Milton, um militante das minorias
Nobre
defensor das causas da pessoa com deficiência, especialmente da comunidade
surda, o professor Milton Bezerra Filho detém um itinerário de vida marcado por
sua perseverança contínua diante dos problemas que superou
Surdez
foi descoberta pelos pais antes mesmo de ele completar um ano: “Meus pais
sofreram muito”
(Foto: Márcia Araújo)
Reconhecido na área educacional, sobretudo na
instrução de deficientes auditivos, e engajado nas causas da comunidade surda
há quarenta anos, o professor Milton Guimarães Bezerra Filho faz da superação
sua característica marcante da sua trajetória de vida. Sempre venceu os
obstáculos e, diante deles, percorreu um caminho de lutas, conquistas e
vitórias.
Primogênito de uma família de cinco filhos,
Professor Milton, como é chamado, nasceu em Salvador no dia 20 de novembro de
1956. Antes mesmo de completar um ano de idade, foi detectada sua surdez, porém
ele nunca desistiu de superá-la. “Quando meus pais descobriram a minha surdez,
sofreram muito. Minha mãe não esperava e meu pai não aceitava”, lembrou.
Iniciou seus estudos em 1964, na Escola
Wilson Lins, especializada na educação de pessoas com deficiência auditiva,
onde fez seus primeiros contatos com a comunidade surda. De acordo com ele, a
educação é um processo social, podendo ser introduzida através do estímulo na
família. “Meu pai lia muito jornal e revista, e me incentivou a gostar de ler”,
disse.
Em julho de 1968, Milton e sua família se
transferiram para o Rio de Janeiro a fim de oferecer-lhe melhores condições de
ensino. Na Cidade Maravilhosa, estudou na Escola Santa Cecília, vocacionada
para alunos surdos.
Ao retornar a Salvador, em 1975, foi
matriculado na Associação de Foniatria da Bahia. Transferiu-se, posteriormente,
para uma escola de ouvintes. Entretanto, a instituição não incluía em sua
metodologia de ensino a língua brasileira de sinais (Libras). Em meio às
dificuldades de comunicação para frequentar as aulas, conseguiu a façanha de
completar o Ensino Médio.
“Quando os ouvintes se dispuserem a ouvir o
que os surdos têm a lhes dizer, principalmente sobre sua comunicação e cultura,
nós, surdos, nos tornaremos mais plenos e eficazes, possibilitando as mesmas
oportunidades que os ouvintes”, declarou o professor, que é pós-graduado em
Psicopedagogia.
No período
em que exerceu a presidência do Cesba, do qual fora um dos criadores, o Professor
Milton implantou o projeto Surdo e Sociedade
(Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
Em defesa de sua comunidade
Seus familiares lhe proporcionaram condições de estudo diferenciado e, graças a esse feito, passou a defender os direitos da comunidade surda, já que a realidade dessas pessoas continua sendo discriminatória. Nessa perspectiva, Milton Bezerra Filho participou, em 2 de julho de 1979, da fundação do Centro de Surdos da Bahia (Cesba), do qual foi presidente, eleito por unanimidade para o quadriênio 1992-1995.
Seus familiares lhe proporcionaram condições de estudo diferenciado e, graças a esse feito, passou a defender os direitos da comunidade surda, já que a realidade dessas pessoas continua sendo discriminatória. Nessa perspectiva, Milton Bezerra Filho participou, em 2 de julho de 1979, da fundação do Centro de Surdos da Bahia (Cesba), do qual foi presidente, eleito por unanimidade para o quadriênio 1992-1995.
Nesse período, o Professor Milton implantou no
Cesba o projeto Surdo e Sociedade, além de apoiar o projeto Surdos no Mercado
de Trabalho, entre outros programas de valorização e incentivo às pessoas
portadoras de deficiência auditiva.
“Apesar dos avanços legais e tecnológicos, a
sensação que temos quando encontramos uma pessoa com deficiência são
sentimentos e posturas de pesar, e o agente transformador dessa realidade será
uma verdadeira mudança na educação. Novas concepções e algumas práticas estão
emergindo no fazer de gestores e professores, mas ainda não se constituem como
um todo homogêneo e sim multifacetado e em construção”, enfatizou.
Estimulou sua categoria social na prática de
esportes, sendo um dos fundadores da Confederação Brasileira de Desportos de
Surdos (CBDS), em 1984 – quando exerceu o cargo de membro do Superior Tribunal
de Justiça Desportiva (STJD) –, da Confederação Sul-Americana Desportiva dos
Surdos (Consudes), em 1985, e da Liga Nordestina Desportiva de Surdos (Lindes),
entre outras realizações significativas.
Primeiro pedagogo surdo na Bahia, Milton
também é um dos incentivadores do projeto Surdo É Cidadão, idealizado por sua
esposa, a psicóloga Márcia Araújo. Contemplada no ano passado com o 5º Prêmio
Servidor Cidadão, do governo do estado, no qual faturou o quarto lugar, a
iniciativa promove a cidadania para as pessoas surdas e valoriza os aspectos
culturais e identitários dessa minoria social.
Ao
cursar Pedagogia em Educação Especial, o docente retornou um grande desejo de
sua vida, a fim de trabalhar com a comunidade surda
(Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
Um profissional dedicado
O itinerário profissional de Milton Bezerra
Filho, um homem exemplar, corajoso e batalhador, se iniciou em 1981, quando foi
admitido na Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb).
Pelo fato de militar continuamente na luta pelos direitos dos surdos, ele
sempre busca, junto à comunidade e à sociedade, o aprimoramento na implementação
das políticas públicas direcionadas à sua área.
