A imprensa em "O pagador de promessas"
Artigo orientado pelo professor Mauro Luciano de Araújo, docente de História do Jornalismo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge)
O premiado filme O pagador de promessas, de 1962, dirigido por Anselmo Duarte e baseado na peça teatral homônima do célebre dramaturgo baiano Dias Gomes, é ambientado no Centro Histórico de Salvador, daí os resquícios dos elementos coloniais exibidos na obra cinematográfica, apesar de ela ser elaborada em meados do século XX.
O premiado filme O pagador de promessas, de 1962, dirigido por Anselmo Duarte e baseado na peça teatral homônima do célebre dramaturgo baiano Dias Gomes, é ambientado no Centro Histórico de Salvador, daí os resquícios dos elementos coloniais exibidos na obra cinematográfica, apesar de ela ser elaborada em meados do século XX.
Seu protagonista é Zé do Burro, um pequeno e humilde proprietário rural interpretado pelo ator Leonardo Villar. O personagem abandonou o sertão da Bahia em direção à Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, carregando uma pesada cruz sobre seus ombros com o propósito de cumprir promessas à santa.
Nela está implícita a história do povo nordestino, vitimado pelos problemas frequentes no sertão da região, como o coronelismo, o êxodo rural e sua consequente urbanização e, sobretudo, a imprensa manipuladora, comparada atualmente à imprensa sensacionalista.
A primeira cena concernente à imprensa em O pagador de promessas é ambientada na redação de um extinto periódico de Salvador, o Jornal da Bahia, onde o chefe de reportagem sugeriu ao repórter para que ele redigisse uma notícia sobre Zé do Burro. Em seguida, as equipes de reportagem chegaram às extensas escadarias da Igreja de Santa Bárbara, e o repórter o entrevistou sobre a reforma agrária, uma questão que, passados quase cinquenta anos após o lançamento do filme, continua sendo uma utopia.
No dia seguinte à vinda dos jornalistas às escadarias do templo católico, o Jornal da Bahia e o jornal A Tarde saíram, respectivamente, com as manchetes de primeira página “Novo ‘Cristo’ prega a revolução” e “Místico ou agitador?”, explicitando a face revolucionária de Zé do Burro, que promete modificar as estruturas da sociedade rural baiana com a implantação de uma reforma agrária.
Vários exemplares dos jornais foram rapidamente distribuídos nas adjacências da igreja, e as notícias neles publicadas foram comentadas dentro e fora do templo. Uma outra cena mostra um repórter da TV Itapoan, à época a única emissora de televisão da Bahia, perguntando a Zé do Burro se ele fez algum milagre.
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