A questão da fome no contexto global: conceituação geral, fatores e efeitos
Um
gigantesco dilema incomoda diariamente a humanidade, em escala mundial, relacionado
à carência de suprimentos necessários para alimentá-la, provocada por diversos
fatores. Embora a fome se refira à sensação fisiológica pela qual nosso organismo
percebe que precisa de alimentos para a manutenção e a perpetuação das
atividades essenciais à saúde, o termo é utilizado, numa metodologia mais
abrangente, para mencionar os casos de má nutrição ou restrição de alimentos entre
as populações do globo.
Tal
privação acontece com a difusão planetária da miséria ou pobreza, dos problemas
de ordem política, como conflitos e instabilidades governamentais, ou das
condições naturais adversas à agricultura. De acordo com o Índice Global da
Fome de 2010, aproximadamente 1 bilhão de indivíduos são vítimas da falta de
determinados elementos específicos, denominados nutrientes – carboidratos ou
açúcares, lipídios ou gorduras, proteínas, vitaminas e sais minerais –,
substâncias imprescindíveis ao bom funcionamento
corpóreo e à própria vida.
Seja
manifestada por fatores advindos da própria natureza, seja por questões
socioeconômicas e históricas, a fome pode estar suscetível a um dramático
quadro crônico de inanição generalizada, induzindo pessoas nessa situação a um
péssimo desenvolvimento do organismo e à gradativa redução das suas funções.
Persistindo nesse estado crítico, os óbitos se multiplicam entre as vítimas.
As
fomes que vivenciamos mundialmente são ocasionadas por uma multiplicidade de
atributos. Entre eles, podemos levar em consideração as secas, a concentração
da renda, a mínima produtividade na agricultura de subsistência, a injusta estrutura
fundiária, caracterizada pela concentração da terra nas mãos de poucos
proprietários, as invasões de propriedades rurais, a destruição das colheitas,
a existência de uma planificação agrícola deficitária, a instabilidade
política, marcada por péssimos governos, e a sobrecarga de certas áreas gerada pela
explosão populacional.
Outras
causas também inviabilizam ou restringem a alimentação de milhares de pessoas,
citando o difícil acesso aos meios produtivos, em particular pelos
trabalhadores rurais, a administração deficiente e ineficaz dos recursos
naturais, a logística inadequada para o escoamento da produção alimentícia e a
influência das grandes corporações multinacionais, sediadas em países centrais,
nos hábitos alimentares de nações do Terceiro Mundo. Essas empresas, por sinal,
impõem os preços de seus produtos.
Paralelo
a isso, em compensação, acarretam catástrofes ecológicas ou realizadas pela
interferência do ser humano e ainda conflitos civis, merecendo ênfase para as
guerras. Os conflitos se proliferam especificamente em regiões onde as batalhas
são realizadas na superfície terrestre, com o intuito de devastar áreas
produtivas por intermédio das queimadas ou de contaminá-las, como na África,
continente que detém as maiores taxas de nutrição incipiente do planeta.
Não
somente a progressiva retração da massa corporal dos indivíduos, levando-os eventualmente
às mortes, é o sintoma preponderante da fome. Há uma série de consequências complementares,
decorrentes da falta de uma alimentação adequada, dentre as quais
exemplificamos a seguir: distúrbios na capacidade cognitiva e intelectual das
crianças, acréscimo na taxa de mortalidade em virtude da insuficiência de
alimentos energéticos e proteicos, aumento descontrolado da natalidade e baixa
taxa de fertilidade.
Apesar
da adoção de parâmetros tecnológicos e voluntários a fim de minimizar o
perseverante problema nutricional, tais como melhoramentos na infraestrutura
sanitária, imunizações e distribuição de alimentos por agências humanitárias
internacionais, o que fez diminuir substancialmente o contingente global de
desnutridos e subnutridos, as causas e os sintomas criados pela fome, um dos
insistentes males do homem, continuam intactos.
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