Em defesa das cidades e de seus cidadãos
O
vereador, além de dialogar com a população e elaborar as leis vitais para o
município, fiscaliza as finanças da prefeitura
Porta-vozes da população de uma cidade, bem como de suas respectivas comunidades, os vereadores exercem as funções legislativa e fiscalizadora. Cabem a eles, interlocutores entre os habitantes e o prefeito, atender aos anseios populares, elaborando projetos de lei que estimulem o desenvolvimento social e urbano, e verificar as contas da prefeitura, dentre outras atribuições relevantes para o bem geral dos cidadãos.
Porta-vozes da população de uma cidade, bem como de suas respectivas comunidades, os vereadores exercem as funções legislativa e fiscalizadora. Cabem a eles, interlocutores entre os habitantes e o prefeito, atender aos anseios populares, elaborando projetos de lei que estimulem o desenvolvimento social e urbano, e verificar as contas da prefeitura, dentre outras atribuições relevantes para o bem geral dos cidadãos.
No Brasil, as câmaras municipais, onde
se agregam os vereadores, sediam o Legislativo nos municípios. “Elas são a mais
antiga e permanente instituição política brasileira. Logo, os vereadores
constituem a fonte primeira de representação política no país”, esclarece o
professor de História da Universidade de Brasília (UnB) e consultor legislativo
do Senado Federal, Antônio Barbosa, em artigo publicado na edição 2009 do Guia do Vereador.
O historiador reitera que, durante o
período colonial, quando surgiram as primeiras casas – a de Salvador foi a pioneira
dentre elas, fundada em 1549 –, seus membros eram designados “homens bons”,
pessoas de posse e de prestígio, que deliberavam e agiam sobre múltiplos
assuntos locais. A eles foram incorporados, mais tarde, os “homens novos”,
geralmente enriquecidos pelo potencial econômico, sobretudo pelo comércio.
Possuindo estrutura e privilégios
similares aos manifestados nas principais câmaras portuguesas, as Casas de
Vereação ou Conselhos de Vereança, como elas eram denominadas à época, não
exerciam qualquer atribuição legislativa, pois “tratavam de matérias relativas a
finanças e administração”, conforme pontuou a historiadora Consuelo Novais
Sampaio, em sessão solene no plenário da Câmara Municipal de Salvador, em 3 de
maio de 1994.
As câmaras, tanto no Brasil Colônia
quanto no Império, eram o único poder vigente em âmbito municipal, sendo a
instância primordial no cotidiano dos cidadãos. “Como não existia o Poder
Executivo Municipal como conhecemos na atualidade, cabia ao vereador uma série
de atribuições e responsabilidades, quase todas vinculadas à administração local”,
afirma Antônio Barbosa.
República garantiu autonomia de poder
Com a instauração do regime
republicano, o horizonte político-administrativo municipal se fragmentou em duas
esferas autônomas e distintas: o Poder Executivo, ocupado pelo prefeito e por
sua equipe, e o Poder Legislativo, composto pelos vereadores. Por conseguinte,
eles passaram a desempenhar papéis essenciais para o dia a dia das cidades:
legislativa, a fim de cooperar na ordenação e no aprimoramento da vida de seus
habitantes; e fiscalizadora, visando à verificação das finanças e do orçamento
do Executivo.
De acordo com Barbosa, a moderna organização
do Estado brasileiro, seguindo a tendência do mundo contemporâneo, confere às
câmaras o tradicional papel parlamentar e democrático dos centros urbanos. “Não
cabe mais ao vereador administrar a comunidade, tal como fez durante séculos”, explica.
Ele também destaca que, além de cumprirem suas funções, os vereadores se
utilizam da palavra, toda vez que houver necessidade, como é de praxe nos
plenários.
Nas configurações das Câmaras
Municipais, observa-se a emergência de personalidades de gêneros, etnias e camadas
sociais diversas, como negros, mulheres, homossexuais, bissexuais, travestis, transgêneros,
sindicalistas e lideranças comunitárias. Em Salvador, na atual legislatura, notórios
parlamentares, a exemplo de Laudelino Lau (PP), Marta Rodrigues (PT), Olívia
Santana (PC do B), Andréa Mendonça (PV) e Léo Kret (PR), ilustram com nitidez o
dinamismo dessa presença na Casa.
O Poder Legislativo soteropolitano hoje
consta de 41 vereadores eleitos por voto direto, com mandato fixado em quatro
anos, sendo possível sua renovação ilimitada. A quantidade de legisladores por
município é estipulada tendo como alicerce o seu contingente populacional. Conforme
os dados do Censo 2010, coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a capital baiana possui 2.675.656 habitantes.
Leis resultam de propostas de
vereadores
Todo vereador tem a tarefa de redigir projetos
de lei, que, logo após serem aprovados em sessões plenárias, se transformam em
leis a serem aplicadas nas cidades. “Como os
vereadores são responsáveis por elaborar leis, sua influência no cotidiano das
cidades é total. Desde a qualidade e o preço do transporte público até a
ocupação do solo, ou seja, o que e como será construído”, observa o sociólogo e professor adjunto da Universidade
Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Sílvio Benevides.
Entretanto, de acordo com Sílvio, o
povo brasileiro, inclusive o soteropolitano, não cumpre as legislações por uma
questão cultural. “Aqui no
Brasil e em Salvador, em particular, há uma tendência a não cumprir
regras. O Estado, geralmente, não fiscaliza, para fazer cumprir as leis, e a
população não as segue, pois, no geral, acha que as leis são para os outros e
não para si mesmo”, afirma
o docente. Na opinião dele, em consequência, o Poder Legislativo da Cidade da
Bahia encontra-se totalmente omisso.
O encarregado de obras José Carlos dos
Santos, 40 anos, percebe a dimensão da falta de preservação e cuidado na
capital baiana por causa da irresponsabilidade de parte dos vereadores. “A
cidade está acabada, mas não só o Pelourinho. Acho que nossos vereadores deveriam
prestar atenção”, assegura. José Carlos conclui ainda que eles precisam “brigar”
por Salvador e pelos direitos dos seus cidadãos, e que necessitam ter pleno
interesse pela cidade, contribuindo para a sua conservação.
Pelo fato de o vereador ser
considerado o detentor de mandato parlamentar mais próximo da comunidade onde
vive, representa e atua, cabe a ele ouvir e enviar as exigências da população e
sugerir providências para os problemas que a afligem.
Amiga de políticos influentes no
bairro onde reside, a Boca do Rio, a aposentada Maria Estelita Rocha, 67 anos, enfatiza
o propósito do legislador municipal perante o povo. “Ele se elege por meio da
população do seu bairro e trabalha em prol da comunidade”, salienta Estelita,
que já assessorou, na década de 1980, o ex-vereador Agenor Oliveira, hoje
falecido.
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