Caravana aproxima universidade e telejornalismo
Após circular pelo interior, comitiva da Rede Bahia aportou anteontem à capital para discutir linguagens e métodos jornalísticos
da emissora; encontro aconteceu na Unijorge para uma plateia basicamente
constituída por estudantes e professores da área
Da esquerda para a direita: Lídia Mabel,
Marcus Sampaio, Telma Verçosa, Genser Freire e Giácomo Mancini
Primeira caravana em Salvador foi trazida por iniciativa de Marcus (o segundo, da esquerda para a direita), também professor da Unijorge
(Foto:
Hugo Gonçalves)
Parte
do quadro de profissionais de uma das maiores redes de televisão do
Norte/Nordeste está peregrinando em universidades e faculdades do estado para estreitar
laços entre o mercado de trabalho e a comunidade acadêmica. Essa é a proposta
que norteia a Caravana de Jornalismo da Rede Bahia, cuja etapa de Salvador foi
inaugurada na manhã desta terça-feira (19), no Auditório Zélia Gattai, no campus do Centro Universitário Jorge
Amado (Unijorge), na Avenida Paralela.
Basicamente
vocacionada para estudantes e professores de Jornalismo e áreas afins, a
caravana circulou, até agora, por seis instituições de ensino superior do
interior baiano para discutir parâmetros inerentes à produção de telejornais diários e
programas semanais veiculados pela rede. O primeiro encontro do projeto em
Salvador foi promovido pela coordenação dos cursos de Comunicação Social da Unijorge,
em parceria com o videografista e editor de arte da TV Bahia, Marcus Sampaio,
que teve a iniciativa de trazê-lo para a capital.
Além
de Marcus, também docente da instituição, participaram da peregrinação universitária
mais cinco funcionários da emissora: o gerente de jornalismo Giácomo Mancini, a
editora de qualidade Telma Verçosa, o coordenador de operações de jornalismo e
editor de imagens Genser Freire, a fonoaudióloga Terezinha Torres e a estilista
Lídia Mabel.
O
objetivo inicial da Caravana de Jornalismo, de acordo com Giácomo, foi levar às
cinco emissoras do interior – TV São Francisco (regiões norte e nordeste), TV
Subaé (região de Feira de Santana e Recôncavo), TV Oeste, TV Sudoeste e TV
Santa Cruz (regiões sul e extremo sul) – a linguagem da rede, uniformizando sua
metodologia telejornalística. “A televisão deixou de ser apenas um emissor, a
gente passou a ser receptor de pessoas”, explicou. Em consequência disso, pontua o gerente, houve uma mudança de comportamento no público.
Segundo
Telma Verçosa, responsável pela qualidade das matérias exibidas pelo jornalismo
da Rede Bahia, todos os jornalistas que atuam no conglomerado saem do ambiente
acadêmico. Na acepção da editora, a linguagem televisiva vem se modificando
progressivamente, dialogando com a comunidade. A interação telejornalismo-cidadão
é observada, entre outros aspectos, pela exibição de matérias de serviço e de
denúncias, além de comentários enviados por telespectadores.
Os
comentários veiculados pela emissora, para Telma, buscam estritamente a
informação, e não a opinião. “A gente tem que fazer TV para a maioria das
pessoas, para o nosso público”, justificou. No que tange à linguagem, Giácomo
Mancini salientou que a Rede Globo, da qual a TV Bahia e demais emissoras da Rede
Bahia são afiliadas, realiza incansavelmente pesquisas qualitativas e
quantitativas. De acordo com ele, a linguagem “não é popularesca, pois a gente
está procurando uma forma simples”.
Da esquerda para a direita: Giácomo
Mancini, Genser Freire e Telma Verçosa
Conforme Telma (a
terceira, da esquerda para a direita), a
linguagem televisiva vem se progredindo em sintonia com a comunidade
(Foto:
Hugo Gonçalves)
Matérias
de telejornais
A comitiva trouxe ainda algumas reportagens originalmente veiculadas em noticiários da rede. Foram mostradas à plateia matérias sobre os transtornos de mobilidade na Via Regional, que liga os bairros de São Marcos a Águas Claras, passando por Cajazeiras; e na Baixa do Fiscal, importante ligação entre a Calçada e o Subúrbio Ferroviário. Ambos os vídeos incluíam denúncias de motoristas quanto à dificuldade de trafegar naquelas regiões de Salvador.
Elaboradas
respectivamente pelos repórteres Genildo Lawinscky e Ricardo Ishmael, essas
matérias fazem com que a TV exponha seu conteúdo de forma sensível, conforme
análise de um estudante. Outra reportagem que exige a sensibilidade do repórter,
também exibida no encontro, foi a comovente história de “seu” Antônio, morador
do bairro de Sussuarana, que luta para sobreviver catando lata e papelão, narrada
por Andréa Silva.
