Tempos, sonos e sonhos

Sair do concreto para o abstrato delineia minhas horas de sono, esnobando a dimensão do cansaço ou o grau preventivo do descanso. Ao mergulhar no meu quarto pigmentado de uma vivacidade jamais obtida, entre fantasias e factualidades implicadas em toneladas de apetrechos, o passaporte executor de espectros imaginários é a própria cama. Claro que ela demarca um cenário ilusório em mim, fragmentável em imagens não estáticas. Tijolos e ladrilhos de fixações do dia a dia, entre noites e madrugadas, são cimentados no celeiro cerebral. Prenúncio despertador.

O uso não muito intermitente do computador portátil, com parcos intervalos periódicos e o jantar tardio causaram-me grandiosas ameaças quanto ao gerenciamento controlado do tempo exato. Foi assim, ao examinar a ausência nas suas valiosas solicitudes, que encerrei minha dormência por oito horas seguidas – e ultrapassadas – proporcionadas pela prorrogação do meu sono. Pressionando meu telefone celular multifuncional para cima, descobri, enfim, que me atrapalhei no horário das aulas. Reparei a repulsa parcial na rotina convencional, anomalia criadora de reviravoltas e de transeuntes. Eram 6:39 de hoje quando o inesperado aconteceu.

Em paralelo ao débito diário da jornada estudantil, progredi-a linearmente com a lembrança de que acordava silenciosamente depressivo e cabisbaixo. Cabisbaixo porque perdi uma parte transitória entre a madrugada e o amanhecer, na qual eu desperto, espanto minha preguiça corporal e mental e saio da cama, onde preencho o sonhador ciclo de dormir. Afirmo e confesso que não fui vítima de distúrbios cessadores do sono, como insônia, apneia ou sonambulismo. Sofri, só hoje, perda de horário ao levantar-me de um móvel doméstico aconchegante onde de leve me liberto da exaustão corriqueira.

Não sou programado para comparecer às aulas nos quatro dias semanais nem tampouco frequento-as de maneira pontual, admitindo semelhanças entre membros carnais-espirituais e membros biônicos. Diz o antigo ditado que a pressa é a inimiga da perfeição – até em situações espinhosas ou excepcionais, como meu atraso desleixado na mobilidade em ir à faculdade. Preocupado com a redução nos primeiros minutos de aula, falha na qual fui paciente e consegui, por ser sereno, desvencilhar-me dela, sem mágoa e revolta. Exorcizo ressentimentos no caldeirão vibrante, embasando-me na premissa do dispêndio de negatividades. Banho-me em águas cristalizadas enquanto recebo promessas vãs.

Obedeci e fui fiel ao tempo corrido, embora esteja subtraído devido a um contratempo. Em conexão, sinergia e sintonia com o noturno dos últimos instantes, administrarei minha temporalidade e o desprezo costumeiro, prevalecendo a clarividência e os cuidados. Hoje, amanhã e em todas as ocasiões úteis, serei o cativo genial da consecução diária, submissão essa uma das controladoras da alma. Dia que, por pouco, não foi desconcertante nas entrelinhas cronológicas.

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