A redescoberta dos primórdios de Moraes
Denominada Moraes Moreira
Anos 70, caixa reúne quatro discos da fase
inicial de uma exitosa carreira solo do músico baiano
Com informações
dos jornais Correio*, O Dia e Jornal do Commercio
Primeiros discos individuais do cantor foram
resgatados em CD
(Foto: João
Laet/Agência O Dia)
Quatro álbuns
inaugurais de uma brilhante trajetória individual de um dos aclamados e notabilíssimos
cantores e compositores da Música Popular Brasileira já estão de volta às
prateleiras, só que agora editados em formato de áudio digital. A bem-sucedida
carreira solo de Moraes Moreira, que começou no segundo quartel da efervescente
década de 1970, teve seu resgate possível graças ao trabalho cuidadoso de um
renomado produtor musical.
Idealizada por
Marcelo Fróes, a caixa de CDs Moraes
Moreira Anos 70, que integra os discos Moraes
Moreira (1975), Cara e coração
(1977), Alto falante (1978) e Lá vem o Brasil descendo a ladeira
(1979), todos lançados originalmente pela Som Livre, chega ao mercado pelo selo
Discobertas. “Foi como se parasse o
tempo, me vendo naquela época, criando minha personalidade artística, mais
responsabilidade...”, pensou o músico, em depoimento concedido ao jornal Correio*.
Ao lado da emblemática formação dos Novos Baianos – Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Pepeu
Gomes, Paulinho Boca de Cantor e o letrista juazeirense Luiz Galvão –, Moraes participou do registro do
antológico álbum Acabou chorare, de
1972, nascido num sítio em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, onde eles encontraram refúgio.
O vinil, um dos melhores discos produzidos no país, é marcado por clássicos da MPB, como Preta pretinha, A menina dança, Mistério do planeta e Tinindo trincando, todas composições da dupla Moraes-Galvão, além da releitura de Brasil pandeiro, do também baiano Assis Valente (1911-1958).
O vinil, um dos melhores discos produzidos no país, é marcado por clássicos da MPB, como Preta pretinha, A menina dança, Mistério do planeta e Tinindo trincando, todas composições da dupla Moraes-Galvão, além da releitura de Brasil pandeiro, do também baiano Assis Valente (1911-1958).
“Éramos hippies à brasileira, e essa ideia
radical de viver juntos em um sítio era nossa resposta àquele momento de
ditadura (regime militar cujo pontapé foi
o golpe, que completará 50 anos no próximo dia 31)”, lembrou o cantor de 66
anos, filho ilustre de Ituaçu, interior da Bahia, em entrevista ao jornal
carioca O Dia. “Muita gente me
procura falando sobre uma volta dos Novos Baianos, mas nunca seria a mesma
coisa. Só se voltasse a ditadura no Brasil”, ironizou.
Em
sítio carioca, Moraes convivia alegremente com colegas de Novos Baianos
(Foto: Divulgação)
Em coletividade
Na
propriedade em Jacarepaguá, Moraes levava a família e as coisas que ele
aprendeu durante seu convívio coletivo, como a alegria, um dos valores cultivados
pelo músico. “A gente queria uma nova família, pelas ideias e (pelos) ideais. Foi muito bonito, dentro
de um Brasil difícil. Mas era uma liberdade muito cara, conquistada na
ditadura”, contou ao Correio*.
E prosseguiu o rumo da prosa: “A gente queria elevar o astral do país, mas, ao mesmo tempo, o Partido Comunista não nos aceitava porque achavam que éramos pessoas muito alegres. Imagine?”, argumentou.
E prosseguiu o rumo da prosa: “A gente queria elevar o astral do país, mas, ao mesmo tempo, o Partido Comunista não nos aceitava porque achavam que éramos pessoas muito alegres. Imagine?”, argumentou.
Moraes
abandonou os Novos Baianos em 1974. Na opinião do artista, sua saída do grupo,
que subitamente agregava vários músicos, “doeu muito”, contudo ele já estava no
momento de se projetar de maneira autônoma. “A situação nos Novos Baianos era
muito precária, não tinha show, a vida não andava... Já tinha dois filhos (Davi e Ari), precisava de grana, e isso
falou muito alto. Então, tive que começar tudo de novo”, recordou.