Em 1989, Milton recebeu da Federação Nacional
de Educação e Integração de Surdos (Feneis), no Rio de Janeiro, a primeira
autorização para lecionar Libras. No ano 2000, realizou o sonho de ingressar no
ensino superior, a princípio no curso de Ciências Contábeis das Faculdades
Integradas Ipitanga (Unibahia), em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de
Salvador, onde adquiriu novos horizontes.
No entanto, em 2001, ele ultrapassou mais um
obstáculo. Teve a oportunidade de se mudar para outro curso, Pedagogia em
Educação Especial – concluído em 2006 –, por ser compatível com sua maior bandeira
de luta. “Retornei um grande sonho da minha vida: cursar o ensino superior para
trabalhar com a comunidade surda, buscando desmistificar mitos e quebrar
preconceitos”, salientou.
Mais duas relevantes vitórias foram alcançadas
pelo professor naquele mesmo ano. A Feneis o indicou para participar do curso
de instrutor de Libras, oferecido pelo Ministério da Educação (MEC), responsável
por implementar políticas públicas nessa área. O MEC também o certificou como
instrutor de Libras do estado da Bahia.
Acadêmico
Após terminar a graduação, Milton se tornou
docente de Libras em diversas instituições de ensino superior, como a Faculdade
Evangélica de Salvador (Facesa), na qual foi o primeiro professor surdo, e o
Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), onde leciona atualmente em alguns
cursos de graduação. Além da Unijorge, ele dá aulas nos cursos de pós-graduação
da Associação Classista de Educação do Estado da Bahia (Aceb).
Professor
Milton (o segundo, da esquerda para a direita) tem contribuído na conquista do passe livre
no transporte coletivo intermunicipal
(Foto: Márcia Araújo – 15/12/2011)
Milton, também presidente do Centro de
Estudos Culturais Linguísticos Surdos (Ceclis), é convidado para ministrar
cursos de Libras e palestras inerentes à acessibilidade das pessoas surdas,
além de participar de discussões que visam à implementação das leis pertinentes
às questões que envolvem a educação dos surdos. “É com educação de qualidade, com
profissionais treinados, que vamos tirar a pessoa com deficiência da
obscuridade educacional”, destacou.
Por ter acumulado homenagens ao longo de sua
trajetória, principalmente pela sua colaboração determinante junto à comunidade
surda no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida e da educação, o
professor é um militante determinado no intuito de fortalecer os direitos de
sua categoria através de políticas públicas. Isso fará com que os direitos
adquiridos sejam cumpridos, somados à redução do preconceito e da
invisibilidade dentro da sociedade.
Conforme Milton Bezerra Filho, o maior
desafio do surdo, indivíduo classificado como diferente e que enfrenta traumas
e dificuldades peculiares, é combater o preconceito social. “A linguística do
surdo é minoria. A maioria das pessoas em nossa sociedade não tem interesse em
aprender uma linguagem complementar para uma melhor comunicação entre as
partes”, afirmou.
Milton (à
direita, ao lado da vereadora e candidata a deputada estadual Fabíola Mansur) se filiou ao PSB pelo fato de a legenda
possuir projetos condizentes com seus ideais
(Foto: Reprodução/Facebook)
Engajando-se na política
Na qualidade de militante político, o Professor
Milton herdou do pai, o falecido jornalista e advogado Milton Guimarães
Bezerra, ex-diretor-geral do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), um dos fundadores
do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e presidente do partido durante o golpe
militar de 1964, duas de suas virtudes: a perseverança e a determinação para a construção
de um futuro melhor.
Homem de ideias convincentes, filiou-se ao
PSB por entender que a legenda possui princípios e compromissos condizentes com
seus ideais. “Tenho vocação política e milito pela causa dos surdos desde 1974.
Além disso, desenvolvo ações de formação política para surdos com o ideário
socialista dentro do PSB”, justificou o docente, que concorre a uma vaga na
Câmara dos Deputados nestas eleições.
A candidatura do Professor Milton, por
representar o movimento das pessoas com deficiência, tem como propostas a luta
pela criação da lei que assegura a presença de um intérprete de Libras em todas
as etapas do processo de aquisição da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do
surdo e da Comissão Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, entre
outros projetos que lhes trarão benefícios.
“Chega de estar fazendo parte das construções.
É necessário inserir uma representação no Poder Legislativo, assim como outros
grupos já os têm. Eu tenho competência para representar as pessoas com
deficiência nacionalmente e agora temos a real possibilidade de colocar um
representante no poder”, esclareceu, acrescentando que é preciso se unir em
prol da conquista dos direitos dessa minoria, considerada um objetivo supremo.
O ideal do candidato está centrado num
compromisso forte e numa luta interminável. Por intermédio desses atributos,
muitas pessoas defensoras da igualdade social se agregaram a Milton, a exemplo da
senadora Lídice da Mata (PSB), candidata a governadora da Bahia, que o conhece
desde os tempos em que atuaram nas mobilizações pelas ruas. Para ele, o fato de
Lídice estar à frente do PSB baiano pesou na sua decisão partidária.
Várias pessoas se agregaram ao Professor Milton, como a senadora Lídice da Mata (à direita), que o conhece desde os movimentos de rua
(Foto: Márcia Araújo – 02/07/2014)
Contatos com o Professor Milton:
E-mail: miltonbezfilho@hotmail.com
Facebook: Milton Bezerra Filho
Comentários
Este é meu candidato.