Cúmplices da imoralidade e da má educação

2 de junho de 2009

Menores abandonados, espalhados pelas maiores cidades, apesar de serem sinônimos de exclusão social, de crueldade e de vergonha, transformam-se em agentes do medo perpétuo da comunidade. Praticam, portanto, o terror, a violência e a impunidade. Além disso, degradam e invadem a paisagem urbana, maravilhosa somente na aparência. Se as cidades são aparentemente belas, o mundo cão domina completamente a nossa realidade social, afetando a vida de bilhões de habitantes no planeta.

Convivendo com muitos problemas de ordem social e econômica, crianças e jovens, apesar de estarem abaixo da maioridade oficial – 18 anos –, trancam cedo suas obrigações (estudos) e suas diversões para ingressar no mercado de trabalho, ou para fazer alguns “bicos” diários em plena via pública. Esses “capitães da areia”, como o imortal e amado Jorge os descreveu, os menores, sem nenhum auxílio social, persistem até a atualidade.

Diversas leis foram criadas e sancionadas ao longo da história contemporânea do Brasil, com a finalidade de instituir alguma “liberdade” e algum “apoio” ao menor, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), vigente desde julho de 1990. Entretanto, essas legislações que deveriam ser cumpridas nunca incentivaram a sua independência frente às suas crescentes dificuldades. Trata-se de uma manobra de natureza jurídica que serve para barrar o acesso das crianças carentes ao exercício pleno dos direitos humanos e da cidadania.

Tendo o trabalho e a exploração sexual infantis como “carros-chefes”, muitas crianças e adolescentes cujas residências fixas são as ruas, as avenidas, as praças e os largos, popularmente conhecidos como meninos de rua, não possuem a mínima ideia do que realmente deveria ser o seu futuro. Para eles, seu futuro é incerto e se resume a uma incógnita, portanto são nascidos e criados por uma série de complicações biológicas, sociais, psicológicas e emocionais.

Devido à imensurável burocracia governamental e à tão feroz corrupção, nenhum programa seguro e eficaz de desenvolvimento e bem-estar dos menores que hoje vivem perigosamente em centenas de logradouros urbanos nunca foi colocado em prática. A permanência dos tristes e humildes “capitães da areia” nas grandes metrópoles brasileiras, como Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, é uma consequência da falta de recursos público-privados destinados à melhoria de sua qualidade de vida.

Todas as pessoas, com idades entre 0 e 18 anos, devem estar intensamente conscientizadas e mobilizadas e ter uma noção da educação, que é o maior e mais supremo de todos os direitos humanos, sendo responsável por abrir os horizontes para a liberdade, a amizade, o amor, a saúde, a harmonia e a felicidade.

É a partir da educação – que ainda é um sonho possível – que o Brasil seguirá em frente, contribuindo decisivamente para o progresso infantojuvenil do país. Como disse Anísio Teixeira, grande educador baiano que revolucionou o ensino brasileiro, a educação não é um privilégio de poucos, e sim um direito a ser definitivamente exercido por todo o povo.

É importante ressaltar que os meninos de rua são, de fato, cúmplices da incompetência e da imoralidade entre os diversos obstáculos com que a sociedade convive. Os frequentes terrores diurnos e noturnos, aliados à miserabilidade, à fome, à insegurança e à constante carência de educação básica, fazem desses menores desabrigados o principal inimigo público da infância e da juventude. Para aqueles que procuram abrigos ao ar livre nas cidades, o trabalho precoce e a criminalidade são considerados suas prioridades.

Até quando os pequenos “terroristas”, que diariamente assustam muitos indivíduos normais praticando o medo e o perigo duradouros, irão continuar morando nas ruas? É um problema extremamente difícil de ser resolvido, tendo como produtos finais o “culto” e a “adoração” ao submundo.

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