Amor pelo artesanato

Feira de Artes do Imbuí, cuja quarta edição termina na véspera do Dia das Mães, valoriza artesãos de outros bairros, divulgando publicamente seus trabalhos

Está acontecendo desde ontem, na Praça do Imbuí, a 4ª Feira de Artes do bairro, localizado nas adjacências da Boca do Rio. Realizada mensalmente pela Associação dos Artesãos da Bahia (Adaba), a feira é uma excelente oportunidade para que o artesão divulgue seu próprio trabalho para o público. A atual edição do evento, que homenageia com muito amor o Dia das Mães, encerrará neste sábado, dia 8, véspera da data dedicada a elas.

O objetivo da feira, conforme o secretário administrativo da Adaba, João Durães, 47 anos, é valorizar o artesão local em primeiro plano, oferecendo grandes oportunidades de comercialização dos produtos elaborados por esse profissional.

Segundo Nelvani Rodrigues, 44 anos, coordenadora de feiras da Adaba e uma das organizadoras do núcleo do Imbuí da entidade, a ideia de se organizar a feira no local surgiu há quatro anos, mas só foi concretizada em dezembro do ano passado. Sua primeira edição ocorreu justamente na mesma ocasião, em comemoração ao Natal. Além da festa cristã, a exposição é geralmente realizada em momentos que se aproximam de outras datas específicas, como o Dia das Mães e o Dia dos Namorados.

A consultora de moda Vânia Assis, 50 anos, explica que as feiras de artesanato são realizadas em outros bairros de Salvador através de convites de associações de moradores. Os produtos expostos na Feira de Artes do Imbuí são confeccionados pelos artesãos de todos os bairros da cidade e vendidos a preços que variam de R$ 5 até R$ 800, fazendo com que o artesanato se torne uma atividade que gera ótimos negócios. “À medida que eu ofereço meu trabalho e é bem aceito, ele se torna uma fonte lucrativa”, elogia Nelvani.

Exemplo de superação

O artesanato, além de ser uma importante fonte de renda para muitas pessoas, também é uma forma de superação de preconceitos. Um bom exemplo disso é encontrado nas obras da artesã Carla Maria Meirelles, 41 anos, mais conhecida por sua alcunha artística, Mariart. Ela se tornou deficiente física desde bebê, aos sete meses, quando sofria de derrame cerebral. Hoje, ela tem um ateliê de artes na Pousada Piatã, de propriedade da sua família.

Mariart conta como surgiu seu apelido. “Já que fazia parte do Mercado das Artes, em Piatã, tinha uma loja chamada Artemarias (que não existe mais), porque tinha uma sócia chamada Maria. E minha mãe é Maria Luíza. Aí, o povo me chamou de Maria, e minha mãe me apelidou de Mariart como nome artístico”, recorda a artista, que se profissionalizou depois de pintar por hobby.

“Eu faço baianas em porcelana fria, papietagem (sobreposição de papel) e papel machê e bandejas em papietagem”, diz Mariart, referindo-se a seus mais belos e bem-acabados produtos expostos. A artesã também pinta quadros e tecidos, e confecciona bijuterias, mosaicos e arte em papel, que é uma técnica bem diferente. Mariart planeja filiar-se ao Instituto Mauá, vinculado ao Governo da Bahia, pelo qual era convidada para um salão de artesanato.

Participando pela primeira vez

As imagens decorativas e sacras têm espaço reservado na feira. Todas elas foram elaboradas em gesso compacto pela artesã Inêz Cal Veloso Santana, 56 anos, participante do evento pela primeira vez. Seu marido, Lázaro Santana, 60, que não está presente, também é artesão, produzindo abajures, luminárias e oratórios com a cunca (cacho) do coqueiro e do licuri. Além de trabalhar com artesanato, Inêz faz restauração em diversos materiais.

Inêz, nascida na região espanhola da Galiza, veio para a Bahia com apenas um ano e três meses, em fevereiro de 1955, pois seus pais fugiram da fome provocada pela ditadura do generalíssimo Francisco Franco, que governou a Espanha naquela época. Bacharel em Ciências Contábeis pela Fundação Visconde de Cairu, Inêz trabalhava como administradora dos postos do Serviço de Atendimento ao Cidadão (Sac) nos shoppings Barra, Iguatemi e Litoral Norte.