Também
foi exibida uma matéria de José Raimundo, repórter exclusivo da TV Bahia para
os telejornais nacionais da Globo, elucidando a recente polêmica em torno das
baianas de acarajé na Copa do Mundo de 2014. Genser Freire julgou fantástica a reportagem pelo fato de associá-las com as esculturas dos orixás
expostas no Dique do Tororó, no entorno da Arena Fonte Nova, onde a iguaria
será vendida durante os jogos. Conforme Telma Verçosa, os textos da matéria das
baianas, bem como a dramática matéria de “seu” Antônio, fogem dos chavões.
Reportagens
como essas mostram os fatos para que, posteriormente, os telespectadores espelhassem
sobre elas, obtendo suas próprias conclusões. “Para cada tipo de situação, a
gente está buscando um ponto de equilíbrio que deseja”, disse Giácomo. Segundo
o gerente de jornalismo, há, por trás do repórter, um conjunto da obra, que consiste
no cinegrafista, no operador de áudio, no editor de imagens e no chefe de
reportagem. “No local, o repórter é dono e absoluto senhor do que está fazendo”,
afirmou.
No
esporte, criatividade é fundamental
Criatividade
é um item imprescindível na linguagem televisiva, sobretudo no esporte. Telma
explica que esse aspecto prevalece no jornalismo esportivo como fruto da convergência entre características como diversão e humor. Um exemplo atual da irreverência no segmento é o
quadro Jair & Vicentino, descontraída alusão
aos dois maiores clubes de futebol do estado, o Bahia e o Vitória. Criado pelo
repórter Eduardo Oliveira, Jair &
Vicentino é protagonizado pela dupla homônima interpretada pelos atores
Guga Walla e Lucas Sicupira, respectivamente.
Merece
destaque outra criativa e diferenciada matéria produzida por Eduardo. Trata-se
de uma incrível abordagem do Ba-Vi sob a ótica musical, através da execução dos
hinos dos dois times pela Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), aproveitando um
ensaio no Teatro Castro Alves. No vídeo, veiculado na edição do Bahia Esporte datada de 20 de julho
deste ano, véspera de um dos principais clássicos do futebol brasileiro na
Série A, foi empregada a ambiguidade da palavra “clássico” logo na introdução.
Segundo
Giácomo Mancini, em decorrência do apelo inovador, “a edição de esportes é
completamente diferente do dia a dia, do factual”. O coordenador de operações
de jornalismo e editor de imagens Genser Freire ressaltou que, antigamente, as
matérias de futebol se valiam de uma linguagem peculiar da modalidade, denominada
“futebolês”, e hoje elas apresentam uma maneira bem distinta.
Mensagem telejornalística deve ser clara
e precisa, garante Terezinha Torres (a sétima, da esquerda para
a direita), fonoaudióloga da TV Bahia
(Foto:
Hugo Gonçalves)
Videografismo, vestuário e voz
Quem
teve a incumbência de discutir acerca do uso da arte na televisão foi o
videografista Marcus Sampaio. Conforme ele, o departamento de arte da TV Bahia, com a missão de produzir conteúdo gráfico objetivando esclarecer e agregar qualidade à empresa, se alicerça na estratégia da diferenciação e na própria lógica da Rede Globo, considerada muito melhor do que as concorrentes.
Marcus
ainda afirmou que os atributos da arte são a criatividade, a tecnologia para
potencializar o resultado e surpreender o telespectador e o foco em elementos
específicos. Na oportunidade, o videografista, que também é professor da
Unijorge, abordou os métodos de utilização do videografismo como ferramenta
explicativa da notícia, geralmente para fins estatísticos.
A estilista
Lídia Mabel ficou encarregada, na caravana, de explicar a importância do
vestuário para os repórteres e apresentadores. Com relação ao figurino na
televisão, Lídia disse que “TV é imagem, assim o visual do jornalista é
fundamental”. Já para a fonoaudióloga Terezinha Torres, o telejornalismo se
caracteriza pelo conteúdo, pela forma e pela emoção. “Contar histórias por uma
emoção adequada e por uma possibilidade”, conceituou.
Única
fonoaudióloga da TV Bahia, Terezinha assegurou que a mensagem telejornalística
deve ser clara e precisa. Naturalidade e espontaneidade também são elementos
essenciais para o telejornalismo, substituindo mecanismos artificiais de discurso
e leitura pela conversa, além do emprego dos recursos vocais – ênfase,
entonação, velocidade, pausa e ritmo. No encerramento da estreia da caravana em
Salvador não faltava interação com a plateia, quando estudantes da Unijorge
exercitaram a voz por tentativas ao lerem alguns textos extraídos de telejornais da rede.
Da esquerda para a direita, os membros
da Caravana de Jornalismo da Rede Bahia na Unijorge – Terezinha Torres, Lídia
Mabel, Telma Verçosa, Marcus Sampaio, Genser Freire e Giácomo Mancini – em um
auditório formado por interessados em cultivar a prática do jornalismo na televisão
(Foto:
Hugo Gonçalves)
Comentários
Eu como telespectadora,realmente só vejo o resultado de dois apresentadores,sendo que há uma equipe show de bola nos bastidores.