Liberdade
artística
No ano subsequente à sua “excomunhão” dos hippies tupiniquins, Moraes Moreira registrou uma discreta estreia solo homônima, até agora inédita em CD, que acaba de ganhar o formato digital embutido na caixa Anos 70 em companhia dos álbuns seguintes. As gravações desses quatro primeiros LPs, que exigiram aprimoramentos progressivos nos arranjos e em estúdio, contaram com o auxílio de um universo de jovens músicos, abrilhantando a fértil sonoridade instrumental.
No ano subsequente à sua “excomunhão” dos hippies tupiniquins, Moraes Moreira registrou uma discreta estreia solo homônima, até agora inédita em CD, que acaba de ganhar o formato digital embutido na caixa Anos 70 em companhia dos álbuns seguintes. As gravações desses quatro primeiros LPs, que exigiram aprimoramentos progressivos nos arranjos e em estúdio, contaram com o auxílio de um universo de jovens músicos, abrilhantando a fértil sonoridade instrumental.
Além do guitarrista soteropolitano Pepeu Gomes, ex-companheiro de Novos Baianos, o núcleo que de imediato se converteria no grupo A Cor do Som – o conterrâneo Armandinho Macedo (guitarra, guitarra baiana, bandolim e craviola), Dadi Carvalho (baixo), Mu Carvalho (teclados e piano) e Gustavo Schroeter (bateria) – compôs o quadro de seletos musicistas que tiveram suporte essencial nos primórdios da carreira solo de Moraes, participando da gravação daqueles discos.
“Mu, irmão de Dadi, começou a carreira profissional neste disco (no primeiro), Gustavo já tocava antes em grupos de rock, os outros tocavam com a gente nos Novos Baianos. Um empresário viu os caras tocando comigo. Eles fizeram muito sucesso como A Cor do Som”, disse.
Os repertórios dos álbuns da fase inicial traziam pérolas como Guitarra baiana (tema da primeira versão da novela Gabriela, de 1975), Pombo correio (1977), Lá vem o Brasil descendo a ladeira e Chão da praça, ambas de 1979. Carro-chefe do segundo LP, Cara e coração, o hino Pombo correio, referência obrigatória em bailes carnavalescos, era uma melodia instrumental criada por Adolfo Nascimento, o Dodô (1914-1978) e Osmar Macedo (1920-1997), que mais tarde ganhou letra de Moraes.
“A música era do repertório do trio elétrico de Dodô e Osmar. Quando comecei a conviver com eles, aprendi a música, feita em 1952, e botei letra em 1974”, explicou, em depoimento ao Jornal do Commercio, do Recife.
Nesta quarta-feira (19), Moraes Moreira fez, na livraria Fnac, na Barra da Tijuca, no Rio, um pocket show apenas com canções extraídas de seus quatro LPs lançados nos anos 1970, em voz e violão. Para compensar sua ausência na agenda do Carnaval, ele se apresentará na próxima semana em Salvador, durante os festejos do aniversário da cidade (veja abaixo).
Álbuns lançados nos anos 70 exigiram constantes
aprimoramentos
(Foto:
Reprodução)
Cantor
anuncia boas-novas
Moraes
Moreira, que havia cancelado sua participação no Carnaval deste ano – ele tocaria
no Circuito Dodô, entre Ondina e o Farol da Barra, na quinta-feira da folia –, retornará
a Salvador para se apresentar no Festival da Cidade, miscelânea de atrações
artísticas para celebrar o aniversário da primeira capital do país, que completará 465 anos.
Ele tocará
na próxima sexta-feira (28), véspera do aniversário da cidade, na Praça Visconde de Cairu, no Comércio, trazendo na
bagagem o espetáculo comemorativo dos 40 anos do álbum Acabou chorare, em parceria com seu filho, o guitarrista Davi
Moraes. “Começamos
essa turnê há dois anos e faz tanto sucesso que ainda não conseguimos parar”,
declarou o músico.
E mais:
ainda para este semestre, Moraes promete o lançamento de um álbum inédito ao
lado de Davi, com o título provisório de Pai
e filho. “Fomos contemplados por um edital da Petrobras. Estamos em estúdio
gravando, vai ter diversas parcerias inéditas nossas”, anunciou, ao jornal O Dia.
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