Receita de risos reencenados
Em cartaz no Teatro Isba, Abafabanca – Uma delícia de comédia reúne esquetes de múltiplos autores numa
versão atualizada da peça, com temas que satirizam o mundo
contemporâneo
Remontagem permite ao público o contato com
comédia que inaugurou a Cia. Baiana de Patifaria, há quase 27 anos
(Foto:
Divulgação)
Você já tem
noção exata do que é Abafabanca? Em bom baianês, essa iguaria, comum na década de
1960, consistia no suco caseiro de frutas sortidas, despejado em cubas de gelo
que, ao passar para o estado sólido, era largamente vendido em residências de bairros populares. Hoje, o
antecessor dos atuais “geladinhos” também empresta nome a um sortimento
humorístico que está sendo reencenado em Salvador.
Com o
subtítulo Uma delícia de comédia, a
receita do exitoso espetáculo idealizado pela Cia. Baiana de Patifaria, cuja
remontagem está em cartaz todos os sábados e domingos, até o dia 1º de junho, a
partir das 20 horas, no Teatro Isba, em Ondina, mistura todos os ingredientes
necessários para se preparar ótimas e divertidas sessões geradoras de riso dentro
de uma irreverente multiplicidade condensada em cinco esquetes hilariantes.
Frutificadas
a partir da adaptação de textos dos dramaturgos Aninha Franco, Miguel
Falabella, Filinto Coelho e Luís Sérgio Ramos e também da própria “corporação”
teatral, as esquetes que reúnem a atualização, baseada na versão de 1990, têm como tônica as
críticas ao mundo contemporâneo. Essa reconstituição permite ao público o
contato com a comédia que germinou a pesquisa sobre o gênero que o grupo vem
desenvolvendo há quase 27 anos (leia um pouco mais da história abaixo).
O elenco da Abafabanca reformulada – “uma nova
galera, uma nova trupe, olhando para frente”, segundo Lelo Filho, um dos “patifes” pioneiros –, combina a experiência dos veteranos Lelo e Diogo Lopes Filho com a juventude dos novatos Mário Bezerra (Éramos gays e Dom Quixote) e Talis Castro (Pólvora e poesia e Clube dos H. I. E. N. A. S.). “A companhia faz parte da minha
formação como ator, como comediante”, afirmou Talis, em depoimento à jornalista Anna Valéria.
Embora tenha integrado os quadros da Cia. Baiana de Patifaria em tempos remotos, atuando em trabalhos antológicos como A bofetada, Noviças rebeldes e 3 em 1, Diogo salientou à repórter do programa dominical noturno Rede
Bahia Revista que participar da reencenação de Abafabanca é “uma novidade completa”, por nunca ter comparecido ao
espetáculo.
“Eu só tive
alguma referência agora, vendo alguns vídeos antigos e cinema gay, teatro
filmado não é a mesma coisa que uma peça. Então, assim, para mim é tudo novo, porque
eu morava no interior, estudava. Quando fui conhecer a companhia, já fui
conhecê-la com A bofetada”, recordou,
citando uma montagem de prestígio do grupo.
Com Talis, Diogo, Mário e Lelo (da esquerda para a direita), elenco de Abafabanca combina experiência e juventude
(Foto: Divulgação)
Cinco cenas
em uma só montagem
De autoria
de Aninha Franco, a esquete inicial de Abafabanca,
denominada “Disque orgasmo”, que fez parte da primeira versão, datada de 1987, narra os delírios amorosos e sexuais de uma mulher
que recebe de um operador de uma companhia telefônica uma chamada no meio da
noite, oferecendo um novo, curioso e “estranho” serviço.
A segunda cena
da coletânea cômica reinventada pelos “patifes”, “Véu e grinalda”, adaptada livremente
de um texto assinado pelo carioca Miguel Falabella, contém porções de humor ácido e crítico. Trata-se de uma sátira acerca da cerimônia de casamento,
considerada para muitas mulheres seu maior sonho, na qual conta a saga de Bárbara, uma mãe alcoólatra, durante a organização das núpcias de sua filha Bebel.
