Bebeto afirma que país vive dois projetos políticos contrários

Único membro do PSB baiano eleito para a Câmara dos Deputados, sindicalista e historiador utilizou contextos díspares da história do Brasil para justificar polarização no segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves
 
"Nós estamos no momento em que a elite brasileira, representada pelo Aécio, tem a oportunidade de tomar o controle do poder político neste país", declarou Bebeto Galvão (à esquerda)
(Foto: Hugo Gonçalves)

Eleito deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) com 96.134 votos registrados, o que corresponde a 1,94%, de acordo com estimativas do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), o sindicalista Adalberto Galvão, mais conhecido como Bebeto, disse que o Brasil está vivenciando, no segundo turno da sucessão presidencial, dois projetos político-ideológicos contraditórios que precisam ser historicamente interpretados.
 
Para ilustrar melhor o antagonismo que baliza o pleito deste domingo (26), nitidamente cristalizado na polarização entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), o único socialista escolhido para representar o povo baiano na Câmara, que também é historiador, expôs um breve recorte da história contemporânea do país, examinando o que aconteceu no decênio compreendido entre 1954 e 1964.
 
Durante esse intervalo, na análise de Bebeto, houve tentativas, por parte de movimentos populares, sociais e da juventude, de edificação de um projeto que impulsionaria o desenvolvimento nacional e o aprofundamento democrático. Tal tentativa progressista, caracterizada pelas designadas "reformas de base" ambicionadas por João Goulart (1918-1976) no início de 1964, foi bruscamente interrompida pelo golpe militar daquele ano, que depôs o então presidente civil.
 
"Esta relação dessas quadras históricas com o momento que nós estamos vivendo tem muito a ver (com as eleições). Nós estamos no momento em que a elite brasileira, representada pelo Aécio, tem a oportunidade de tomar o controle do poder político neste país", salientou, em discurso proferido na reunião em que o PSB baiano confirmou o apoio à reeleição de Dilma, organizada na segunda-feira passada (13), em Salvador.
 
Bebeto Galvão afirmou ainda que a classe dominante nacional age com enorme potencial para eleger um Congresso que, na sua opinião, é "talvez dos mais conservadores desses últimos anos", tendo como consequência a retração do índice de participação e representatividade populares em ambas as casas do Legislativo federal - Câmara e Senado.
 
"De um lado, você vê a bancada da classe dos trabalhadores, do outro lado, os que representam a juventude; e você vê portanto a marca de um Congresso como esforço da elite brasileira, se não ganhar o poder central, mas tomar de certa forma parte do Parlamento nacional e por ela realizar as medidas e as mudanças que desejam à elite nacional", sublinhou.
 
Projetos de decisão da sociedade
 
Ao esboçar um paralelo entre circunstâncias históricas díspares do Brasil, sobretudo nos últimos doze anos, Bebeto assinalou que iniciativas como a política de cotas nas universidades, o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o avanço da reforma agrária foram obtidas nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
 
Segundo o futuro congressista, todas as ações por ele enumeradas, cuja implementação não se manifestou nas gestões de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), antecessor de Lula, "devem ser consideradas por nós como projetos não da Dilma, como projetos não do (governador eleito) Rui (Costa, PT), como projetos não do (governador Jaques) Wagner (PT), mas o projeto de decisão da sociedade".
 
A administração de Dilma Rousseff, apesar de sucedânea à do seu padrinho político, segue, em linhas gerais, um itinerário herdado dos governos passados, inclusive o de FHC. Portanto, nem todos eles, obviamente, são idênticos. "Um (governo) tem uma capacidade criativa maior do que o outro, mas os fundamentos da macroeconomia e do conjunto de políticas públicas e sociais foram mantidos integralmente pela presidente Dilma", argumentou Bebeto.
 
Sustentabilidade democrática
 
O esforço conduzido pelo PSB em nível nacional, para o deputado federal eleito, transparece na magnitude da resistência e das lutas contínuas pela democracia, assiduamente construídas pelo partido, em seus momentos de avanço e recuo. Além disso, a legenda, para Bebeto, foi uma das responsáveis pela sustentabilidade democrática do governo federal, mas também por um sistema de políticas tidas como primordiais para os brasileiros.
 
"Nós não podemos negar aquilo que nós próprios fomos capazes de realizar, e muito do que tem aí de bom tem a marca do PSB, mas também as queixas e as contradições. Não é que nós estabelecemos no interior do projeto tem a clareza do que nós realizamos para dar um passo à frente e evitar aquilo que a velha política tomou e assaltou o governo. Então, o PSB, na fronteira desses projetos, tem clareza do seu caminho", disse.
 
No ponto de vista do deputado eleito, a agremiação socialista promove uma trajetória voltada mais para a emocionalidade do que para a racionalidade política, com o objetivo necessário de fazer o Brasil progredir de forma equânime. Ele disse ainda que o PSB da Bahia, sob a liderança da senadora Lídice da Mata - candidata derrotada ao governo do estado -, fez "um bom combate" no interior do partido, aludindo ao posicionamento local adotado em contraste à deliberação nacional pela adesão a Aécio Neves.
 
Bebeto Galvão declarou que seus correligionários, em âmbito estadual, estão sintonizados com um "projeto que está com a nossa cara, com o nosso corpo e com a nossa energia", traduzido na campanha de Dilma. "Para nós, não é uma questão de oportunismo. É uma questão de definição ideológica do nosso caminho, do que nós nos sentimos, do que nós representamos e da nossa própria história como homens e mulheres", corroborou.
 
"E se nós termos um pouco da nossa vida, que é a biografia, façamos valer a nossa biografia para que o resultado não seja da Dilma, para que o resultado seja do nosso povo", finalizou Bebeto, propondo que a mandatária nacional, caso seja reeleita no próximo dia 28, faça uma administração que aprofunde a democracia e realize um conjunto de políticas públicas fortalecedoras da dignidade humana.

Comentários

Hugo Gonçalves disse…
Valeu Hugo!

Avisa ao professor que essa semana estarei viajando a trabalho e não vou poder ir às aulas.

Abração

Rogério - CCAA