Inventor e transformador de multiartes
Famoso por ter criado a essência visual
da Timbalada, o artista plástico, designer gráfico e cenógrafo Ray Vianna mantém em seu
currículo centenas de obras que penetram no inconsciente coletivo dos baianos
Há
mais de três décadas, Ray (com suas tulipas ao fundo) contribui para
a preservação artística e cultural do estado, em especial no Carnaval de
Salvador
(Foto: Divulgação)
Quem
um dia já viu os desenhos corporais aleatórios em tinta branca, que há
vinte anos se transformou numa eterna marca registrada da Timbalada, pintando todos
os seus integrantes e admiradores? E quem já esteve de passagem pela praia do
Rio Vermelho, observando a maravilhosa escultura em homenagem a Iemanjá, tendo
como pano de fundo a tranquilidade marítima, cujo formato reproduz um excêntrico
rabo de peixe?
Por
trás dessas e de centenas de obras visuais que costumam deixar vestígios no
inconsciente coletivo dos baianos está um visionário, um gênio inventivo, uma
oficina criativa de múltiplas funcionalidades, que atende pelo nome de Ray
Vianna. Desde a década de 1970, o artista plástico, designer gráfico e cenógrafo atua substancialmente no movimento
artístico e cultural do estado, sobretudo no tocante ao Carnaval de Salvador.
“Comecei
em 76, nas decorações da cidade do Salvador, na época em que se fazia decoração,
no único circuito que existia, do Campo Grande até a Praça da Sé. Meu irmão já
era aluno da escola (de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia, Ufba) e fazia parte da equipe de Juarez
Paraíso, nosso grande mestre. Antes de ser artista e entrar na Escola de Belas
Artes como aluno, eu já fazia parte dessa equipe, nas grandes decorações, que
foram várias”, vislumbrou, em depoimento à repórter Sílvia Resende, do programa
Mosaico Baiano, da TV Bahia.
A cada
temporada da maior festa popular do mundo, Ray tem se destacado como uma espécie
de laboratório de desenvolvimento de várias decorações das ruas soteropolitanas,
do projeto até a execução, além da feitura de estampas em abadás, adereços,
camarotes, carros alegóricos e peças publicitárias, experiências que o habilitaram
a ser um dos mais revolucionários artistas em âmbito nacional.
O
multiartista arquiteta ainda, desde 1993, projetos vibrantes e radicais,
solidificados em caminhões irradiadores de som em potência máxima, os trios
elétricos. Entre os renomados artistas que Ray prestou serviço no planejamento e
na construção de trios estão as bandas Timbalada e Motumbá – comandada pelo
ex-timbaleiro Alexandre Guedes –, e os cantores Carlinhos Brown, Ivete Sangalo,
Margareth Menezes, Gilberto Gil e Netinho.
Traços
brancos desenhados sobre o corpo tornaram-se referência, sendo usados como forma visual de identificação da baianidade
(Capa: Ray Vianna, com foto de David Glat – 1993)
O
homem do look timbaleiro
Mais
conhecido do público por ter concebido toda a identidade visual da Timbalada,
justamente pela amizade recíproca com Brown desde o alvorecer dos anos 1990, Ray
Vianna idealizou aquilo que seria a principal tradução do grupo percussivo. De
acordo com a assessoria do artista plástico, os traços desenhados com tinta
branca sobre os corpos tornaram-se referência, sendo utilizados em diversas circunstâncias por órgãos oficiais de turismo e empresas privadas, como forma visual de identificação da baianidade.
Sobre
o surgimento das pinturas corporais, que instantaneamente virou um modismo, ele
contou: “E aí, aquele desafio: eu disse: ‘Pô, o que eu vou fazer? Puxe uma na
hora’ Eu vi um rei africano, sabe? E aí, o inconsciente veio e aquelas
referências africanas primitivas, todas vieram, e eu comecei a fazer os
espirais, os triângulos, combinando com o corpo dele, e aí pegou. Daí em
diante, começamos a pintar a banda toda.”
Como
designer gráfico, sua inventividade já
chegou a estampar capas de registros fonográficos não somente da Timbalada e do
seu fundador e patrono, mas também de outros cantores e bandas, como Margareth,
Araketu, Pimenta N’Ativa, Cheiro de Amor, Motumbá e Negra Cor. Pelo seu
magnífico dom criativo, suas capas de discos viabilizaram seu nome a cruzar as
fronteiras da Bahia e concederam-lhe diversas premiações, como o Prêmio Caymmi,
além da sua inclusão no 19º Anuário do Clube de Criação de São Paulo.
Esculturas
Odoyá, em aço inoxidável; e
Helicônias, em fibra de vidro, estão
entre os trabalhos mais recentes do multiartista
(Fotos: Divulgação)
Diversidade
explícita em tudo
O
currículo de Ray Vianna não se restringe apenas ao panorama musical e
carnavalesco que o adquiriu carisma e reputação. Não se pode deixar de
mencionar seus trabalhos memoráveis, acentuados por uma de suas características
primordiais desenvolvidas ao longo de mais de três décadas de ofício, a
diversidade, evidenciada em propósitos, linguagens e expressões que
transparecem na multiplicidade manifestada nas peças que ele forjou.
Cenografia
em palcos de espetáculos e em programas de televisão locais – Aprovado e Mosaico Baiano, ambos da TV Bahia; ambientações cenográficas em
ruas, complexos hoteleiros da Costa do Sauipe, no litoral norte, estandes e
premiações, demonstrando perfeitamente a harmonia de conceitos como merchandising e arte; intervenções nas
fachadas do Museu du Ritmo, da Escola Pracatum e do Estúdio Ilha dos Sapos,
além de uma quantidade incomensurável de imaginações que implicam autenticidade,
contemporaneidade, qualidade e perfeccionismo.
No
segmento das artes plásticas, o multiartista explora em telas, peças digitais e
esculturas imagens que permeiam situações cotidianas e abstrações. Entre suas obras mais
recentes, estão a escultura em formato de barbatana de um peixe, intitulada Odoyá, confeccionada em aço inoxidável em
2008 em reverência a Iemanjá, a suprema rainha das águas, na praia do Rio
Vermelho, as tulipas brancas da Avenida Garibaldi e as helicônias do canteiro
central da Avenida Vasco da Gama, instaladas no ano passado e neste ano,
respectivamente.
Essas
últimas, elaboradas em fibra de vidro com pintura automotiva branca, integram o
projeto Flores da Paz, um convênio com a prefeitura de Salvador a fim de evocar
a cooperação dos cidadãos soteropolitanos, levando uma mensagem de não
violência por meio da arte. “Ao doar essas peças, eu gostaria de
interferir na paisagem urbana de forma sutil, promovendo um encontro com a
beleza, a contemplação e a reflexão e, ao mesmo tempo, dialogando com os
motoristas e pedestres que transitam pelos locais nos quais as flores foram
‘plantadas’”, explica Ray ao iBahia.
Conheça mais sobre o artista
Para conhecer mais a respeito da fascinante veia artística de Ray
Vianna, conferindo sua biografia sucinta e seus trabalhos mais relevantes, acesse o site oficial na web: www.rayvianna.com.br.
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Ray Vianna