendo hoje relacionadas a mudanças climáticas e aquecimento global, por exemplo", elucidou o docente.
Em dezembro, o fóssil do pterossauro retornará em definitivo ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, onde será incorporado a seu acervo permanente. "Quando a gente escava e consegue novas espécies, podemos aumentar o acervo dos museus da região e isso fomenta o turismo, que é um desenvolvimento sustentável, muito importante nessas áreas de seca", frisou Álamo.
Nome de espécie faz alusão a lenda indígena
Segundo o G1 Pernambuco, o nome da nova espécie, Maaradactylus kellneri, faz referência a uma lenda da tribo indígena Cariri, cujos membros habitaram o atual sul do Ceará. Do tamanho enorme dos dentes do pterossauro veio a alusão à história da índia Maara, filha do cacique da tribo que, por um feitiço, se transformou em um monstro com grandes dentes que atraía e comia pescadores num rio da região.
Já a terminação "dactylus" (transcrição latina do grego dáktylos, que significa dedo), é atribuída a animais pertinentes a esse gênero. Por fim, "kellneri" homenageia o paleontólogo Alexander Kellner, nascido no principado de Liechteinstein, no norte da Europa, mas naturalizado brasileiro. Docente do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências, Kellner é reconhecido mundialmente por seus estudos na área de Paleontologia.
Comentários
Omar Barbosa Azevedo - Psicólogo