Salvador, 461 anos de feliz cidade

Hoje, 29 de março de 2010, faz 461 anos que o fidalgo português Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil, nomeado pelo rei D. João III, desembarcou na capitania hereditária da Bahia de Todos-os-Santos para fundar a primeira capital da então colônia de exploração. A cidade de São Salvador da Bahia foi fundada e construída numa localização estratégica e privilegiada, entre a Baía de Todos os Santos e o Oceano Atlântico. Suas primeiras construções, projetadas e supervisionadas pelo arquiteto Luís Dias, eram erguidas em taipa e barro batido, na área que corresponde atualmente à Rua Chile, à Praça Tomé de Souza e à Ladeira da Misericórdia.

A cidade do Salvador, por ser uma das primeiras cidades do país, guarda até hoje muitos resquícios da presença dos colonizadores portugueses, em sua maioria tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Dentre eles estão o Centro Histórico, ou Pelourinho, a Câmara Municipal, o Mosteiro de São Bento, as fortificações, as igrejas, os conventos e a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, primeiro hospital brasileiro. A Câmara Municipal de Salvador, fundada três meses após a criação da cidade, hoje sede do Poder Legislativo, surgiu como Casa de Câmara e Cadeia. Por outro lado, a Santa Casa era, até meados do século XVIII, o único hospital do Brasil em funcionamento.

O grande contingente de afrodescendentes na população soteropolitana originou-se ainda no Período Colonial, no século XVI, quando foram trazidas, diretamente do continente africano, as primeiras levas de negros como escravos para serem comercializadas e traficadas simultaneamente em todo o território brasileiro. Hoje, Salvador é a maior cidade fora da África que possui a maior população negra e parda, no entanto o chamado "ouro negro" continua sendo discriminado pelos brancos, fenômeno conhecido como racismo ou preconceito racial. Numa sociedade como a nossa, negros e brancos não devem ser humilhados e, sim, respeitados entre si.

Sua topografia é acidentada, com morros, ladeiras e becos convivendo com as ruas e avenidas de vale. Devido à sua topografia, a capital baiana foi dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa. A primeira é banhada pelo Oceano Atlântico e apresenta a maior parte dos bairros; e a segunda é banhada pela Baía de Todos-os-Santos, importante ligação entre a cidade e a Ilha de Itaparica, cuja travessia é feita pelas embarcações do sistema ferry-boat e pelas lanchas. O encontro entre a baía e o oceano está no Farol da Barra, uma das atrações turísticas, onde atualmente é instalado o Museu Náutico da Bahia, que possui informações históricas sobre a navegação.

Atualmente, Salvador é a terceira maior metrópole do Brasil em população, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. Esse crescimento foi possível devido, entre outros fatores, ao seu desenvolvimento econômico, com a diversificação das atividades; à sua expansão urbana, com as transferências do centro político estadual do Centro antigo para uma nova área às margens da Avenida Paralela, o Centro Administrativo da Bahia (Cab), e do centro econômico do Comércio para a Avenida Tancredo Neves; e a ampliação do seu sistema viário. O metrô de Salvador, implantado há dez anos, continua um problema devido à lentidão das suas obras, que leva ao constante atraso. Portanto, não se passa de uma promessa.

O desenvolvimento urbano, assim como ocorreu em outras grandes cidades brasileiras, sempre foi desordenado. As causas que levaram a essa falta de planejamento foram o seu crescimento espontâneo, com a ocupação desordenada, principalmente nas avenidas e na periferia. Isso, portanto, teve como consequência a poluição ambiental, caracterizada pelo lançamento de esgotos em canais, pelo desmatamento da Mata Atlântica e pela contaminação das águas pela ação humana. Preservar o nosso meio ambiente é fundamental para a nossa qualidade de vida.

Muitas desigualdades sociais ainda persistem na capital baiana. O desemprego, a fome, o analfabetismo, a miséria, o trabalho infantil, a criminalidade e a mendicância não são problemas exclusivos dos bairros populares, inclusive a periferia, pois também mancham suas belas e exuberantes paisagens, incomodando os soteropolitanos e os turistas que por aí passeiam. Tratam-se de empecilhos que barram o nosso progresso social. Vale lembrar que Salvador ocupa o segundo lugar em desemprego, perdendo somente para o Recife, permanecendo, assim, com as preocupantes colocações em geração de emprego e renda.

Mesmo com todos os problemas socioeconômicos, Salvador é considerada um dos mais importantes polos artísticos e culturais do país. Construções de diversos estilos arquitetônicos e épocas espalhadas pelo centro, museus, galerias, teatros, bibliotecas, arquivos históricos e o nosso Carnaval, que é a maior festa de rua do mundo, fazem da nossa cidade um lugar maravilhoso para se divertir e resgatar os fatos históricos da civilização baiana e brasileira. Ela está completando, hoje, 461 anos de muita história, com sua riquíssima e fantástica diversidade sociocultural. Temos orgulho de sermos soteropolitanos de corpo, alma e coração, com certeza.

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