A saga de um herói perdido

História de salva-vidas que abandona sua terra natal, interpretado por Wagner Moura, domina a narrativa do filme Praia do Futuro, coprodução Brasil-Alemanha rodada em ambos os países

 

Em praia de Fortaleza, Donato não consegue resgatar corpo em função dos altos índices de afogamento

(Foto: Divulgação)

 

Exibido pela primeira vez na mostra competitiva do 64º Festival de Berlim, em fevereiro, o longa-metragem Praia do Futuro, dirigido por Karim Aïnouz (Madame Satã, 2002; O céu de Suely, 2006; Viajo porque preciso, volto porque te amo, 2010; Abismo prateado, 2013), apresenta um elenco de proveniências díspares em uma comovente história que inclui relações amorosas entre dois homens.

O filme, com 90 minutos de duração, estreia nos cinemas de todo o país nesta quinta-feira (15) e tem como protagonistas o baiano Wagner Moura (Tropa de elite, 2007 e 2010), o pernambucano Jesuíta Barbosa (Serra Pelada, 2013), revelação do cinema nacional, e um reforço internacional, o alemão Clemens Schick (007: Casino Royale, 2006), reconhecido por suas participações em longas europeus e estadunidenses.

Fruto de uma coprodução entre Brasil e Alemanha, Praia do Futuro, rodado em 2012 com locações na tropical e ensolarada Fortaleza e na frígida Berlim, é considerado um dos lançamentos de maior expectativa neste ano. Conforme Karim, que nasceu em Fortaleza, trata-se de um filme que retrata a coragem, o risco, a viagem, a aventura e a liberdade.
 

“São personagens que não têm medo de largar tudo para começar a vida de novo. Querem pegar para si tudo o que o mundo tem a oferecer. São personagens destemidos, sem medo, velozes”, argumentou o cineasta, que está em seu quinto longa, em depoimento ao jornal Tribuna do Ceará.

A saga de Donato, papel de Wagner, um experiente salva-vidas da Praia do Futuro, um dos bairros nobres de Fortaleza, é o eixo central do enredo do filme. Pelo fato de ser uma das praias mais perigosas do país em função do alto risco de afogamento, Donato não obtém êxito em seu primeiro resgate, forçando o salva-vidas a conhecer o alemão Konrad (Clemens Schick), obcecado por motovelocidade, de passagem pela capital cearense.

 

Nessas circunstâncias, os dois iniciam um intenso relacionamento homoafetivo, fazendo com que Donato deixasse para trás o passado, inclusive a família, em sua cidade natal e transferisse para Berlim, onde recomeça sua trajetória. Ao aportar na capital alemã, o salva-vidas decide trabalhar na piscina de um aquário. Tempos mais tarde, seu irmão mais novo, Ayrton (Jesuíta Barbosa), embarca para a Europa em busca de seu herói perdido.

 

Piloto de motovelocidade, alemão Konrad (à direita) mantém caso homoafetivo com salva-vidas

(Foto: Divulgação)

 

Transversalidades

 

De acordo com Wagner Moura, o romance homossexual, mesmo sendo a tônica da narrativa de Praia do Futuro, não corresponde ao aspecto principal, já que a trama aborda ainda questões transversais de identidade e pertencimento dos protagonistas, temáticas exploradas com frequência em outras obras cinematográficas dirigidas por Karim.

 

“Eu acho que quando a gente começa a falar dessas coisas, dando muita ênfase, o subtexto é o preconceito. Esse é um filme sobre pessoas. O fato de ele ser gay ou não, não deve ser um assunto. Praia do Futuro tem uma história de amor entre dois caras, que é superbonita, mas o filme não é um romance”, explicou.

 

O ator baiano ainda acrescentou que Donato é um herói cujas raízes vão sucumbindo progressivamente, mas de maneira bastante humana. Segundo ele, o personagem vive no filme uma vida incompatível com a do intérprete. “Quando ele perde um salvamento na praia, começa a se fragilizar e entra num processo para virar outra pessoa”, contou, em entrevista ao portal Bahia Notícias na pré-estreia em Salvador, na semana passada.

Caráter autobiográfico

 

Assim como em todas as outras películas de Karim Aïnouz, Praia do Futuro possui natureza autobiográfica. Os vínculos do cineasta com o local que dá nome ao longa se iniciaram logo na infância, aos oito anos de idade, quando ele, que morava longe, se mudou num bairro próximo à praia com sua família.

“Ali (Praia do Futuro) é minha casa, foi lá que me afoguei na beirinha do mar, fiz muita festa naquela água”, recordou.

 

O diretor salientou que o filme se alicerça na iniciativa de um personagem que vai embora para o mundo e nunca mais regressa em sua terra de origem. “Eu saí de casa aos 17 anos e fui para o mundo. Então, o sentimento de Donato é uma sensação que eu conheço e que me fez muito bem. Mas nunca são autobiografias diretas, são sensações que você experimenta”, concluiu Karim.

 

Karim (o segundo, da esquerda para a direita, ao lado de Jesuíta, Wagner e Clemens) admite que filme soa autobiográfico

(Foto: Divulgação)

 

Ficha técnica de Praia do Futuro

 

Título original: Praia do Futuro (Brasil/Alemanha, 2014)

 

Gênero: Drama

 

Direção: Karim Aïnouz

 

Roteiro: Karim Aïnouz e Felipe Bragança

 

Produção: Geórgia Costa Araújo e Hank Levine

 

Elenco: Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa, Sophie Charlotte, Emily Cox, Sávio Ygor Ramos e outros

 

Distribuição: Califórnia Filmes

 

Duração: 90 minutos

 

Classificação: 16 anos

 

Confira, abaixo, os dois trailers oficiais de Praia do Futuro, resumos do que será o filme, cuja estreia está programada nos cinemas para esta quinta-feira, dia 15