Morre Fernando Sant'Anna, um incansável lutador
Um dos veementes opositores da ditadura, ex-deputado comunista baiano não resistiu a infarto
Com informações de A Tarde Online e do portal da Câmara dos Deputados
Fernando Sant'Anna contestava o status quo vigente nas estruturas do país
(Foto: Edson Ruiz/Arquivo A Tarde)
Considerado um dos derradeiros comunistas históricos vivos do Brasil, o ex-deputado federal baiano Fernando Sant'Anna faleceu na tarde desta quinta-feira (1º), aos 96 anos, de infarto fulminante, no Hospital Português, no bairro da Barra, em Salvador, onde estava internado. Ex-membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ele se destacava por sua persistente atuação no combate ao regime militar e em favor da liberdade.
O deputado federal Daniel Almeida, presidente estadual do PC do B - que surgiu de uma dissidência do velho "Partidão" -, em depoimento ao jornal A Tarde, viu a morte do ex-parlamentar como "uma grande perda". "Ele foi contemporâneo de praticamente todas as gerações de comunistas do Brasil, nos últimos 60 anos. Era um exemplo de homem inspirado, mais pelas suas ideias do que por tantas outras virtudes", recorda.
Para a senadora Lídice da Mata (PSB), presidente de sua agremiação na Bahia, Sant'Anna - "um homem amplo, patrimônio do Estado", nas palavras da parlamentar - representava o ideal combativo e contestador ao status quo imperante nos decênios em que ele militava na política.
Em defesa da nação
Nascido em Irará, em 10 de outubro de 1915, Fernando Reis Sant'Anna, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica em 1944, era, segundo Daniel Almeida, "firme em seus ideais, com forte ligação com os interesses nacionais e vigilante dos anseios do povo".
Seu largo e bravo itinerário se confunde mutuamente com as aspirações democráticas da nação. Em 1958, foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), numa época em que a legenda alojava uma porção de comunistas, então militando na clandestinidade. Reeleito em 1962, Fernando Sant'Anna teve seu mandato cassado pelo golpe militar de 1964, através do Ato Institucional nº 1 (AI-1), baixado em 9 de abril daquele ano.
Voltou à cena política dezoito anos mais tarde, em 1982, como deputado federal pelo PMDB - os partidos comunistas ainda estavam proibidos de funcionar legalmente, mesmo durante a "abertura" controlada dos últimos instantes do sistema arbitrário. Logo após à redemocratização, em 1985, Sant'Anna já pôde se filiar ao legalizado PCB.
O ciclo eletivo de Fernando Sant'Anna se encerrou em 1986, quando foi reeleito, dessa vez para a Assembleia Nacional Constituinte, crucial na elaboração da atual Carta Magna, promulgada em 1988. Na Constituinte, integrou as comissões de Sistematização, na qualidade de suplente, e de Ordem Econômica, como segundo vice-presidente da subcomissão da Política Agrária e Fundiária e da Reforma Agrária.
Dirigente de honra
Quando morreu, o ex-deputado era filiado ao Partido Popular Socialista (PPS) - criado em janeiro de 1992 em substituição ao desgastado "Partidão", como um dos reflexos brasileiros do colapso do bloco soviético ocasionado pela extinção da Guerra Fria -, do qual ocupava o cargo de presidente de honra. O corpo do ex-comunista foi cremado às 17 h desta sexta-feira (2), no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas.
Também hoje, pouco antes da cremação de Fernando Sant'Anna, o governador Jaques Wagner (PT) decretou luto oficial de três dias pelo falecimento do ex-parlamentar. Em nota, Wagner enfatizou a contribuição de Sant'Anna, fundamental para a história da Bahia e para a luta pelo restabelecimento efetivo da democracia no Brasil.
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