Protagonizada por Lelo Filho, que também dirige o espetáculo, a esquete subsequente, intitulada “Alva, a mãe”, possui
um enredo ao mesmo tempo hilário e insólito. Na história de Filinto Coelho, a personagem-título retorna de Nova Jerusalém,
interior de Pernambuco, onde passou a Semana Santa, sendo surpreendida ao
encontrar em casa o filho Mário Augusto, encarnado por Mário Bezerra,
acompanhado e bem à vontade.
Segundo a
assessoria de imprensa da remontagem, Alva cria um inevitável susto dramático, que
por sua vez é semelhante aos antigos dramalhões mexicanos exibidos em alguns canais televisivos,
principalmente no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
A quarta esquete,
de criação coletiva, permite à plateia a chance de conhecer Patrícia Faria,
interpretada por Talis Castro, o mais jovem do elenco. Autointitulando-se musa da Cia. Baiana
de Patifaria, daí o apelido Pat Faria, a personagem foi encarnada na versão
original por Moacir Moreno (1959-1994), um dos fundadores da trupe e homenageado dessa cena
que induz o público a interagir com irreverência.
Na cena
final, batizada de “O mingau”, de Luís Sérgio Ramos, o grupo faz uma imersão
no universo do teatro do absurdo, narrando o dilema dos pais de
Helga, indecisos em realizar um velório simples ou transformar a morte da filha
em um majestoso evento social. Para conferir Abafabanca, o espectador precisa comprar
o ingresso, que custa R$ 25 a meia. A inteira sai por R$ 50.
Lelo Filho colaborou na escolha do nome da montagem, da qual também é diretor
(Foto: Divulgação)
Peça se confunde
com história da companhia
Abafabanca, que estreou
originalmente no extinto espaço Ad Libitum – “à vontade”, em latim – em 4 de
junho de 1987, assinalou o prelúdio da Cia. Baiana de Patifaria, que imediatamente marcou
época no circuito das artes cênicas e do humor local. O batismo da comédia foi sacramentado pelos primeiros membros do elenco e do conglomerado, os atores
Moacir Moreno, Lelo Filho, Celso Júnior, Lino Costa, Péricles Cerqueira e
Fernando Marinho.
“27 anos, esse é o
nosso DNA. É a origem da Cia. Baiana de Patifaria, que estreou nos palcos em
87, exatamente com esse espetáculo”, disse Lelo.
Naquela ocasião, apresentaram-se seis esquetes escritas por Karl Valentim, Aninha Franco, Filinto Coelho e pelo próprio coletivo recém-estabelecido, e interligadas por vinhetas (cenas curtas) de temas sortidos. Além disso, a peça mostrava ao público três grandes inovações no segmento do teatro baiano.
Naquela ocasião, apresentaram-se seis esquetes escritas por Karl Valentim, Aninha Franco, Filinto Coelho e pelo próprio coletivo recém-estabelecido, e interligadas por vinhetas (cenas curtas) de temas sortidos. Além disso, a peça mostrava ao público três grandes inovações no segmento do teatro baiano.
Introduziu em Salvador um gênero cômico inédito, chamado “besteirol”, trouxe ao
palco um grupo constituído apenas por homens e consolidou uma direção composta por uma
equipe de cinco diretores. Esses atributos propiciaram, a cada esquete,
pesquisas e enfoques diferenciados, aliados a novas possibilidades de
encenação. Uma curiosidade: no ano em que Abafabanca fez sua estreia nos palcos, o cantor Gerônimo lançou uma deliciosa lambada afrocaribenha de mesmo nome.
Serviço
Espetáculo: Abafabanca – Uma delícia de comédia
Espetáculo: Abafabanca – Uma delícia de comédia
Elenco: Diogo Lopes Filho, Lelo Filho, Mário Bezerra e Talis Castro
Direção geral: Lelo Filho
Período e horário: Sábados e domingos, até 1º de junho, a partir das 20 h
Local: Teatro Isba
Endereço: Avenida Oceânica, 2.717, Ondina
Ingressos: R$ 25 (meia) e R$ 50 (inteira)
Informações: (71) 4009-3689
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