Círio de Nazaré reúne cerca de 2 milhões de fiéis em Belém

Neste ano, uma das maiores e mais tradicionais procissões católicas do mundo, declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade e que homenageia a padroeira do Pará, coincidiu com o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil
 
Com informações da Agência Brasil e da Estadão Conteúdo
 
Após percorrerem 3,6 quilômetros, os romeiros seguiram até a basílica dedicada à santa, onde a peregrinação terminou às 11:40
(Foto: Natália Mello/G1 Pará)
 
Maior manifestação religiosa da América Latina, o Círio de Nazaré é celebrado anualmente no segundo domingo de outubro em Belém. Embora grande parte dos católicos brasileiros comemorassem ontem (12) o dia de Nossa Senhora Aparecida, cerca de dois milhões de devotos de outra Nossa Senhora, a de Nazaré, acompanharam e conduziram a imagem da padroeira do estado do Pará pelas ruas da cidade, conforme estimativas dos organizadores e da Polícia Militar.
 
A tradicional peregrinação teve início às 6:30, quando os romeiros, como são chamados os fiéis, se deslocaram da Catedral Metropolitana da capital paraense para percorrer 3,6 quilômetros até a Basílica Santuário de Nazaré, onde terminou às 11:40. Vindos de várias regiões do Brasil e do exterior, os romeiros participam anualmente de uma das mais importantes procissões católicas do mundo com a finalidade de pagar promessas, pedir graças e venerar a santa, cognominada Rainha da Amazônia.
 
Enquanto alguns romeiros fazem o percurso de joelhos, outros carregam na cabeça maquetes de casas para realizar o desejo de sua casa própria. Um dos fiéis que percorreram de joelhos todo o trajeto da procissão, o belenense José Xavier Júnior, 38 anos, suplicou que sua mãe, vítima de um câncer de mama, seja curada. "Eu vou até o fim. Enquanto minha mãe não for curada, todos os anos farei o círio de joelhos", prometeu, em depoimento à Agência Brasil.
 
Assim como em outras peregrinações, o Círio possui suas peculiaridades. Um dos elementos que faz dele uma festa singular é a corda de 400 metros de comprimento, que ajuda a puxar a berlinda onde se encontra a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Durante a festa, os romeiros, descalços, disputam lugar para conseguir segurar o pesado amuleto, o que implica o pagamento de promessas.
 
Foi o caso de Washington Bentes, 28. "Faço mais promessa, ocorre mais milagre e a gente está aí. É uma energia e pressão muito forte. Não é para qualquer um, tem que ter um mínimo de preparo", disse o devoto, que acumula promessas e puxou a corda pela oitava vez.
 
Devotos brasileiros e estrangeiros vão anualmente ao Círio para pagar promessas, pedir graças e venerar Nossa Senhora de Nazaré
(Foto: Tarso Sarraf/O Liberal)
 
Muito além das crenças
 
O aposentado José Carlos Soares, 63, viveu no Pará por 30 anos. Apesar de morar atualmente em Belo Horizonte, ele sempre visita o estado amazônico a fim de prestigiar a bicentenária procissão, que neste ano completa 222 anos de existência. "Isso aqui (o Círio) é um movimento muito forte, de um povo, em torno de uma santa, que é símbolo deles aqui no Pará", analisou.
 
Mesmo não sendo religioso, José Carlos tem apreço pela festa por ser considerada uma manifestação cultural e folclórica local. "É tradicional juntar a família e comer um prato típico. Pode ser um pato no tucupi, uma maniçoba, um peixe ao leite de coco. Já estamos falando sobre o almoço que vamos ter quando terminar", declarou o aposentado, numa alusão às iguarias da culinária paraense.
 
Nas seis horas em que seguiram cortejo, muitos romeiros passaram mal, precisando ser socorridos. Com esse propósito, milhares de voluntários, além das equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), do Corpo de Bombeiros e da Cruz Vermelha, auxiliaram as pessoas a salvar vidas, após retirá-las do meio de uma multidão formada por milhões de devotos que não aguentaram tanto esforço.
 
Uma tradição secular que se renova a cada outubro
 
A história do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que recebeu da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade em dezembro de 2013, remonta ao final do século XVIII, mais precisamente em 1792.
 
Naquele ano, um caboclo denominado Plácido José de Souza encontrou a imagem da santa às margens do igarapé Murucutu. Quando Plácido a levou para casa, ela teria regressado sozinha ao mesmo igarapé, fenômeno que se repetiu por vários dias consecutivos.

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