Excesso de açúcar em alimentos é fator de risco para pedras nos rins

Segundo estudo recente, consumo exagerado de produtos açucarados pode favorecer desenvolvimento de cálculos renais, como a doença é também conhecida

Hugo Gonçalves, jornalista (SRTE/BA 4507)

Salvador, 16 de agosto de 2023

Com informações do portal Gizmodo, da matéria exibida no Jornal da Tarde (TV Cultura) e do artigo objeto desta matéria

Atualizada em 17 de agosto de 2023, às 19h12


Açúcar adicionado está presente em certas bebidas e alimentos industrializados, como refrigerantes e doces
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Sinal de alerta para a nossa saúde: o consumo excessivo de açúcar adicionado em produtos industrializados pode contribuir para a formação de pedras nos rins. É o que revela um novo estudo, publicado na revista científica internacional Frontiers in Nutrition, no qual aponta a ingestão de alimentos açucarados como fator de risco para o surgimento de cálculos renais, como essas alterações no metabolismo também são conhecidas.

Enquanto a água auxilia no bom funcionamento dos rins, os refrigerantes, mesmo saborosos, desempenham exatamente o efeito inverso. Apesar de a indústria alimentícia adotar iniciativas que visem à redução dos níveis de açúcar, o artigo indica que a presença em altas quantidades do ingrediente em refrigerantes e demais bebidas e alimentos ultraprocessados – a exemplo de biscoitos, doces e achocolatados – é determinante para que a doença se desenvolva.

“Os cálculos renais são alterações metabólicas que acontecem no nosso corpo, que aumentam a supersaturação e cristalização de sais e minerais no nosso rim”, explicou a nefrologista Milena Vasconcelos, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, em entrevista à equipe de reportagem da TV Cultura.

A associação entre açúcares adicionados e pedras nos rins foi estabelecida por pesquisadores de instituições da China e da Suécia responsáveis pelo estudo, realizado a partir da análise de dados epidemiológicos de um universo de 28.303 mulheres e homens com 20 anos ou mais, residentes nos Estados Unidos. Tais informações tiveram como fonte a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição daquele país (National Health and Nutrition Examination Survey, NHANES, na sigla em inglês), feita entre 2007 e 2018.

Durante o horizonte temporal analisado, os voluntários norte-americanos relataram histórico de cálculos renais ou algum outro problema renal e hábitos alimentares. Já os pesquisadores da NHANES concluíram que os participantes que consumiram o equivalente ou superior a 25% da sua energia total em açúcares tiveram 88% mais chances de desenvolver a doença, do que aqueles que queimaram menos de 5% de suas calorias.

Esse último percentual, limite considerado adequado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), corresponde a 5 colheres de chá ou a 25 gramas de açúcar presente nos produtos industrializados. O estudo enfatiza o alerta dos impactos da ingestão excessiva e frequente da substância – principalmente da que é adicionada pela indústria em alimentos e bebidas – para os rins, cuja função primordial é filtrar o sangue, eliminando impurezas, excesso de água e outros resíduos desnecessários.

“Aqueles alimentos que são ricos em gorduras saturadas e açúcares adicionados têm uma densidade calórica, ou seja, o grama do alimento ultraprocessado é bem maior do que o grama do alimento in natura. Então, todos esses fatores causam o maior risco de obesidade, diabetes, alterações de perfil lipídico e outras doenças crônicas. E essas doenças, por si só, já são fatores de risco para o surgimento de cálculos renais”, salientou o nutricionista Alexandre Danton, de Fortaleza, à TV Cultura.

 

Problema de saúde mundial, pedras nos rins atingem cerca de 10% da população dos EUA e 5% da brasileira
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Entrevistas presencial e por telefone

O estudo recém-divulgado resultou de informações já coletadas a partir de duas modalidades diferentes de entrevista, que objetivaram garantir a qualidade dos dados. Na primeira delas, pesquisadores da NHANES haviam elaborado o questionário presencialmente, mas na segunda etapa eles tiveram que realizar entrevistas por telefone com os participantes no período compreendido entre 3 e 10 dias.

Em uma das perguntas, os estudiosos haviam questionado os voluntários se eles haviam ingerido açúcar puro (mascavo, branco, etc.), xaropes, dextrose, frutose, mel ou melaço nas últimas 24 horas. “O nosso estudo é o primeiro a relatar uma associação entre o consumo de açúcar adicionado e pedras nos rins”, frisou um dos autores do artigo, o pesquisador chinês Shan Yin, do Departamento de Urologia do Hospital of North Sichuan Medical College, ao News Wise, um fórum online de cientistas.

Os pesquisadores demonstraram ainda que os participantes que ingeriram alimentos açucarados, cuja taxa registrada era 25% mais alta da população analisada, tiveram 39% mais chances de desenvolver o problema. “Isso sugere que limitar a ingestão de açúcar adicionado pode ajudar a prevenir a formação de cálculos renais”, finalizou Yin.

Tendo como principais sintomas dificuldades para urinar, fortes cólicas, náuseas e vômitos, entre outros, as pedras nos rins são um problema de saúde recorrente no mundo todo. Nos EUA, onde os dados que embasaram o artigo foram coletados, a patologia acomete aproximadamente uma em cada 10 pessoas. Já aqui no Brasil, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) estima que cerca de 5% da população possam ser atingidos pelos cálculos renais.

De acordo com a nefrologista Milena Vasconcelos, a formação da doença envolve uma gama de fatores, inclusive de ordem genética e relacionados a comportamentos, sendo que estes podem ser ajustados. “Evitar consumir esses industrializados, como refrigerantes, aumentar o volume de água no nosso consumo do dia a dia. Nós recomendamos de 35 a 40 ml/kg de peso. Essa é a recomendação de ingestão hídrica diária”, aconselhou a médica.

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