De acordo com ela, cuja paixão pelo artesanato começou há quatro anos, sua importância de esculpir as imagens coube à sua necessidade de terapia e ao dinheiro, e cita os santos que deu forma às suas esculturas. “São Francisco, Santo Antônio, São Jorge, Nossa Senhora Aparecida. São os principais. Por ser católica, eu gosto muito das imagens. Foi o que me levou a escolher isso.”

Outra artesã que está participando pela primeira vez da Feira de Artes do Imbuí é a assistente administrativa aposentada Eunice Silva, 63 anos. Numa tenda montada na praça, ela vende inúmeros produtos que ela mesma confecciona, como colchas de crochê, organizadores para bolsas, lixeiras para carro, pesos e batedores para portas e toalhas para pratos.

O artesanato ecologicamente correto marca presença no evento, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do planeta, através de objetos confeccionados em garrafas de plástico Pet pelo catarinense João Telmo Aguiar, 54 anos, radicado na Bahia há 20. “Eu faço arte em garrafa Pet há dez anos, pois me preocupo com o meio ambiente. A feira é para a conscientização do ser humano, para que ele não jogue lixo na rua e separe-o em casa”, diz o artesão.

Além de Telmo, a arte elaborada através da utilização de materiais recicláveis não deve faltar na mesa do seu autor, José Santos Dantas, 52 anos. “Colaborar com a natureza também é um meio de adquirir economia”, conscientiza-se José, que fez flores e colares para expô-los na Feira de Artes do Imbuí.

Satisfeitos e realizados

Veterana na feira, participando de três edições, Elma Silva do Carmo, 53 anos, artesã há 17, trabalha principalmente com bonecas, cujo preço é diretamente proporcional ao tamanho, ao tipo do material e ao modelo. “Eu me sinto bem, satisfeita e realizada. A cada trabalho que eu faço, eu olho como se fosse o primeiro. Com entusiasmo e satisfação, me sinto realizada”, elogia Elma por sua permanente dedicação com o artesanato.

O técnico de manutenção do Edifício Ibiporã, no Imbuí, Cristiano Tourinho Silva, 26 anos, ficou maravilhado ao observar as esculturas de Inêz Veloso, em particular a mandala asteca, símbolo do México, feita em gesso compacto. “Isso é muito interessante”, admira Cristiano. E Inêz confia na belíssima obra que atraiu o jovem. “Dou garantia.”

A Feira de Artes do Imbuí não expõe somente artesanato. Portanto, há espaço garantido para a moda. Blusas customizadas, confeccionadas em malha com tecidos variados por Tereza Cristina Estrela, 57 anos, são vendidas, em sua maioria, por R$ 35, sob a etiqueta Estrela Veste, da própria artesã. As cores das blusas traduzem sensações que, segundo Tereza, são definidas por cada pessoa que vai comprá-la.

João Durães, da Adaba, diz que, para artesãos associados e não associados, é necessário pagar uma taxa de manutenção de custo (transporte, montagem, desmontagem e iluminação). O valor a ser pago pelos não associados durante os quatro dias da feira é R$ 50. Ele ainda prevê, orgulhoso, o sucesso do evento. “A expectativa é a melhor possível. Por ser a quarta feira aqui no Imbuí, que já terminamos de realizar, ela acaba no sábado. Já temos programado, aqui no Imbuí, a feira em comemoração ao Dia dos Namorados”, afirma Durães.

Serviço de Utilidade Pública

Evento: Feira de Artes do Imbuí

Período: 5 a 8 de maio (quarta-feira a sábado)

Local: Praça do Imbuí, entre o Conjunto Residencial Guilherme Marback e os shoppings Silver, Imbuí Center e Gaivota

Horário: 10 às 20 horas

Entrada franca

Realização: Associação dos Artesãos da Bahia (Adaba)

Contatos: (71) 4102-4786 / 9127-1517 / 8116-1477 / adaba.br@gmail.com

Comentários

BlogLazarts disse…
Parabens pela reportagem. Bem feita, bem escrita, elucidativa, fiel aos nossos depoimentos. Tenha certeza já és um jornalista, um jornalista consciente,caprichoso, batalhador, que faz de sua profissão uma arma para o bem social, para divulgar o que os grandes jornais e meios de comunicação não fazem. Ganhou muitos fãs na feira do Imbuí e ganharás muitos mais ao longo de sua bela jornada. Obrigada, abraços,
Inêz e Lázaro Santana (artesãos)